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terça-feira, janeiro 26, 2010

Paris

Estava fria. Chuvosa. Nostálgica. Preferia ter-me lembrado num dia de sol. Ou numa esplanada aquecida, com um capuccino na mão. Ou debaixo de um calor abrasador. Ou então, não me ter lembrado, de todo. Não fazes falta agora. O que passou, passou.
E Paris continua linda.

terça-feira, janeiro 19, 2010

Ao sétimo dia.

O que eu dava para estar lá, para ir para lá. Para assistir, para reportar, para ver e contar as histórias. Para as poder escrever duramente. Para perceber o que é assistir à perda sem nada poder fazer. Para doer no coração a falta de água, para dar valor ao que tenho, ao que tive, ao que não tive, ao que ainda hei-de ter. O que eu dava para poder ir sem pestanejar. Para ajudar. 75 mil mortos oficiais. Desaparecidos. Caras que nunca mais se verão. Nunca mais serão beijadas. Corpos que nunca mais serão abraçados. Conversas perturbadas pelo espirro arrebatador de uma terra a que chamavam casa. E agora, ao sétimo dia, nada mudou. As caras são as mesmas. As dúvidas as mesmas. Só os números mudam. Acumulam. Morte. Morte.
Há uma semana o meu pensamento estava aqui. O que eu dava para o escrever. E o que eu dava para nunca ter podido escrevê-lo.

Do dia seguinte

Olhei-me ao espelho ainda não era de dia, e os olhos, encovados, quase desapareciam na cara. Olhei-me mais uma vez, e nem uma alteração, uma pequena diferença, um sinal que me desse a ideia de quem era aquela ali defronte de mim. Face àquela cara, corri contra os atrasos pouco habituais e comi devagar, com a calma de quem levantou o rabo da cama um pouco mais cedo para despertar com calma. E que adiou depois o despertador, de maneira a estoirar os minutos que sobravam naquele vale dos lençóis quentinho que tanto ajuda nos pensamentos. Expliquei-me num ápice o que tinha de ser hoje. No dia seguinte ao dia que se seguiu à véspera. Mas o sentido prático das coisas sobrepôs-se à confusão de dias. Deixei-me apressar pelos ponteiros velozes do relógio e sentei-me. Acomodei-me aquel aconchego quente. Esperei pelas torradas. Nada de novo. Valeu-me a vontade para contrariar o peso dos olhos. Os olhos pesaram no dia seguinte, como se tivesse dormido muitas horas. Ao contrário. Não dormi. À insónia juntou-se naquela manhã um dia que acabou a dançar. Tal como eu pedi.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Do dia

Vou acordar cedo como gosto e vou correr para não me atrasar. Como sempre. Com sorte, vou conduzir sem ter de parar nos semáforos, que o caminho faz-se a caminhar. Quero que não chova hoje - que eu não gosto nada de chuva - sobretudo em dias especiais. E hoje é um dia assim. Pego em mim e corro depressa, como sempre, numa vida que é quase uma acelera que não falha a marcha, mesmo que às vezes se meta por becos sem saída. E quero que o dia seja assim perfeito, que não quero aborrecer-me com coisas sem importância. Quero escrever. Escrever muito. Cansar-me de escrever, descansar de escrever, e redescobrir-me a escrever. Quero olhar para as coisas e sentir-me dentro delas, num aquário do qual me alimento e do qual depende a minha sobrevivência. E depois quero ler as palavras e sentir-me ali, rever-me nos substantivos, nos verbos. Nos sujeitos e nos predicados. Quero deixar a minha marca nos dias que vivo, nas vidas que passam por mim. E deixar-me aí, nesses lugares, é deixar as história dos outros em mim fazer história nos recantos que percorro, tantas vezes apenas em imaginação. Que eu sou louca por viagens. E sinto que o mundo é um sítio que merece ser descoberto e descrito letra a letra. Que é como quem diz, lugar a lugar. E entre as letras, vou receber palavras engraçadas, abraços apertados. E vou ter saudades dos que não me ocupam os dias fisicamente, ou dos outros ainda que as horas teimaram afastar. Quero - depois de tudo isto - merecer dançar. Muito. Rodopiar em cima do meu corpo. E esperar activamente que esta coisa do aniversário me passe. Que isto de ser um dia especial meio camuflado no meio de um dia normal, deixa-me algumas dúvidas.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Do dia de véspera

Falava-te eu das minhas coisas. De como sou perfeccionista, e mal-humorada (às vezes) e antipática à primeira vista. Falava-te de como tive a sorte da tolerância dos que me rodeiam. A sorte de me cruzar com as pessoas certas. A graça de me rir dos meus disparates. De como penso em coisas tão diferentes enquanto conduzo, da rapidez com que entretanto olho para o relógio no tabeliê e mudo instantaneamente a estação de rádio porque me apercebo que é hora das notícias. Ou então da maneira como grito alto pela música que aumento para o máximo na rádio. E sorrio enquanto bamboleio os ombros de um lado para o outro, como se estivesse metida numa pista só minha. Falei-te das coisas tal qual são. E do que nem sempre é o que parece. De como sou tão casmurra e da maneira como num instante peço perdão e corro a emendar erros que detecte. Por mais pequenos que sejam. Porque são meus. Sou sempre tão pragmática que invejo às vezes dos desaustinados, sempre tão despreocupados e tão sem peso nos ombros. Mas decerto não os invejo mais do que invejo os pássaros e a visão que não falha, que podem ter vistas panorâmicas a qualquer momento. Por mim andava sempre a sobrevoar Lisboa que adoro, cidade poema. Apaixonante. E sou imperfeita, bem sei. E gosto. É avassaladora a maneira como o meu coração acelera o "passo" quando falo dela. Só nunca posso comparar esse batimento ao que sinto quando penso em ti, pequena Mi. Que fazes parte de mim. És a minha cabeça, o meu corpo, o meu coração. E se algum dia me faltas, faltar-me-ei eu também, tal como as letras que teimo em escrever todos os dias naquela sala enorme e iluminada que me colora os dias. E onde eu pinto as linhas de realidade. E observo com cuidado as imagens que não sei captar. E analiso com olhos de cirurgiã os espaços vagos naquela folha de agenda demasiado cheia e às vezes tão vazia. Sinto-me como se a vida ainda estivesse toda por viver. E é essa a esperança que me preenche hoje. Na última noite destes 24 anos. Passei-a a escrever, como gosto. E a pensar baixinho para não acordar ninguém. Que gosto pouco de dar nas vistas por estas coisas pequenas. Mas só me calo - que já sabes - sou tagarela que dói - se me prometeres que, como prenda para os 25, me dás uma hora a mais em cada dia. É justo, vá lá. Foram 24 anos da minha vida a (sobre)viver com dias de apenas 24 horas. Dava-me um jeitaço.

terça-feira, janeiro 12, 2010

hey babe, take a walk on the wild side. let's take a walk on the wild side.

Don't be shy. come with me. let's take a walk.

80 tentativa #3

Queria ter-te escrito estas linhas a tempo de tas poder ler alto na festa daquela noite de dia 8, mas escapou-se-me o tempo, e a imaginação. E sobretudo, apoderou-se de mim o medo de não estar à altura de palavras tão especiais, que pudessem descrever-te bem. Por isso escrevo atrasada. Por isso pensei estas letras - insuficiente mas duramente. Por isso vou ter cuidado com os caracteres, começar de mansinho, e de uma maneira que me distinga de ti. O atraso. É esse que nos distingue hoje. Nunca te atrasarias - ao longo dos teus 80 anos - para entregares uma prenda de anos, muito menos se essa prenda dependesse unicamente de ti. A gestão do teu tempo é perfeita, sobra sempre para mais uma viagem, para outro telefonema, para perguntares se está tudo bem? se já jantaram? ou se já chegaram?.

Escrevo-te todos os dias um pouco aqui, quando não te escreves tu em mim. Sei que herdei de ti tanto do que sou e aprendi outro tanto de ti também. Que, de tudo o que sou e de todo o resto que julgo ser, nem sei o que de ti veio e o que vinha comigo de origem.

Queria primeiro agradecer-te tudo aquilo que nos dás, todos os dias. Vai ser sempre bom lembrar-me de ti, porque de ti não ficam senão as palavras doces e preocupadas, os telefonemas em contínuo, e as surpresas. Escreves em poesia, falas em prosa, sentes tudo de uma maneira especial. E consegues demonstrar todos os dias que, por mais que a vida teime em mostrar o quanto pode ser azeda e madrasta, há sempre o açucar que pode encarregar-se de adoçar os dias mais amargos. Mexe os cozinhados com empenho e amor, como sempre tens feito. Aposto que guardaremos sempre connosco o teu dedo para a culinária, mesmo que mais 80 anos passem.

80 tentativa #2

Todas as palavras do mundo não chegariam - ou talvez uma apenas chegasse - para descrever o impacto que tens nas nossas vidas.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

80 tentativa #1

Não consegui (ainda) escrever-te aqui.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Electrodomésticos

Conheci-te debaixo de uma nuvem carregada de chuva, num dia sombrio de céu cinzento e de muito vento. Tinhas vestido um anorak branco que era um prolongamento da tua pele pálida e sem graça, que eu teimo em não apagar da memória. Como se fosses assim tão especial. Como se as tuas piadas me fizessem rir, apesar de não falarmos há tanto tempo e de já nem recordar o teu nome. A memória passa-me assim estas rasteiras, enquanto folheio as frases que escrevi só para que lesses aquilo que me passava pela cabeça e que nunca conseguiste decifrar-me nos olhos, apesar de teres lido todos os livros de instruções. Nunca percebeste que teres-me a olhar para ti não significava que eu fosse tua. E a receita para me entenderes era abrires o coração.