Páginas

Redes Sociais

.

quarta-feira, junho 30, 2010

Cá, aqui

So I say run, run, sparkling light,
Have your fun and then come home at night,
I’m sure you’ll tell me something new,
Things you did and thing you do,
Yeah I can see the world through you.

terça-feira, junho 29, 2010

A tua praia

Não sou, sei bem. Não te faço bater o coração mais rápido, nem te tiro a respiração ao passar. Ficas para aí, deitada na toalha, à espera que o sol venha a seguir à última nuvem. Mas de repente a noite volta outra vez, e o dia é mais curto, e estás outra vez sozinha. Pega-me na mão. Pega-me na mão, já disse. Entrelaça-me esses dedos uns nos outros e não te sintas mais sozinha, que estás aqui só para ti. Não desconfies dos que te passam a mão pelo cabelo, te elogiam a escrita, te gabam a voz. Acredita no que te dizem, que tu és especial, tu és única, tu és bestial. Não contraries o coração empedernido que deixaste de sentir. Mesmo que a cabeça feita água queira contrariar-te os dedos que teimam em escrever as mensagens no teclado a que tiraste o som. Ou é, ou não é. Agora, isto de quereres fazer bater o coração com meias massagens cardíacas sem aplicação de choques eléctricos, não. Que o coração de pedra não aguenta palavras meias. Só vai tornar-se mais duro.

E est'agora.

Não há dois, sem três.

segunda-feira, junho 28, 2010

D de despedida

Soletra a letra 'd' de despedida. Sabe que a voz límpida, ganhou-a ao microfone no país dos érres e dos ches. Tem a certeza que é certo o que vai fazer a seguir, mas custa-lhe voltar. Sobretudo pela despedida. Era mais fácil não ir agora outra vez, era mais fácil mandar uma mensagem a agradecer a presença. E não ter que dar mais uns abraços e uns beijos ao Reno. Como se se tratasse de uma amiga qualquer, no aeroporto. Tinha sido mais fácil, decerto, sem os crepes com Nutella e sem o vinho quente. Ou sem a insistência de quem já tinha saído de casa apesar das saudade. "Anda, preenche os papéis. O que é que cá ficas a fazer, hum?". A atitude - camuflada de medo de ir - sempre foi o seu forte. Tem andado de um lado para o outro como ninguém, sem ninguém. Com toda a inveja do mundo, que conhecer e falar e perguntar é uma paixão conjunta. Tinha sido mais difícil sem os crepes de Nutella e sem o vinho quente. O frio tinha sido mais letal e condensado. As saudades mais agudas. Fosse tão mau assim, e não custaria a despedida. Fosse tão doloroso assim - e sabe-se que foi, e nem é isso que está em causa, que quando as saudades apertam ninguém sabe como é que o coração sobrevive ainda - e não estava a preparar-se para partir, já. Que ainda não é desta que volta de vez.

domingo, junho 27, 2010

Fera



Estava chateada, com cara de poucos amigos. Amuada que só. Insuportável. Discuti, praguejei baixinho, sempre a olhar as pessoas nos olhos com ar de quem tem toda a razão do mundo. Refilei por pensarem que sabem tudo da minha vida quando nem eu sei bem. Pensam que sabem tudo. Como eu. E tu, sem saíres do tom, chamaste-me fera. E deste-me uma festa na cabeça.

sexta-feira, junho 18, 2010

"Não é tanto o ser que me preocupa, mas o deixar de estar. É pensar que um dia estou. E que outro dia já não."


O pior que a morte tem é que antes estavas, e agora já não estás. Eu digo de outra maneira, aquilo que um dia a minha avó disse. "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". E...ela não tinha pena de morrer. Ela tinha pena de já não estar, no futuro, para continuar a ver esse mundo que ela achava bonito.

Nas chegadas

Não tinha mais de metro e meio. Uns cinco, talvez seis anos. Estava agitado, não foi preciso muito para perceber que estava nervoso, ansioso. Estava com uma mulher morena e muito magra, com as unhas impecavelmente pintadas e o cabelo impecavelmente esticado, pintado de preto. Chamou-lhe mãe, enquanto apressava a pintura de um papel quadriculado, com letras desenhadas. Olhei por cima do jornal a tentar disfarçar a minha curiosidade de quem espreita sem autorização, só por mera cuscuvilhice. Amo-te muito, pai, lia-se em letras gordas, que pintava apressado antes de ele chegar. E ele chegou mais cedo do que se esperava, camisola com capuz verde e mochila às costas, como quem parece vindo de uma aventura. Abraço apertado que exigiu baixar a cabeça debaixo do corrimão de metal, e um olhar curioso sobre o que se passava ali, enquanto ela pintava depressa o que faltava, com a ajuda dele, que sentia o tempo a passar e tentava disfarçar o papel ali estendido e sob o meu olhar atento, cada vez mais curioso. Cada vez mais evidente. Fechei o jornal, li a contracapa. E eles a colorirem o desenho com lápis de cor. Letras gordas pintadas e folha dobrada, o miúdo entrega ao pai o papel quadriculado com a mensagem de boas-vindas. Ela tira do saco de papel um boneco de gesso pintado - uma miniatura de jogador de futebol - e esconde-o para que ele não o veja até ele lho mostrar. Um trofeu de orgulho por um campeonato infantil ganho. E ele dá-lhe um abraço. A seguir, um diploma da escola de futebol do Benfica. E outro abraço. Finalmente, um pacote de leite simples ainda com a palhinha colada. Outro abraço. É bom tê-los aqui. Pequeno-almoço dividido no aeroporto.

quinta-feira, junho 17, 2010

Ciência

Sentada à beira da piscina naquela tarde de Junho pouco Verão e por entre pensamentos mais ou menos desorganizados e sms que a fizeram rir, ela viu. Amores perfeitos. Num vaso. Mesmo ali, debaixo do nariz dela. À distância de um olhar.

domingo, junho 13, 2010

Ora, est'agora.

Já percebi que estiveste a reler as mensagens que trocámos. Imagino-te, sentada aí num canto, computador nos joelhos, a tentar metodicamente ordenar por datas o que aconteceu. Depois abres outra janela, irritas-te com a lentidão do computador (que a propósito devias mandar formatar porque não sabes como isso se faz) e praguejas sem dizer uma palavra enquanto escolhes uma música qualquer suficientemente deprimente. Rodas e deitas-te na cama que ainda está por fazer e, de barriga para baixo, assentas os cotovelos no colchão. Parece que te estou a ver...
Relês à procura de um indício, de um qualquer pormenor que te faça perceber o que foi, por que foi que naquele dia eu decidi acabar uma coisa que, dizes, nem sequer tinha começado. Sorris com a conversa trocada em meia dúzia de linhas e voltas a reler. essas coisas não se agradecem. repetem-se. Franzes a testa. Há qualquer coisa que te escapa e detestas isso. Porque metodicamente, pelas tuas contas, tudo resultaria depois de um quando quiseres. Mas não és só tu a caixa de surpresas. Ironia do destino, comigo quase nada é o que parece.

sábado, junho 12, 2010

Na noite das cores,

ainda vamos de dia para apanhar a última luz de um sol preguiçoso que mal aparece...desaparece. Vemos as cores das flores de papel dos manjericos misturada com o cheiro das sardinhas assadas que se entranha no cabelo e lá fica...qual segredo difícil de esconder. Andamos pela calçada como em nenhum outro dia do ano, para cima e para baixo, sem perceber bem se subimos ou descemos, nem se estamos ou não acima do castelo. Parece que estamos dentro de um daqueles labirintos difíceis de chegar ao fim, porque nenhum mapa é melhor do que o olfacto e nenhuma mensagem escrita funciona tão bem como um grito no meio de um bailarico. "Olá, tudo bemmmm?". Encontramos gente que nunca mais vimos, gente que nunca cumprimentámos com beijos e abraços. Que nas noites mágicas se transformam em cúmplices de festa. De uma festa de uma cidade que deixa de ser branca para se transformar num cenário de cores e cheiros que só acabam quando, depois de o sol nascer, os mais resistentes encostam a cabeça na almofada. Mais um ano, e tantos Santos para contar.

terça-feira, junho 01, 2010

Míscaro


Tive sorte: nunca fui uma criança sozinha. Sempre dividi a atenção com outras crianças que, mal ou bem, me fizeram perceber que podia ser o centro de um mundo e apenas um: o meu. Apesar de nunca me ter sentido única lá em casa, quando era criança tive direito a muitas coisas. Soprei as velas dos aniversários dos outros, depois de lhes cantarem os parabéns, como qualquer criança gosta de fazer. Tive direito a férias na praia, a um mês de estágio estival em casa dos avós, a sopa de grão de bico e mimos de longe de casa dos pais. Tive uma bolsa enorme com fecho e lápis e caneta e borracha e régua e esquadro - tudo junto - que poucos miúdos tinham lá na escola, porque o papá ia muitas vezes ao estrangeiro e comprava coisas que raramente cá havia. Fui uma mão cheia de vezes à EuroDisney - uma coisa que possivelmente todas as crianças gostariam de fazer ao menos uma vez - de autocaravana e a mamã adorou de todas as vezes, o que faz uma criança sentir-se ainda mais feliz. Tomei banho de mar e de piscina até me fartar, qual pata choca sempre na água. Fizeram-me surpresas, comemorei todos os anos com velas à conta e contadas uma a uma (tal como eu gosto, que eu odeio velas que só têm números inscritos). Brinquei muito às casinhas, e aos médicos, e às professoras e aos supermercados e aos hospitais. E fiz muitos espectáculos, e gravei concursos com o rádio que me ofereceram quando os tempos lá em casa eram mais complicados do que os de agora. Usei botas ortopédicas - feias e duras - e palmilhas para corrigir uns defeitos nos pés. Mas quando o médico viu que não resultava e me quis operar, o papá e a mamã não deixaram com medo que a infância ficasse marcada pela dor aguda nos joelhos. Aprendi músicas na flauta, e inventei letras num inglês macarrónico, com vontade de imitar os mais velhos e poliglotas, nunca sonhando que um dia eu ia perceber exactamente o que é que as palavras que nem sabia pronunciar queriam dizer. Fui Nocas para a madrinha, mana lá em casa, Miam para o Titú, Mariana na escola. Fui o Míscaro do papá. Tive pesadelos com o acidente de carro do tio Pedro e assustava-me a ideia de que poderia chegar ao dia do meu casamento sem saber distinguir a mão direita da esquerda: preocupava-me que o padre dissesse "uni as mãos direitas" e eu não soubesse como fazer. Conheci Londres, Dublin, Paris e Madrid antes de saber o que era ser adolescente e pelo meio ainda tive tempo de estudar e ter boas notas. Consegui apaixonar-me por uma profissão no meio das palavras, cuja articulação tive a sorte de ser sempre elogiada. E tive a oportunidade de poder estudar o que quis, quando quis, sempre que quis e no tempo certo. Fui uma criança calma, mas alegre e muito curiosa, sempre zelosa dos mais novos que os mais velhos sempre me ensinaram a considerar sob minha responsabilidade. Não fossem uns e outros, e ser criança podia não ter sido tão fácil. Nem tão bom. Nem tão memorável.