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quinta-feira, julho 29, 2010

(dei com isto) aqui ao lado*

Muito falamos nós das festas a que vamos, do que comemos ontem naquele jantar para que fomos convidados ou das caipirinhas que bebemos na noite de Carnaval. Muito vamos nós à missa, muito nos queixamos da vida regrada, sempre igual. Muito praguejamos nós que os anos passam e nos sentimos envelhecer sem que nada façamos para poder evitar a passagem inexorável do tempo. Sem dizer até amanhã ao namorado com quem estamos chateados. Ou sem ligar à avó, que já não vemos há meses, porque saímos demasiado tarde do trabalho. Ou demasiado moídos do ginásio. Ou demasiado ocupados da vida. Dos problemas que vemos em cada esquina. Das dificuldades que se nos atravessam no caminho. Permanentemente. Sem avisar nem dar descanso. Muito nos queixamos nós da vida calma, da chuvinha irritante que nos dificulta as gargalhadas – muito mais fáceis quando o sol quentinho nos aquece a cara por mais que sejam oito da manhã e esteja frio. Pouco agradecemos por estarmos assim. Só com a chuvinha. Só com o frio suportável. Só com uma barriguinha cheia. Só com um trabalho que nos preenche. Só com o que comer. Só com uma conta bancária que nos deixa ir ao cinema. E ao teatro. E jantar com amigos. E almoçar fora de vez em quando. E comprar umas sandálias da colecção de verão (mesmo sem a chuva ainda ter dado descanso). “Só”. Só que aqui ao lado, não. É diferente. Mesmo aqui ao lado. Só isso.
*Na Nossa Agenda

terça-feira, julho 20, 2010

Mexer no passado

Como diz o pugilista, antes dar que receber.

segunda-feira, julho 19, 2010

naquela da amizade

Domingos.

Tantas saudades que eu tenho de ti.

domingo, julho 18, 2010

Do cabo que é verde

Sorri-lhe a medo, que nestas coisas nunca se sabe para o que se vai. Eles são espontâneos e têm pouco medo de ferir susceptibilidades. Retribuiu, como se fosse esperado que eu o chamasse pouco depois para ao pé de mim. Veio rápido, meio saltitante, com umas sandálias que acendiam e apagavam umas luzes nas solas. Contornou as cadeiras à volta da mesa e sentou-se ao meu colo. Ia escorregando vezes sem conta, que os calções de sarja beges não conseguiam parar quietos em cima do meu macacão de tecido escorregadio. E carregava-me nos joelhos, à confiança, a ver se eu o resgatava da queda a tempo de não ir parar ao chão. Falámos dos Gormitis, dos Transformers e do Faísca, o herói do Carros. Contou-me que tinha andado toda a tarde a brincar com a "Carol que é de chocolate". Que o pai não estava a jantar ali com os amigos da mãe. Que estava ainda a trabalhar. Falou-me com o sotaque do Porto e disse-me que o clube era o azul e branco. "Mas quando estriver contigo souê do Benfica, está beie?". Está bem, Rafael. Andámos a brincar com o camião dos micromachines, e com um helicoptero invisível que era não mais do que um papel amachucado. Deu-me um beijo de despedida e acenou-me com a mão pequena.

Castelo de cartas

Custa à brava a construir. E cai num instante. E não é nada catita. É terrível.

Giro nas horas

A verdade é que gosto de ti porque é fácil ser melhor contigo. Porque me fazes querer ser mais, estar mais presente, saber mais coisas, ouvir melhor. Gosto de ti porque é bom reouvir-te. Porque me encanta o lufa-lufa da tua vida. Porque as tuas gargalhadas são tão apetitosas. Porque escreves muito bem. E cheiras muito bem. E porque falar contigo sabe-me a pouco. Porque és teimoso. Perdão, gosto de ti porque és muito teimoso. Gosto de ti porque às vezes adivinhas. Porque és giro nas horas. E porque quando falas de madrugada nem se te nota o sono na voz. E se te parece pouco que goste de ti assim, gosto de ti porque acordas quando ainda o dia é noite. Gosto de ti porque consigo fazer-te rir, e porque me dás conversa. Da boa. Gosto de ti porque me contas os teus segredos. E se os dias passam depressa, contigo ainda mais, que a conversa de telefone não me cura as saudades que tenho de não te ver, nem te sentir, há tempo demais.