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quinta-feira, março 25, 2010

Sei lá

Não sei se grite ou se sorria de nervoso. Não sei que faça perante este irritante alvoroço. Não sei que faça agora. Se rio ou se choro. Se guardo para rir mais tarde, se vivo agora para não esperar. Não sei que faça - sinceramente. Se corra rápido ou disfrute lentamente. Que isto de fazer no momento pode ser anseio, pode ser tormenta, pode ser porque sim. Não sei - realmente que faça - de mim, de ti, de nós. Sei que estou baralhada, cansada, gasta. De pensar sempre e tanto. E permanecer. A sós.

segunda-feira, março 22, 2010

sábado, março 20, 2010

Floripa

Havia lá um calor bom, daqueles que aquece a pele só do contacto, mal se sai do avião e o ar condicionado desaparece. Era assim calmo como a infância, de uma calma que se torna hábito tão rapidamente como nos habituamos a qualquer coisa boa e de que sentimos que sempre estivemos à espera. Havia lá muito verde, entre montanhas, florestas, t-shirts e havaianas, com a bandeira do Brasil. Havia obras em Copacabana, e no Leblon, e no caminho para o aeroporto Tom Jobim - e como me encantou o nome do aeroporto - que preparam o país para o que aí vem e para tudo o resto. É um povo virado para o futuro, pessoas preparadas para receber. Contaram-se histórias de produção de ostras na casa-trabalho da dona Gioconda, e do Niemeyer e de uma cidade que ele não construiu. Contou-nos a Helena, que nos recebeu entre doces e chás quentes e frios. Numa pasta, entre capas de plástico, contou-nos a história de um projecto feito e desenhado ao pormenor, e que só o pai dela cumpriu. E disse-nos que a pele pendurada na lareira da pousada dos Chás fora trocada, em tempos, por uma garrafa de chachaça brasileira, numa caçada em que o negócio foi feito entre o tio dela e índios. E depois metemo-nos mais uma vez na carrinha do seu Octávio - nem sei quantas vezes nos metemos naquela carrinha - e seguimos um caminho que parecia que não acabava nunca mais. E foi um amor que senti à primeira vista, uma familiaridade com o desconhecido que nunca imaginei. Foi sentir-me em casa e querer voltar rápido e cedo, que já tenho saudades do "nossa, minina" da Carla Paulista, ou das reflexões com selo "banana reflexiva" do Richard que desenhava tudo quanto via e ouvia. Há histórias que vou resgatar com o tempo. Outras que vão ficar comigo para sempre. Foi bom, tão bom, que tenho mesmo de voltar.

sexta-feira, março 19, 2010

Father's eyes

Toda a gente diz que tenho os olhos iguais aos teus. Pode ser verdade, mas não é só isso que interessa. As pestanas compridas, herdei-as com certeza de ti - não restam dúvidas - assim como o cabelo muito escuro que tanta gente insiste ser preto. E que eu insisto ser exactamente da mesma cor que o teu: um castanho escuríssimo. Gostava de te ter conhecido mais quando era pequena, e quando tinha todo o tempo do mundo para falar-te de mim e dos meus segredos minúsculos a que eu dava a maior das importancias. Mas nessa altura tu estavas pouco, trabalhavas fora e o tempo foi passando. Nunca foi difícil lidares comigo, bem sei, que eu sempre te obedeci. Por isso, talvez mesmo só por isso, seja difícil para ti que eu não esteja sempre, como sempre estive, debaixo da tua asa. Como quando me arranjavas o pão com manteiga que ficava com o cheiro do teu after-shave entranhado e parecia que eu estava a beber perfume. Tens as mãos lindas - nunca te tinha dito, certo?. E sei que também sentiste que o passado tinha sido uma perda de tempo quando, naquela viagem para o Alentejo, falámos de uma vida inteira em duas horas e tal. A nossa relação é intuitiva, é compreensível, é simples e meiga e carinhosa. Gosto muito dos teus beijinhos. E gostava ainda mais que se multiplicassem por infinitos. Só que nem tudo é como nós queremos, paps. Mas sabes, há uma coisa que nunca vai mudar. Os meus olhos vão ser sempre iguaizinhos aos teus.

quarta-feira, março 17, 2010

Início

Falava-te de como era difícil começar. Falava-te não. Falávamos. De como é difícil o início. Porque antes do início, ninguém consegue saber como vai ser, o que vai ser, quando vai acabar, se vai ter fim. É como um texto, como começar a escrever a primeira palavra na folha branca e vazia, da preocupação de a letra sair perfeita, de o texto sair sem enganos, das palavras não ultrapassarem as margens.
A importância - ou não - de escolher a primeira cor a tocar no papel, o primeiro traço do desenho, o primeiro toque da tinta. Parece-nos sempre que o sucesso de um texto depende do arranque. E que da precisão de um desenho depende a primeira impressão com o papel. Como se o fim fosse decidido pelo início (como se o Benfica só desse goleadas aos adversários quando marca três ou quatro golos nos primeiros minutos). Hoje, é-nos difícil sentir esta tensão do início. Porque é muito fácil apagar e voltar a arrancar com um texto. É simples corrigir um desenho num qualquer programa de computador. Hoje, quase nada de decide a partir do início. De quase nada depende o arranque. Mas nunca as casas resistirão a um tremor de terra se os alicerces não forem suficientemente fortes. Isso nunca.

quarta-feira, março 10, 2010

É que nem coração de mãe: cabe todo o mundo.

B5/Dona Lena

Uma vez meu filho me perguntou: mãe, que pousada é a nossa? Eu pensei um pouco, vendo o que poderia dizer, e falei para ele: Filho, a gente tem uma pousada do carinho.

B4/Rómulo

Gastronomia é moda que nem roupa. Eles vêm aí, pedem um pastel de camarão, tomam um chôpe, conversam, ficam até de madrugada. Temos o recorde de venda de chôpe por metro quadrado. Actores, cantores, políticos. Aí vai, aí vêm. Temos o bar mais democrático daqui. Porque aqui vem todo o mundo. Rico e pobre. Político, médico, músico e varredor de rua.

sábado, março 06, 2010

B3/Dona Gioconda

Gosto de coisas vivas, de trabalhar com seres vivos. Por isso as ostras. Daí ter vindo. Os meus filhos continuam lá. E eu aqui. Sempre que tem algum problema, minha filha sempre liga e me diz, 'mãe isto, mãe aquilo'. Meus filhos sempre pensam que a mãe resolve qualquer coisa.

B2/Seu António

Hoje vim para matar a saudade. A minha vida é todo um romance. Ai, o vinho Teobar. Deu uma saudade agora. Pois é. Volto lá de dois em dois anos. Fui em 2005, voltei em 2007. No ano passado não. Tenho um filho com dois anos. De uma segunda mulher. A 'minha patroa', como se diz às vezes, morreu-me em 2003. Faço 40 pastéis de Belém, e ando aí a distribuí-los. É muito trabalhoso, mas sempre distrái a saudade. Deu agora a saudade. Ai que saudade de Portugal. Um dia eu volto. Gostava de voltar.

B1/Seu Roland

Fui registado Rolando mas não acredito que o meu pai alguma vez no registo tenha dado esse nome para mim. Sou Roland. Sou filho de pais brasileiros, nunca falei senão alemão. Falo português por necessidade. Os alemães são chatos. São frios. Tenho a língua alemã no coração de um brasileiro. O quente e frio. E quando era pequeno andava sempre descalço. Todos andávamos. Quando havia algum assunto tabú, sobre o qual os adultos não pudessem falar, diziam: aqui não, tem demasiada gente descalça.

terça-feira, março 02, 2010

Ano um

i num instante, tudo mudou. Ocupei-me das palavras a tempo inteiro. Passei a depender da actualidade sem pensar no ontem e de olhos postos no amanhã. Acelerei o passo, deixei de ter tempo livre. Realizei-me. Hoje é o ano um.