Dias Exemplares
São três histórias. Sempre três personagens. Uma Mulher. Um Homem. E uma Criança. As vidas cruzam-se como na vida real. Em três tempos diferentes. Passado. Presente. Futuro. Nesses três tempos, sem nos darmos conta, somos transportados como se quiséssemos ir, como se a eles pertencessemos. Em comum têm apenas uma tigela. E mais importante que isso, a poesia de Walt Whitman. Um poema, "Folhas de Erva", que se torna, sem darmos conta, o mote destas histórias. Como o poema é enorme, deixo um excerto. Espero que aguce o apetite.
"Já disse que a alma não é mais do que o corpo,
E já disse que o corpo não é mais do que a alma,
E, para cada um, nada, nem Deus, é maior que se próprio,
E quem caminha duzentos metros sem amar caminha para o seu próprio funeral, envolto na sua mortalha,
E eu ou tu, que não temos tostão, podemos comprar o melhor que há na terra,
E olhar de relance ou mostrar um feijão na sua vagem obscurece o saber de todos os tempos,
E não há ofício nem trabalho em que um jovem não possa tornar-se um herói,
E não há objecto tão frágil que não possa servir de eixo às rodas do Universo,
E digo a cada homem ou mulher: Que a tua alma permaneça serena e plácida perante um milhão de universos."
terça-feira, março 14, 2006
domingo, março 05, 2006
Apetecia-me...
Às vezes apetecia-me parar, no caminho para casa. Parar naquela ponte, que permite passar a linha do comboio. Apetecia que ela não tivesse aquela cor, aquela textura, aquela frequência às vezes aflitiva durante o dia e aquele silêncio arrepiante durante a noite. Às vezes apetecia-me sentar, naquela ponte que (apetecia-me) não tivesse aquele metal à volta a proteger das quedas. Apetecia-me sentar, deixar cair as pernas e ficar com elas a abanar...para trás e para a frente, para a frente e para trás. E depois ouvir o vento. Apetecia-me que nesses momentos os meus pensamentos não fossem interrompidos pelo barulho que me ensurdece, sempre que lá passo. A petecia-me ficar a ouvi-lo. Porque os pensamentos estão sempre em mim, quando passo naquela ponte. E apetecia-me sentar, baloiçar os pés e parar por momentos, num segundo. Assim, o momento iria parecer algum escondido num daqueles filmes em que os pés balançam e em que muitas palavras ficam por dizer porque a velocidade a que circulam na cabeça não o permite.
Apetecia-me depois ficar a olhar para Lisboa. Aquela que tenho vindo a conhecer, pouco a pouco, mas loucamente, como qualquer paixão em início de namoro. Eu namoro-a desde o primeiro dia. E apetecia-me ficar com ela, senti-la, enquanto baloiçava os pés. E apetecia-me ficar a pensar naqueles que fazem parte dos meus dias, naqueles que não têm estado cá, naqueles que estão, naqueles que riem e choram e gritam e refilam e brincam e fazem parte de mim. Daqueles que vejo todos os dias e daqueles que desde a véspera da partida deixaram saudades. Apetecia-me, quando me sentasse, lembrá-los todos e senti-los, no sopro do vento, todos lado a lado, ao meu lado, nessa ponte onde passo todos os dias. Apetecia-me que não houvesse combóio nem rede nem arame nem barulho. Apetecia-me que às vezes, Lisboa fosse só esta paixão, com silêncio e onde eu pudesse ouvir, quando me apetecesse, apenas o sopro do vento.
Às vezes apetecia-me parar, no caminho para casa. Parar naquela ponte, que permite passar a linha do comboio. Apetecia que ela não tivesse aquela cor, aquela textura, aquela frequência às vezes aflitiva durante o dia e aquele silêncio arrepiante durante a noite. Às vezes apetecia-me sentar, naquela ponte que (apetecia-me) não tivesse aquele metal à volta a proteger das quedas. Apetecia-me sentar, deixar cair as pernas e ficar com elas a abanar...para trás e para a frente, para a frente e para trás. E depois ouvir o vento. Apetecia-me que nesses momentos os meus pensamentos não fossem interrompidos pelo barulho que me ensurdece, sempre que lá passo. A petecia-me ficar a ouvi-lo. Porque os pensamentos estão sempre em mim, quando passo naquela ponte. E apetecia-me sentar, baloiçar os pés e parar por momentos, num segundo. Assim, o momento iria parecer algum escondido num daqueles filmes em que os pés balançam e em que muitas palavras ficam por dizer porque a velocidade a que circulam na cabeça não o permite.
Apetecia-me depois ficar a olhar para Lisboa. Aquela que tenho vindo a conhecer, pouco a pouco, mas loucamente, como qualquer paixão em início de namoro. Eu namoro-a desde o primeiro dia. E apetecia-me ficar com ela, senti-la, enquanto baloiçava os pés. E apetecia-me ficar a pensar naqueles que fazem parte dos meus dias, naqueles que não têm estado cá, naqueles que estão, naqueles que riem e choram e gritam e refilam e brincam e fazem parte de mim. Daqueles que vejo todos os dias e daqueles que desde a véspera da partida deixaram saudades. Apetecia-me, quando me sentasse, lembrá-los todos e senti-los, no sopro do vento, todos lado a lado, ao meu lado, nessa ponte onde passo todos os dias. Apetecia-me que não houvesse combóio nem rede nem arame nem barulho. Apetecia-me que às vezes, Lisboa fosse só esta paixão, com silêncio e onde eu pudesse ouvir, quando me apetecesse, apenas o sopro do vento.
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