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quarta-feira, setembro 30, 2009

segunda-feira, setembro 28, 2009

A tua é a minha


É mais do que um momento. Mais do que um instante prolongado pela eternidade. É mais do que uma coisa sem sentido, como se todo o universo conspirasse a nosso favor. É muito mais do que sorrir sozinha, tímida, envergonhada. É rir alto para partilhar a alegria, chamar a atenção pelas melhores razões. É intimidar os outros, num primeiro momento, por ficarem assustados com a estridência do gargalhar. E depois levar-lhes à boca um sorriso que num instante se transfigura numa gargalhada presente. E partilhada.
Apetece mais.

Da evidência

Esqueço-me que os teus dias passam sem pensares no que farás amanhã. Como se o futuro fosse uma coisa tão longínqua, como se o amanhã fosse o tempo que nunca chega, a meta que não se pode cortar, a vida doutros que não posso viver. Impressiona-me que penses que a única coisa que importa é hoje, que me digas que o ontem já era e que o amanhã nunca chegará. E já agora, perturba-me que insistas em dizer-me que o mundo não chega para todo o amor que sentes por mim. Porque tu não és mais do que a evidência de que há coisas que nunca chegam às nossas mãos, porque nunca quiseram ser nossas. E isso diz tudo. Nem precisa de mais palavras. Evidentemente.

segunda-feira, setembro 21, 2009

quinta-feira, setembro 17, 2009

Chegar

Já era noite quando pôs a chave na ignição e a rodou. O motor ligou-se de imediato, apesar da temperatura baixar de dia para dia. Todos os dias. Estava a chegar o outono, pensava. Como o tempo passa. Naquele dia não apetecia ir directo para casa. Apetecia-lhe fugir do hábito. Não queria sentar-se frente à televisão, descalçar-se, o zapping do costume. Carteira ao colo, dar uma volta aos papéis, passá-los para a lista de contactos, separar os recibos da gasolina dos das refeições. Passar pelas brasas e acordar sobressaltado, meia hora depois, pensando na estupidez de não ter ligado o despertador. Levantar-se de rompante, como se o tempo lhe tivesse atacado a alma, encher a taça de sopa e pô-la a aquecer no microondas. Ali, sentado no banco do carro, não lhe apetecia pensar no que fazer para o almoço de amanhã. Não tinha vontade de cafés corriqueiros, nem de matar saudades dos amigos que deixara de ver por falta de tempo. Faltava-lhe mais do que tempo para os outros. Aumentou o volume do rádio. Estava sem vontade de ouvir notícias. O acidente de Penafiel. A reeleição na comissão europeia. A chuva prevista pelo instituto de meteorologia. Sussurrou uma coisa que nem percebeu bem o que era. Apetecia-lhe fugir daquele corpo, ser outra coisa, ter tempo para observar quem era. De fora. E depois, de um momento para o outro arrancou. Marcha atrás rápida. Decidida. Como se todos aqueles momentos fossem vãos face à vontade de conhecer-se. Acelerou a fundo. O fumo negro no tubo de escape gasto. E a cabeça inclinada para trás. Sem a contrapressão do pescoço. Mão no volante, mão nas mudanças, mão no cabelo, mão na mão. Sorriu ao espelho retrovisor e parou na entrada da rotunda, à espera de prioridade. As luzes reflectiam os faróis a passar, um atrás do outro. Sem pressas, arrancou. Pedal moderado. Pedal a fundo. Fundo pedalar. Seguiu, pelo caminho, sem olhar a combustível, a tempo, a horas, a espaço, a pensamentos. Esvaziou a cabeça, esqueceu a realidade. Passeou pela cidade, num instante que só deu para perceber que tinha saudades suas. Matou-as de um trago. Não fosse o tempo acabar.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Sobre o regresso

Olho para ele de baixo. Ele do alto dos seus 40 e tais, e do alto dos meus dez. Separam-nos centímentros, mas não são essas as diferenças que mais me preocupam hoje. Deixa-me nervosa o à vontade com que fala aos olhos atentos e expectantes. Fascina-me a fluência das palavras, a cadência da voz, e a simplicidade das frases. Límpidas como as dos livros infantis que já leio sem dificuldades, com as letras bem gordas e sem piadas que exijam grandes raciocínios. Embora conheça os cantos à casa, parece-me hoje que não sou de cá. Há uns meses, esta parte era-me interdita. Não podia passar da porta de metal com vidros pequenos. Agora, de repente, mudou o hábito, sem sequer me dar conta. E elas dizem que o tempo passou rápido, lembram-se da fotografia do primeiro dos primeiros dias. Pouso a cabeça na mão, pesa-me a pressão do cotovelo em cima da mesa. De soslaio, lá as vejo, sempre atentas a mim. E no espaço entre este pensamento e o sorriso seguinte, houve regras de conduta a respeitar, planos de contingência, regras de funcionamento. E este bocadinho passou rápido. Vou num instante arrumar a mochila e dormir.

terça-feira, setembro 08, 2009

Inverso

Estou farta de falar de mim quando nos encontramos virtualmente. Perguntam-se as novidades e nunca há nada a dizer. Ou há pouca coisa, que nunca ficamos muito tempo sem conversar. E quando há novidades és a primeira pessoa a saber que isto ou aquilo aconteceu, por isso nem sei porque perguntas como estão as coisas ou como ando. Sabes tão bem como eu a maneira como me afectam estas perguntas que não esperam uma resposta esperada. Antes uma resposta que queres ouvir. Estou farta de ter de confirmar que estás bem, como se de mim dependessem as tuas acções. Pões-me nos ombros as escolhas que fazes depois de muito pensar, e cansa pensar que só ages depois de saberes que não vou levar a mal. Mas sabes que assim, até as surpresas deixam de fazer sentido. Prefiro que deixes as preocupações de lado. Sugiro que guardes os vacilos para quando eu estiver longe de ti. Será mais fácil explicar-te à distância, as razões do meu afastamento e a velocidade avassaladora com que me desencantei em relação a ti. E agora, faz-me um favor e fala um bocado de ti, que estou farta da minha assertividade. E deste sorriso estúpido nos lábios.