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quinta-feira, dezembro 31, 2009

Deste ano. E do próximo

Foi um ano bom, este que hoje acaba. E se a vontade é prolongar aquilo que foi acontecendo, é fácil perceber que o tempo, por mais que se tente, nunca volta para trás. Importa perceber que, mais do que em todos os anos que já passaram, este foi o ano em que me apercebi da real importância do tempo. Daquilo que posso fazer com ele. E daquilo que ele pode fazer comigo. Connosco. Importa sublinhar as coisas boas, esperá-las eternas na memória. E guardar as menos boas, como post-its colados na mesa do hall da entrada, onde obrigatoriamente passo todos os dias. Mais do que um dia de balanço, este último dia de 2009 é altura de avaliar o ano como um dos melhores. Foi um ano de saudades, um ano de projectos, de sonhos e de concretizações. Ano de crescer, como todos os outros que passaram. E todos os que ainda hão-de vir.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Primeiras impressões

Gosto do frio quente. Da rua 'cold' numa cidade 'warm'. Das luzes de Natal de uma festa que se prolonga. E das cabines vermelhas. E dos autocarros vermelhos. E dos semáforos. Da luz. Até do anoitecer precoce. Podia ser feliz aqui.

domingo, dezembro 20, 2009

A terra tremeu

E eu não senti. E não sinto as mãos, geladas. E o coração, sinto-o frio também, que o Inverno nem sempre traz lareiras quentes nem colos com termostatos. Aqueço de vez em quando, com sorrisos à distância. Aqueço com as luzes de Natal na Lisboa fria das pessoas e dos afectos. Na Lisboa às vezes autómata e outras romântica. Dos amores e desamores. Aqueço no aeroporto graças ao sol de inverno que decidiu espreitar. Ou de uma mensagem simpática no telemóvel que me acorda ainda é de noite. Aqueço dos planos e das conversas, e do chá de frutos vermelhos às sete da manhã. E aqueço também - e, por fim - quando chego a casa e ligo o aquecedor. Que é quem me aquece melhor nas frias noites de dias cheios e tão vazios de sol.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

09.12.2009

Há um ano, um atestado fez sentido para mim. Num instante.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

terça-feira, dezembro 01, 2009

Do jantar

Não há fila de espera a esta hora, que já é tarde para jantar. Encosta um braço ao balcão, espreita as sopas que há. Pede a de bróculos com parmesão. Só. São dois euros, obrigada. Pega no tabuleiro sem dificuldade, e o multibanco numa das mãos. Não anda mais de dois passos, afasta o banco e pousa o tabuleiro de madeira clara na mesa. Ajeita o casaco, senta-se e arruma o cartão no porta-moedas, não vá perdê-lo. Volta a levantar-se, pede-me para ler o jornal que está no topo da mesa, enquanto eu faço a chamada de fim de dia para o meu amor que está longe. E num instante, a sopa verde e light não lhe dura mais do que lhe toma a reportagem da 27.ª vítima de violência doméstica do ano. Consigo lembrar ao pormenor as palavras que li esta manhã enquanto tomava o café na pastelaria perto do trabalho. Acena que não com a cabeça, esfrega o olho esquerdo, ajeita o guardanapo branco no colo de ganga. E parece que entre ela e aquela página dupla, impressa durante a noite, não há senão o abismo de 24 horas. E uma realidade que partilha por lhe ser contada uma verdade que não era sua, mas passa a ser pelos olhos de outro que, com as palavras, trata de contar as histórias que os outros não puderam ver.

segunda-feira, novembro 30, 2009

num fôlego

é rápido como as coisas se sucedem os dias passam e passam rápido demais também as horas que nem tenho tempo de pensar como deve ser em ti apressam-se-me os dias os minutos custam a tardar e eu que às vezes me esqueço que não estive hoje contigo e tivesse eu mais tempo para te abraçar seria tudo mais quente e mais saboroso e tão melhor aproveito este fôlego para dizer que tenho saudades e quero abraçar-te que a vontade com tanto tempo ocupado vai comendo por dentro aquilo que eu sinto quando penso em ti e tenho medo de um dia acordar e pensar que já não te tenho mais aqui por isso vou correr agora não chegue eu atrasada e fique sozinha à tua espera por não ter chegado a tempo de te sentir ainda aqui

terça-feira, novembro 24, 2009

sábado, novembro 21, 2009

Free Fall

Saímos cedo, ontem. Não quisemos perder a luz da manhã, que nada se lhe compara. E de repente já lá estávamos, no meio do jardim. As distâncias ali percorrem-se rápido, nem há o trânsito de Lisboa, que não conhecia. Nem sequer a peocupação de chegar depressa. E só isso, tira-nos a pressa e a ansiedade da chegada. Só queremos chegar.
Chamaste a atenção para as cores das folhas, mas eu já tinha reparado. Há nesta altura uma diferença ínfima. Parece que têm calor, as cores aquecem mesmo que a manhã esteja fria. E enquanto me ajeitas o cachecol ao pescoço, para não apanhar frio, dou comigo a abraçar-te e a pensar o quanto gosto de ti. Ontem, falámos de tantas coisas que já nem me lembro de todas. Falámos da escola em que já não ando, dos testes, dos manos, e falámos também das férias do próximo verão. E das cores que a Primavera trará entretantoo. E do Natal que se aproxima. Falámos de como gostas de ver passar as pessoas à janela de madrugada. E de como gostas de o fazer a fumar o primeiro cigarro do dia, mesmo antes de comeres. E do guardanapo - o único de tecido na mesa. Ontem falámos de ti e do teu trabalho - como nunca falámos. Decidi fazer-te todas as perguntas de que me lembrei e que nunca te tinha feito. Apanhámos as folhas do chão, construímos uma paleta de cores sem precedentes e admirámos os cogumelos perto do musgo, que se alimentam das primeiras chuvas. Pedalámos nas gaivotas no rio, baixámos a cabeça a passar por debaixo da ponte pequenina, pusemos uma moeda em duas bicicletas e fizemos uma corrida que fez estalar as folhas nos caminhos. E depois, ainda conseguimos cumprir com distinção o percurso de manutenção, com os exercícios já meio-apagados das placas das estações. Num instante, sem mais nem menos, ontem abraçaste-me. E eu senti que estavas ali ontem, como se o ontem fosse simplesmente ontem. E não apenas passado.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Abraça-me

terça-feira, novembro 03, 2009

Crónicas do reino de Marraquexe #2

Há despertador marcado para não nos atrasarmos para o pequeno-almoço. O dia de ontem foi longo e as pernas doem do cansaço. Mas nem esperamos pelo pipipi irritante para acordar. Há carros, carrinhas, autocarros, motas, bicicletas, burros, cavalos, carroças e charretes. Tudo à mistura numa rotunda que parece minúscula para esta enorme confusão. E acordamos com um taxista irritado que não quer esperar pelo semáforo verde para avançar e barafusta com os peões que tentam à pressão passar na passadeira com o sinal verde. Porque ali perde-se tempo de mais com o que se pára. Como se o tempo passasse depressa ali. Como se os dias se sucedessem sem uma palavra de amigos, sem uma imperial ao fim do dia. Sem um jantar-fora semanal. Há gente diferente todos os dias. Passaportes que entram e saem sem avisar. E gente que fala todas as línguas, como aqueles que conduzem, e aqueles que vendem carteiras e écharpes. E ainda aqueles com quem falamos nos restaurantes, e na praça, e à porta da Mesquita. E gente de todo o lado aqui, e é tudo tão diferente. E olhamos pela janela da sala do pequeno-almoço e pasmamos com o caos. Na pequena rotunda, tudo parece aleatório. Há carros e motas e carrinhas e autocarros e bicicletas e camiões e pessoas. Tudo à mistura. Sem regras, sem normas, sem caminhos instituídos. Sabem que podem entrar e que podem sair, independentemente dos outros. De repente, trememos. Uma bicicleta entra em contra-mão. Uns apitam, outros gritam, outros nem reparam. O caos estava instalado, por isso não volta a instalar-se. Só nós, na nossa pseudo-rotina semi-organizada, cheia de regras-e-normas-e-leis-e-hábitos estranhamos. Ali, é só normal. E nós (a)percebemo(-no)s (d)isso.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Crónicas do reino de Marraquexe #1

Chegas de mansinho e nem fazes barulho. Dou por ti já aqui bem perto da minha cara, quando sinto as tuas pestanas a tocarem-me a pele e depois os teus lábios encostados aos meus. Mas és suave nos movimentos, e é difícil sentir-te a pele senão na cara - se bem que pouco me importo, gosto da tua pele macia e clara, da tua tez branca, das tuas perfeitas imperfeições. Os olhos bem pretos fecham-se quando me tocam, mas sinto-lhes a profundidade de sempre. De quando me olhaste pela primeira vez na praça enfumarada da mesquita. De ti, foi pelos olhos que me apaixonei. De ti, na verdade, via-te apenas os olhos. O cabelo muito escuro estava tapado, como está hoje, com um lenço de cor pastel que esbatia o tom da tua pele muito clara. Pestanas muito longas, lembro-me que me tocaram o coração pelo enquandramento e pelo secretismo que os teus olhos me transmitiram. E sempre que entras aqui, seja noite ou seja dia, vens de surpresa. Sempre de mansinho, não fazes barulho. Ajudam-te os pés que descalças à entrada, a leveza do teu andar, e a medida certa da tua túnica comprida. O tecido pesado e quente. Denunciam-te as pestanas longas. O beijo profundo. E o teu cheiro, que detecto logo, mas que gosto de apreciar e aprecio saborear enquanto te aproximas, pé ante pé. E eu disfarço que não dou por ti, já o meu coração lateja numa dança louca, e os meus braços quase não conseguem controlar a vontade de te abraçar.

quinta-feira, outubro 08, 2009

quarta-feira, setembro 30, 2009

segunda-feira, setembro 28, 2009

A tua é a minha


É mais do que um momento. Mais do que um instante prolongado pela eternidade. É mais do que uma coisa sem sentido, como se todo o universo conspirasse a nosso favor. É muito mais do que sorrir sozinha, tímida, envergonhada. É rir alto para partilhar a alegria, chamar a atenção pelas melhores razões. É intimidar os outros, num primeiro momento, por ficarem assustados com a estridência do gargalhar. E depois levar-lhes à boca um sorriso que num instante se transfigura numa gargalhada presente. E partilhada.
Apetece mais.

Da evidência

Esqueço-me que os teus dias passam sem pensares no que farás amanhã. Como se o futuro fosse uma coisa tão longínqua, como se o amanhã fosse o tempo que nunca chega, a meta que não se pode cortar, a vida doutros que não posso viver. Impressiona-me que penses que a única coisa que importa é hoje, que me digas que o ontem já era e que o amanhã nunca chegará. E já agora, perturba-me que insistas em dizer-me que o mundo não chega para todo o amor que sentes por mim. Porque tu não és mais do que a evidência de que há coisas que nunca chegam às nossas mãos, porque nunca quiseram ser nossas. E isso diz tudo. Nem precisa de mais palavras. Evidentemente.

segunda-feira, setembro 21, 2009

quinta-feira, setembro 17, 2009

Chegar

Já era noite quando pôs a chave na ignição e a rodou. O motor ligou-se de imediato, apesar da temperatura baixar de dia para dia. Todos os dias. Estava a chegar o outono, pensava. Como o tempo passa. Naquele dia não apetecia ir directo para casa. Apetecia-lhe fugir do hábito. Não queria sentar-se frente à televisão, descalçar-se, o zapping do costume. Carteira ao colo, dar uma volta aos papéis, passá-los para a lista de contactos, separar os recibos da gasolina dos das refeições. Passar pelas brasas e acordar sobressaltado, meia hora depois, pensando na estupidez de não ter ligado o despertador. Levantar-se de rompante, como se o tempo lhe tivesse atacado a alma, encher a taça de sopa e pô-la a aquecer no microondas. Ali, sentado no banco do carro, não lhe apetecia pensar no que fazer para o almoço de amanhã. Não tinha vontade de cafés corriqueiros, nem de matar saudades dos amigos que deixara de ver por falta de tempo. Faltava-lhe mais do que tempo para os outros. Aumentou o volume do rádio. Estava sem vontade de ouvir notícias. O acidente de Penafiel. A reeleição na comissão europeia. A chuva prevista pelo instituto de meteorologia. Sussurrou uma coisa que nem percebeu bem o que era. Apetecia-lhe fugir daquele corpo, ser outra coisa, ter tempo para observar quem era. De fora. E depois, de um momento para o outro arrancou. Marcha atrás rápida. Decidida. Como se todos aqueles momentos fossem vãos face à vontade de conhecer-se. Acelerou a fundo. O fumo negro no tubo de escape gasto. E a cabeça inclinada para trás. Sem a contrapressão do pescoço. Mão no volante, mão nas mudanças, mão no cabelo, mão na mão. Sorriu ao espelho retrovisor e parou na entrada da rotunda, à espera de prioridade. As luzes reflectiam os faróis a passar, um atrás do outro. Sem pressas, arrancou. Pedal moderado. Pedal a fundo. Fundo pedalar. Seguiu, pelo caminho, sem olhar a combustível, a tempo, a horas, a espaço, a pensamentos. Esvaziou a cabeça, esqueceu a realidade. Passeou pela cidade, num instante que só deu para perceber que tinha saudades suas. Matou-as de um trago. Não fosse o tempo acabar.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Sobre o regresso

Olho para ele de baixo. Ele do alto dos seus 40 e tais, e do alto dos meus dez. Separam-nos centímentros, mas não são essas as diferenças que mais me preocupam hoje. Deixa-me nervosa o à vontade com que fala aos olhos atentos e expectantes. Fascina-me a fluência das palavras, a cadência da voz, e a simplicidade das frases. Límpidas como as dos livros infantis que já leio sem dificuldades, com as letras bem gordas e sem piadas que exijam grandes raciocínios. Embora conheça os cantos à casa, parece-me hoje que não sou de cá. Há uns meses, esta parte era-me interdita. Não podia passar da porta de metal com vidros pequenos. Agora, de repente, mudou o hábito, sem sequer me dar conta. E elas dizem que o tempo passou rápido, lembram-se da fotografia do primeiro dos primeiros dias. Pouso a cabeça na mão, pesa-me a pressão do cotovelo em cima da mesa. De soslaio, lá as vejo, sempre atentas a mim. E no espaço entre este pensamento e o sorriso seguinte, houve regras de conduta a respeitar, planos de contingência, regras de funcionamento. E este bocadinho passou rápido. Vou num instante arrumar a mochila e dormir.

terça-feira, setembro 08, 2009

Inverso

Estou farta de falar de mim quando nos encontramos virtualmente. Perguntam-se as novidades e nunca há nada a dizer. Ou há pouca coisa, que nunca ficamos muito tempo sem conversar. E quando há novidades és a primeira pessoa a saber que isto ou aquilo aconteceu, por isso nem sei porque perguntas como estão as coisas ou como ando. Sabes tão bem como eu a maneira como me afectam estas perguntas que não esperam uma resposta esperada. Antes uma resposta que queres ouvir. Estou farta de ter de confirmar que estás bem, como se de mim dependessem as tuas acções. Pões-me nos ombros as escolhas que fazes depois de muito pensar, e cansa pensar que só ages depois de saberes que não vou levar a mal. Mas sabes que assim, até as surpresas deixam de fazer sentido. Prefiro que deixes as preocupações de lado. Sugiro que guardes os vacilos para quando eu estiver longe de ti. Será mais fácil explicar-te à distância, as razões do meu afastamento e a velocidade avassaladora com que me desencantei em relação a ti. E agora, faz-me um favor e fala um bocado de ti, que estou farta da minha assertividade. E deste sorriso estúpido nos lábios.

quarta-feira, agosto 26, 2009

(Re)publicação #2*

Não vou a tua casa todos os dias, é certo. E mesmo que não vá tantas como gostaria, sempre que lá entro o teu cheiro está no ar. Na mesa da entrada há uma fotografia tua. Sorridente sem ser exagerado. Distinto e subtil como só tu sabes ser. E confio que estejas escondido em qualquer sítio, ou que tenhas saído sem avisar, ou que te tenhas atrasado nalgum recado. Só depois reparo nos finos lírios lilás que ficam tão bem com a gravata que tens na fotografia. E lembro-me que já não estás porque desde aquele Julho nunca mais voltaste. Lembro-me e sinto saudades de pôr o guardanapo diferente para ti na mesa. Porque só gostavas dos de tecido. Tenho saudades porque nunca provei arroz de tomate tão saboroso como o teu. Saudades de te ver cruzar as mãos, chamar Pequenina à avó, Formiguinha à Madalena e Bailarina à Maria. Falta de fazeres companhia nos pequenos-almoços das férias. De gostares de saber das notas da escola em primeira mão. E de apareceres sempre nas vésperas das festas para animar o pessoal. Saudades de ti, das gargalhadas sentidas e do orgulho que transparecia a par do sentido crítico que nunca perdeste. Falta dos conselhos sábios e da calma da análise das coisas. Falta de ti, que és tão insubstituível como esta ausência dura de gerir e impossível de esquecer. Impossível de compreender.

terça-feira, agosto 25, 2009

Por lapso

esqueci-me o quanto gosto de conversar à mesa depois do jantar, e de ficar a beber devagar uma bebida fresca, enquanto discutimos juntos tudo o que cada um fez durante o dia.
deixei de me lembrar que adorava pensar no dia todo, refazê-lo em partes e percorrer todas as palavras ditas e ouvidas, já com a percepção de que eram repetição, mas com o fascínio de quem vê a própria vida e a analisa de fora. sem culpas.
lembrei-me que há coisas mais importantes do que aquelas a quem realmente dou alguma importância.
importa-me esperar por amigos, aproveitar as conversas, sentar-me numa esplanada e remoer aquilo que leio nas páginas de um jornal, como se as palavras me fossem indegestas.
quero achar-te engraçado como quem ouve as piadas pela primeira vez e só as percebe quando são explicadas por alguém, tal é o fascínio de te olhar na tua altivez e ver-te, ao mesmo tempo, da minha altura.
lembrei-me hoje que é bom não esquecer certas coisas. que a memória é das qualidades mais importantes que devem conservar-se e praticar-se e cultivar-se. dia após dia.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Rápida-mente

Toca aquele bling bling cansativo e levanta-se de sobressalto, como se mais cinco minutos na cama fizessem toda a diferença. Não adormece de manhã, com medo que o mundo lhe escape num instante, de ver que as coisas mudam tão rápido que se de um momento para o outro o mundo cair, nunca conseguirá apanhar a cadência das coisas. Corre para o banho e é rápida no pensamento, mesmo de manhã, quando ninguém consegue ser. A luz dá-lhe uma energia quanse inesgotável e tem a certeza que, se falasse consigo logo de manhã, talvez não percebesse metade das palavras ditas, dada a velocidade com que o pensamento corre. Acumula a lista de tarefas diárias e só depende dela. Às vezes é esse o problema. Falta-lhe o tempo para poder agarrar-se ao pensamento, como num jornal normal numa praia ventosa: as folhas fogem sem deixar rasto, a menos que tenham sido cuidadosamente lidas. Cuidadosa é ela, com as coisas que faz. Já com as coisas que é, saltita entre as certezas e as dúvidas. Duvida tantas vezes que chega a confundir as próprias reflexões, como se as pernas não quisessem andar sem terem os sapatos calçados, mesmo que o chão seja forrado a algodão fofo e quente. Tem uma certeza: está numa construção que não tem fim. E é bom conseguir perceber isso.

quarta-feira, agosto 19, 2009

Dossier

Houve um dia em que me deste um dossier antigo com artigos publicados em vários jornais e planos de um livro que nunca acabaste. Emocionou-me um gesto tão particular e sentimental da tua parte. Acho que foi das primeiras vezes que te senti de carne e osso.
Nunca me senti muito inspirada por ti. Digo-me que não sou assim tão sisuda, assim tão austera, tão ponderada, digo-me que não sou assim.
Mas penso algumas vezes se serei mais do que insisto em negar. Sou sisuda quando me vejo gravada por uma câmara de filmar. Franzo o sobrolho sem me aperceber, e fecho os olhos ao falar. Mas talvez sorrias mais do que eu quando achas alguma coisa engraçada. Pergunto-me por que nunca escrevi sobre ti, assim directamente. Já foste mais austero, mais distante. E acho quando te ofereci um livro com uma dedicatória te emocionaste por sentires que talvez tenha herdado de "escrever" de ti. Não me acompanhas tanto como gostarias, simplesmente porque talvez não estejas para aí virado nesses dias, mas sei que te orgulhas. E tens vergonha de teres vontade de chorar quando eu também, entre lágrimas, te agradeço o velho dossier que guardaste para mim. Fazes sentir-me especial. E isso é bom.

segunda-feira, agosto 03, 2009

Primeiro de Agosto

É amanha dia 1 de Agosto /E tudo em mim é um fogo posto/Sacola ás costas, cantante na mão/Enterro os pés no calor do chão/É tanto o sol pelo caminho/Que vendo um, não me sinto sozinho/Todos os anos, em praias diferentes/Se buscam corpos sedosos e quentes/Adoro ver a praia dourada/O estranho brilho da areia molhada/Mergulho verde nas ondas do mar/Procuro o fundo pra lhe tocar/Estendido ao sol, sem nada dizer/Sorriso aberto de puro prazer, X&P



Estamos quase a chegar? - Perguntamos vezes sem conta, só porque sim. Tens de compreender que não é todos os dias que fazemos esta viagem. Só uma vez por ano sentimos que levamos a casa às costas e emigramos para a praia que conhecemos tão bem. Tens de compreender que não é todos os anos que aumenta trinta minutos a hora a que podemos chegar a casa, e que isso é motivo suficiente para que queiramos que os anos passem depressa e cheguemos cedo à maioridade. Porque durante muito tempo, pensamos que os dezoito são aquela idade em que, de um dia para o outro, tudo nos passa a ser permitido. Sem percebermos ainda que a confiança se conquista como se cria um filho. Dia-a-dia. Não vale a pena refilares, nem avisares que ainda falta, que podemos dormir um bocadinho porque a chegada ainda demora. Hoje é dia 1, a mala do carro vai cheinha como um ovo, e nós - não vale a pena insistires - não vamos dormir porque não temos sono. Põe o pé no pedal, acelera, e vamos. Que temos pressa em chegar, por mais que haja grandes probabilidades de estar a chover, de estar vento suão e das pessoas lá em casa estarem com os "azeites".
O caminho já é conhecido, mas parece sempre a primeira vez. Passamos o mosteiro da Batalha e já sabemos que falta pouco pouco para a entrada na autoestrada. E que depois da autoestrada, já falta pouco para chegarmos à ponte. Aí, podes acelerar, que é uma via rápida. Quando se chega à ponte, já sabes que tens de abrandar, não vão os radares apanhar a excitação transcrita nos quilómetros em excesso. Mas nãoi abrandes muito, que aqui já nós não conseguimos manter a alegria de vermos, mais uma vez, o farol vermelho e branco. Já nos cheira a maresia. A praia. E se abrirmos o vidro, já sentimos a humidade do mar apoderar-se do nosso cabelo. Quando propões o desafio de descobrir quem é o primeiro a ver o farol, sorris. Vejo-te, no retrovisor, orgulhosa. Inclinamos os quatro as cabeças, olhos esbugalhados, narizes alinhados, sem pestanejar, com medo de perder o primeiro sinal da Barra. Na rádio, deve passar qualquer coisa. Acho que também cantamos nas viagens. Fazemos aqueles jogos das palavras, e do limão. Por cima da ponte, há gente a andar de bicicleta. Gente que está a acabar as férias. Sei que durante o mês vai haver olás e despedidas q.b. .
Jantares de um grupo de amigos de verão, que se reúne a cada ano. Notam-se-nos as diferenças. Estás tão crescida. Os banhos no mar revolto da nortada. Os sete dias de marés vivas. As inundações de quando a ria enche até ao limite. E os passeios de bicicleta até à barra. As tripas com chocolate e canela. O vento frio e a chuva. Sempre a chuva, que teima deixar-nos algumas tardes livres para o Trivial. E quando chegamos finalmente, estacionas o carro e juntos tiramos as tralhas do carro. Arrumamos tudo em gavetas, penduramos cabides e fios-varão improvisados. Há que desinfectar a casa, limpar tudo bem. Subimos e descemos escadas vezes sem conta. Pelo meio vão aparecendo os amigos que já chegaram há mais tempo. Contam-se as novidades. A casa já tem vida. Acumulam-se as bicicletas à porta. A família chegou à praia. Sabemos que a partir daqui, começam as verdadeiras férias. Grandes, de verão. É bom rever os amigos. É triste deixá-los e dizer-lhes "até para o ano".
O engraçado é perceber que o tempo passa, aqui, tão devagar para nós. E que, mesmo que me esforce, vou pedir, por favor, mais ou menos a meio do mês, que me tragas de Rio Maior os livros do próximo ano. E desejar que as férias acabem depressa.

domingo, julho 26, 2009

Dos avós, e do dia deles

Não vou poder dizer-vos quantas vezes fomos ao Caramulo, ao Vale da Mó, nem ao Luso encher garrafões de água, porque não me lembro. Mas sei que foram muitas. Logo que entrávamos de férias, seguíamos para cima, que é como quem diz, para vossa casa. Levávamos os brinquedos preferidos - cada um com o seu - e lá íamos nós a contar os quilómetros para chegar. Mal víamos a primeira rotunda, começávamos a disputar quem veria primeiro a próxima, e a outra. E depois o ciclo. E o liceu onde a titezinha dava aulas. E depois os plátanos da avenida, com a folhagem enorme, e os raios de luz a passar por entre as folhas verdes. Era por cima delas que depois, no Outono, gostavamos de andar. Ouvi-las estalar, crocantes. Secas. Mas falemos antes do verão, estação dos 'olás', das descobertas. Das férias grandes. Os almoços ajantarados no moinho do avô, onde a água saía dos canos da casa de banho completamente cor-de-laranja. "Água férrea", diziam vocês. E nós assentíamos. Vocês sabiam tantas coisas, e nós nem duvidavamos. Como quando íamos ao Caramulo e tu, avó, descascavas maçãs e laranjas todo o caminho. Passavas os gomos sumarentos - "Uma especialidade" - para o banco de trás onde nós dividíamos por quatro o repasto. E as cascas - ainda sem preocupações ambientais - iam directas da janela para a rua, como se o carro deixasse um rasto de cascas de fruta que permitiria o regresso ao final do dia. Havia os outros em que, de manhã, saíamos cedinho convosco, sandes de salsicha-e-ovo-que-nunca-mais provei-igual na "ceira" que usavas na praça, ao sábado. E fruta - ameixas rainha cláudia, peras duras (como nós gostávamos), maçãs bravo de esmolfe e cerejas. Uma delícia. Passávamos o dia na piscina. Adorávamos entrar com o avô, que tinha um cartão "vip" que nos dava acesso à olímpica e à de saltos, onde eu sempre tive medo de saltar. E também quando íamos para o Palace da Curia, e ficávamos a ver-te observar-nos nos baloiços, lá em cima, ou cá em baixo, enquanto chapinhávamos os pés da água morna do "fosso" pouco fundo que rodeava a piscina. Lembro-me de como a água vinha sempre quente para o primeiro que tirava o cloro do corpo depois da tarde solarenga no Luso. E de como num instante enchíamos os garrafões na fonte da água, e também rapidamente os levávamos para a mala do carro. Era tão bom passar as mãos por água, molhar os pés que estavam quentes do calor. Ainda que nos ralhasses depois, por estarmos todos encharcados. Havia sempre programa em vossa casa. Fosse nas compras no grémio, que confirmavas com cuidado ao chegar a casa; fosse na praça de sábado, no café da vila a seguir ao almoço; na casa da vizinha, que tinha duas filhas da nossa idade; ou nos passeios de bicicleta pelo choupal, que pareciam sempre diferentes e sempre tão compridos. Agora as férias grandes passam num instante. Já não têm três meses. Os passeios ao choupal já não se fazem, e mesmo se fizessem, demorariam não mais de quinze minutos. As pernas são mais ágeis, e o percurso já não sabe nem cheira a descoberta. Além disso, vocês já não estão lá em casa. E é tão difícil explicar aos manos estas memórias que teimam - felizmente - em não deixar que vocês morram dentro de mim. Seria uma pena perder-vos para sempre. Convosco iriam bocadinhos de histórias, e tantos, mas tantos momentos, que nem tenho palavras para dizer todos.
E mais: tenho a certeza que se vocês ainda cá estivessem, seria melhor o caminho por debaixo dos choupos da avenida. As árvores do jardim deixariam passar mais luz. O carro andaria mais devagar só para prolongar a ansiedade da viagem. A alegria da chegada. O abraço do reencontro. E a infância - a nossa infância - iria prolongar-se para sempre. Porque, ao pé dos avós, nunca deixamos de estar de férias. Somos sempre apaparicados, como se a vida fosse um passeio onde tudo é novidade. Como se o outono não desse sinais, com o amarelecer das folhas. E como se as palavras nunca chegassem ao fim.

segunda-feira, julho 20, 2009

(Re)publicação*

Lisboa, Chiado, Fevereiro de 2009
Sai rapidamente do metro, livro metido debaixo do braço num encaixe quase perfeito. Gosta de caminhar assim sempre, mesmo que não tenha hora marcada na agenda, nem combinação com algum amigo. Anda assim simplesmente porque gosta de correr pela calçada portuguesa, envelhecida por tantos pés que por ali passaram. Poetas, escritores, filósofos, contadores de histórias. Calçada tão lusa que impressiona os estrangeiros. Calçada que escorrega quando a chuva teima em não parar num inverno que tarda em ir embora. Calçada que gela em noites frias. E ferve em dias de sol. Calçada que reflecte a luz de Lisboa, que tanta falta faz aos que não estão. Calçada portuguesa é chão da língua da saudade, do fado, de Fernando Pessoa e das pessoas que ele era também. É base sólida dos poemas de Camões, da prosa infantil de Sofia, das linhas despontuadas de Saramago. Calçada portuguesa é suporte de um povo e de uma língua que se querem tão portugueses.
Quando ele sai do metro. Apressado. Livro na mão. Ponho-me sentado no degrau, apoio-me o queixo da palma da mão e olho-o de esguelha. Daquela calçada, naquela escada tão portuguesa que sobe da Baixa para o Chiado, pergunto-me que livro irá ele a ler. Que livro guardará ele debaixo do braço. Tão perto do coração.
*daqui

quinta-feira, julho 16, 2009

Da planície

Era ermo, aquele monte, quando o conheci. Meia dúzia de calhaus enormes, bicheza que a minha mãe viu primeiro que qualquer outra pessoa, e terra. Muita terra. Seca, árida. Clara. Cortada, rachada. Separada pelo calor do sol. Era assim, monte e vale. Valle. Havia duas casas, uma quase sem telhado, outra nem tanto. Alicerces rijos, naquela terra sacrificada pelas diferenças diárias de temperatura. Ora frio gélido à noite. Ora quente incendiário, de dia. Amplitude térmica que não trespassa para as gentes, sempre tão quentes. Tão calmas. Sempre tão iguais umas às outras. Ermo aquele sítio, no meio do nada. Quente, tão quente que o sol está que queima os ombros de quem por lá passa.
Passam-se ali horas rápidas, dentro da acalmia da casa. Das tardes sem televisão e com conversas. Das noites a tocar guitarra e a cantar. E das madrugadas em que a conversa vence o sono, enquanto a lenha estala na lareira alentejana. Baixa e de tijolo-burro. Um copo de vinho tinto que aquece, um queijo manchego e pão alentejano. Isso, e a eternidade. Quadratura perfeita de fins-de-semana perfeitamente inesquecíveis.

terça-feira, junho 30, 2009

Quem te disse

Os teus olhos são como os meus, mas mais claros. E sempre que me olham, dizem-me coisas que eu não entendo. Preferia ter um pensómetro e ler-te o pensamento, assim, de imediato, quando te chegasses a mim com toda a pompa e circunstância e a tua boca se calasse. Como sempre.
Deixei de estranhar a tua inércia e passei a encará-la como uma ligeira amnésia. Que escondo de mim e tento afastar do pensamento. Só que de cada vez que insistes em convidar-me a sentar à tua mesa, comer da tua comida e beber das tuas palavras suadas e mastigadas, percebo que essa minha amnésia [essa tua inércia] sempre lá esteve. Não importa crermos que as coisas dos outros mudam por nós. Não adianta pensar que as coisas se alteram assim, momentanea e instantaneamente. Os outros mudam, se quiserem. Nós também.

sexta-feira, junho 26, 2009

More than words


Foste banda sonora de muitas vidas.
Mesmo daquelas que nunca conheceste.

segunda-feira, junho 22, 2009

Recesso

Disse-te tantas vezes que gostava de ti e não ligaste. Pensaste que fosse durar para sempre.
Também eu, ora. Também eu acreditei que o teu sorriso me fosse encantar para sempre. Também eu te prometi que ia adorar-te até ao fim. Acreditei que a tua maneira de falar me seduzisse sem deixar dúvidas e que ias ser para mim, e para sempre, perfeito. Aturei-te as birras - e tu as minhas. Duras e muitas. Permiti que me magoasses e me espetasses espinhos bem fundo, no coração. E aí magoavas-me. Mas tudo o que tínhamos de bom compensava os momentos maus. Esquecia-me de tudo quando me abraçavas. Sentia-me protegida nos teus braços, mesmo que estivessem frios. Porque contigo, era como se fossemos um. Pensei mesmo que a dor de te perder nunca fosse passar. Que o buraco que senti no peito fosse para sempre. Que as lágrimas se prendessem aos olhos numa eternidade dura e numa dor miudinha e sem parança. Pensei que a cura fosse tardar, que as mãos nunca mais encontrassem calor noutras que não as tuas. E que o sol fosse perder-se para sempre, mesmo quando o verão chegasse. E agora que te (re)vejo, te cumprimento e te toco. E falamos sem pensar, vejo o quanto as coisas mudaram sem me aperceber. E sem te aperceberes. Aquilo que eu pensava para sempre, afinal tinha um prazo de validade. E parece que - se ainda não acabou - está muito perto de ficar recesso.

quinta-feira, junho 11, 2009

Santos

Veste uma coisa leve para não te pesar o corpo. Já chegam os dias em que te custa subir as escadas depois do dia de trabalho, quando chegas já é noite escura. Hoje vais ser livre. Vais dançar até cair, braços no ar, como se fosses voar. Está calor na rua e é difícil passar por entre as pessoas e reconhecer caras no amontoado de gente que invade Lisboa. Passam-te ao lado conhecidos, que não reconheces porque a noite e a sangria não perdoam. Ou porque não te (re)conheces neles. Explica-me quando foi que subimos pela última vez aquela calçada íngreme e suja. Mostra-me aquela fonte sem te pedir. Dá-me um beijo na testa e agarra-me a mão antes de eu tropeçar, sem querer, naquele ladrilho mais feito. Sabes quantas vezes suspirei por ti? Há qualquer coisa que me fascina. Nesta cidade nossa, é fácil reconhecer-te as curvas pelas caminhadas familiares nas ruas por onde passámos. É fácil recordar-te sempre assim longe. Nunca estiveste aqui e reconheço-te bem. Mesmo que não estejas. Porque na cidade, por estes dias, tens o encanto da coisa essencial. A magia de um entardecer à beira-mar. E o cheiro que o manjerico deixa na minha mão e se entranha, porque nestes dias o calor vem da tua voz gravada. E a Lisboa cinzenta não é feia. Ganha uma tonalidade branca. E uma luz bonita. E encantadora.

sábado, junho 06, 2009

O jogo


Bem baralhadas as cartas, pouco há a fazer. Quando o jogo começa, as ideias têm de organizar-se depressa - acção/reacção - mas a estratégia já tem de estar traçada. O tempo pode ser curto para decidir ponderadamente. Há que prever todas as possibilidades e saber reagir rápida e friamente. As cartas todas na mão, os dedos da outra balançam, tocam-nas nas pontas. Dobram-lhes os cantos. Mas o jogo não amacia com falinhas mansas. Nem com festinhas. É do calculismo do jogo. Esfria o que de humano há em nós. E mesmo que acariciemos as cartas que temos na mão, os adversários observam constantemente os nossos olhos. Qualquer falha. Qualquer passo em falso pode denunciar-nos. É preciso rapidez. E poder de decisão. Amadureci a minha estratégia. Tirei apontamentos (e sabes que escrevo rápido e sem abreviaturas). Tracei um plano. Vários planos. Contingência. Prepara-te porque as cartas estão dadas e eu vou começar a jogar.

segunda-feira, maio 18, 2009

Só hoje

A luz ténue do candeeiro, na mesa de cabeceira, constrói um ambiente com média-luz. Um lusco-fusco que não revela. Mas também não esconde. A luz de cima, com mais watts e mais verdade, já foi apagada. Afastas a colcha macia e abres a cama com as mãos cada vez maiores, a aproximarem-se das minhas. Comparamos os tamanhos dos dedos e enroscas-te a mim. Ternura esta que me preenche o pouco tempo livre. Pedes-me um abraço. Dou-to sempre sem pestanejar. Hoje quebramos o hábito. Finjo trocar contigo o lado da cama. Apetece-me ser eu a enroscar-me em ti. Quero hoje ser eu a abraçada, a apertada, a muito-amada. Trata de mim como eu quero, só hoje. Que o tempo que me sobra para ti é pouco para o passarmos a discutir papéis. Não quero que questiones as minhas razões. Deixa-me só encostar-me ao teu ombro como te encostas ao meu. Hoje sou eu que tomo a iniciativa e digo primeiro que te adoro. E quero que me respondas de volta, que também, que adoras, tu a mim, como no primeiro dia em que te vi e te senti. Quero sentir os teus braços crescerem só para me abraçar. E perceber que posso pedir-te que me contes histórias para adormecer à vontade, porque a imaginação nunca te vai faltar. Por isso, só hoje, não me peças uma história. Não me peças um abraço. Conta-ma tu. Abraça-me tu. E estica o braço mais do que o costume. Apaga a luz por mim, por favor.

quinta-feira, maio 07, 2009

já nasceu


não tenho palavras para descrever o que foi o dia que deu origem ao i número 1

quarta-feira, maio 06, 2009

i

hoje não caibo em mim

terça-feira, maio 05, 2009

num instante

Escrevo hoje porque amanhã posso não ter tempo. O despertador pode tocar e eu posso não ouvir. Ou ouvir e adiar e voltar a adormecer. Escrevo hoje aquilo que quero escrever agora, que a vida não está para hesitações e o tempo é pouco para esperas. Escrevo aqui porque é o meu espaço. E é do meu tempo que se trata. Traço um retrato da realidade, faço perguntas e duvido das respostas. E escrevo agora porque sei que agora me apetece escrever. Sem razão, ponho-me em frente ao ecrã e acumulo letras e palavras e frases. Na cadência da escrita, como das horas, inspiro e expiro. Expira-se-me o tempo, ora vago, ora limitado. Como a vida, ora despreocupada, ora pomposa e agitada. Agitam-se os ramos das árvores ao sabor do vento e agita-se-me a vida por momentos. Que o tempo não pára e hoje eu posso escrever. Afundo-me aqui. Revelo-me a mim.

quase quase

ando a viver para isto

segunda-feira, abril 27, 2009

Sobre o 'jornalismo caviar'

Reunião acaba amanhã em Viena de Áustria
European Newspaper Congress: Jornalismo caviar precisa-se

“Precisamos é de jornalismo caviar, não de sopa”. Esta é uma das primeiras conclusões a que chegaram os cerca de 500 responsáveis de títulos impressos de toda a Europa e especialistas em media que estão desde ontem reunidos em Viena, Áustria, para discutir o futuro da imprensa e as novas tendências no décima edição do European Newspaper Congress que termina amanhã.No segundo dia de congresso os editores presentes na reunião de Viena chegaram à conclusão que, face aos desafios colocados pela Internet e pelos jornais gratuitos, que levaram a um decréscimo acentuado da circulação, as revistas e jornais têm de apostar na qualidade, pode ler-se num dos balanços da reunião, na página do congresso, em http://enc.newsroom.de/ .Palavras como seriedade e elegância, traduzida no design, são alguns dos conceitos em que os responsáveis de publicações de toda a Europa decidiram apostar para ultrapassar a crise.Para Juan Antonio Giner, fundador da Innovation, grupo de aconselhamento de empresas de media, que participou em alguns dos passos do projecto do novo diário “i” em Portugal, “os editores têm de editar e uma selecção de temas inteligente é um aspecto crucial para a sobrevivência”.“O que precisamos é de jornais necessários. O que precisamos é de jornalismo caviar, não de sopa”, disse o especialista.
in Público

sábado, abril 25, 2009

25/04 sempre

Liberdade

quinta-feira, abril 23, 2009

dia 7 tudo muda. (i) mude connosco

Há coisas que nos dão trabalho, nos mudam. Mudam connosco.
Há coisas sempre a mudar. Há que acompanhar o mundo.
Façam parte da mudança. Mudem connosco.

segunda-feira, abril 20, 2009

F5

Sabe bem sentir o prometido, concretizado. Sabe bem saber o combinado, real.
Sabe bem ouvir dizer bom dia todos os dias, como se fosse a primeira vez.

Quase

i num instante tudo vai mudar

quarta-feira, abril 15, 2009

Persistência

Se no domingo de ramos de há vinte cinco anos, a igreja de Arcos, em Anadia, não estivesse cheia para receber uma noiva vestida de branco, o dia de hoje não seria certamente o mesmo. Há vinte cinco anos, havia uma igreja, com seis degraus gastos à entrada, com bancos repletos de amigos. Há um quarto de século, um coro cantava nós as crianças, queremos brincar, com dedicação, e emoção, e carinho. Há vinte cinco anos, houve votos de um amor eterno, de um respeito mútuo. Houve leitura emocionada dos eleitos para ler no púlpito. Houve sessão fotográfica, e abraços sentidos e expectantes de que a felicidade daquele dia durasse para sempre. E uma promessa que juntou duas vidas numa só.
Houve uma festa grande, com taças de espumante da bairrada, e leitão, e um bolo branco e doce com várias camadas, para chegar para todos. Houve - imagino - música, e dança, e pulos. Houve um amor de verão que prometeu ser amor de uma vida, e eternizou-se ali. Entretanto, houve muitos dias felizes. E dias tristes. Uma mão cheia de rebentos.
Hoje recordam-se os momentos. Escreve-se uma música com letra adaptada, que lembra as viagens Alemanha-Portugal numa mota sem correntes nas rodas que tanto acelerou na neve. Recordam-se viagens, festas de anos, natais e outras comemorações. Lembram-se nascimentos, e uma panóplia de histórias, que começaram um dia na praia do Bom Sucesso sob - imagino - um sol quente de Verão. Decerto há mais de 25 anos houve um primeiro olhar que não recordo por não ter sido meu. Sinto-me só testemunha desta partilha de vida. Com buracos na estrada (mas quem não os tem?). Sinto-me prova viva de um amor de há mais de vinte cinco anos. Mas estas coisas das datas - dos dias assim contados - faz-me pensar no tempo como a única testemunha eterna viva. Colhe o dia porque és ele, dizia Ricardo Reis. 25 é persistência. Parabéns!

domingo, abril 12, 2009

Das saudades, do jardim e da memória

Cai-te uma e outra lágrima - atrevidas - pela bochecha abaixo. Sem piedade, choras um bocadinho, que já se sabe que as saudades nestes dias aumentam. E é difícil não pensar neles, que já não estão e fazem tanta falta. Olhas com enlevo para as mais novas, elas que cantam baixinho enquanto a cruz circula na sala da casa quase desabitada e, beija-se o senhor - com muitos beijos - entre amigos e familiares. E está cheia de amigos, é certo. Os sofás já gastos, não destes dias, mas de outros. Já idos. Dias que não se esquecem. E o jardim cheio de pétalas da cerejeira, carregadinha de flores - cor de rosa - que cheiram tão bem. E a mangueira sempre ali caída no jardim. E lírios lilás clarinho, de uma cor que já não existe. E a alcatifa escura, e a vontade de pintar o tecto de branco - que a casa tem um cheiro pesado a fresco. E a fotografia dele, e dela - deles - ali à porta. Com a jarra de flores frescas, que lembra a presença eterna. E a eterna falta. A ausência sabe tão mal. Não aquece, nem acalma. Só dá tristeza, de não estarem já, aqui.

segunda-feira, março 30, 2009

domingo, março 29, 2009

Hora de verão

Noites quentes, brisa fresca. Saudades dos dias compridos, de chinelos no pé. Da toalha molhada no corpo que não se cansa de mergulhar no mar. Saudades do sol que parece não acabar. Da permanência fiel na praia quase vazia. Da companhia das gaivotas que pisam a areia já lisinha - trabalho de máquinas - enquanto o sol se põe no horizonte. Hora solarenga, cheia de tempos para viver devagar, sem pressas. Viver a sério. Tempo para apreciar o fim de tarde na calma de uma esplanada com o Tejo como testemunha. Tempo de abrir o vidro do carro e pôr o braço de fora, mais perto do ar que circula. Hora de ouvir música mais alto, de pôr óculos mais escuros, e de vestir o corpo com cores mais claras. Altura de preparar o que aí vem. Gosto de dias mais compridos. Que a luz se alargue para lá das horas. Hoje o dia permanece.

sábado, março 28, 2009

Contradi(c)ção

A rua a descer, calçada preta dos passeios por terras lisboetas. De locais e de turistas. Os carris do eléctrico que começam e acabam nele. E eu à frente dele, sabendo que não funciona durante a noite. E recordo as conversas sobre as noites daqui. E sorrio descarada; acho piada à conversa. E às coincidências. Bebo mais um gole da garrafa cheia de sangria preparada para o jantar que entretanto não se bebeu por ser demais. E a noite demasiado curta. E a bebida demasiado doce. E o pensamento demasiado longe. A cabeça em ti. Apeteceu-me dizer-te 'olá.'. Mas não cedi. Gosto de ter saudades tuas.

sábado, março 21, 2009

encontro imediato

encontro-me comigo numa esquina sombria para os lados de não sei onde, perto de não sei o quê. pergunto-me como estou - como se não soubesse já o que se passa. cínica comigo, sorrio rápida e nervosamente. e respondo em modo automático tudo bem. convenço-me que sim. mas também não era preciso esforçar-me por me convencer. conheço-me. e limpo-me a lágrima que corre apressada pela minha cara. reflexo do meu autoconhecimento. aninho-me. em mim. hoje estou sozinha. aqui. e em letras pequenas.

sexta-feira, março 20, 2009

quinta-feira, março 19, 2009

confissões

"Diz-me que jornal lês,
dir-te-ei quem és is.
"

segunda-feira, março 09, 2009

NYC


Recordo o hoje

com memória de uma decisão já longínqua.
Foi um dia especial para nós, o 9 de Março.

Por mais que o calendário não diga, em minha casa é sempre dia da mulher

Em minha casa, a relação é de um para duas e meia. Porque somos cinco. E eles dois. Mas na família em geral, somos muito mais mulheres que homens. E isso tem vantagens. E desvantagens.
Sempre tive a noção da grandiosidade das mulheres da minha família. A minha bisavó – Ana -, que conheço apenas por fotografia, era uma mulher robusta, muito mais que o meu avô (o marido dela). Contam-me que era uma mulher muito forte, séria e muito exigente. Mas nas fotografias parece-me terna, atenta, carinhosa. Teve três filhos – duas mulheres e um homem. A minha tia-avó – Tereza – (uma das filhas da avó Ana) guarda até hoje um tacho com que faz ‘barriga de freira’, um doce conventual do qual só conta a receita a ‘pessoas especiais’. Acho que foi da avó Ana que ela herdou o gosto pela cozinha. Esta Tereza – com ‘z’, “à antiga”, é uma força da natureza. Enérgica, cheia de força, criou duas filhas – mais duas mulheres – sozinha. E claro, criou ‘a meias’ com a minha avó os quatro filhos dela – metade/metade. Dois rapazes e...claro...duas raparigas. É atenta aos pormenores, escreve muito bem e cozinha ainda melhor. Dá tudo o que tem - e também aquilo que não tem - mima netos, sobrinhos-netos, netos de amigas e de amigas de amigas. É um verdadeiro coração. E cheio.
A minha mãe é a segunda filha dos meus avós, mas tem postura de filha mais velha. Sempre foi a mais alta dos quatro. E a mais responsável. Tem umas pernas perfeitas, uma figura esbelta, uma paciência – como se diz - de Jó. Teve cinco filhos – um rapaz e quatro raparigas. Podia falar de cada uma em particular, mas somos tantas que fico por aqui.
As mulheres da minha família são protectoras. Muito, e especialmente em relação aos homens. Poupam-nos por serem minoria, por serem homens, por serem eles e não uma delas. E muitas vezes não percebo essa hiper-protecção. As mulheres da minha família são muitas. São galinhas, falam pelos cotovelos, gostam de opinar sobre tudo, de participar em conversas privadas que (esperam) tornam comuns. Gostam de mandar bitaites sobre roupa, opções de vida, dinheiros e até sobre o tempero da salada. As mulheres da minha família gritam e riem muito juntas. Ouvem-se e interrompem-se constantemente, Instalam a confusão com malentendidos, com palavras ouvidas de maneira diferente e com perdas de chaves que muito indignam e irritam o meu pai. As mulheres da minha família têm personalidades fortes, têm bom gosto e gostam de saber da vida umas das outras. São engraçadas, alegres e discretas. Sabem que ocupam um papel de destaque na família, e desempenham-no primorosamente.
As mulheres da minha família são muitas. Tantas, que mesmo que não se comemore todos os dias o Dia Internacional da Mulher, lá em casa é sempre - e felizmente - o nosso dia.

domingo, março 08, 2009

Isso querias tu...

Fossem os lábios feitos da mais forte das colas, e colar-se-iam para sempre num beijo eterno. Querias tu nunca mais dizer-me adeus, até logo ou até já. Querias tu não ter nunca mais de te despedires de mim, ficando apenas a incerteza do próximo vislumbre. Que os nossos braços se envolvessem num abraço sem dormência; que os nossos corpos fossem atraídos por um íman inexplicável. Que a pele doesse com a distância e se colasse, assim, sem mais nem menos, pela mera presença. Que o céu fosse cinzento escuro sempre que não estivesses, que o mar se revoltasse e galgasse a terra ao ver-te partir para longe de mim. Que o vento fosse insuportável e arrastasse todas as árvores à tua partida...e as voltasse a plantar com as mais profundas raízes no momento do teu regresso. Que a mais terrível tempestade se levantasse mal virasses costas e me olhasses pela última vez com os olhos tristes e já cheios de lágrimas. E que o S. Pedro fosse tamanhamente alérgico ao mau tempo que convocasse todos os santos e os deuses e lhes exigisse que estivesses sempre perto de mim para que o sol brilhasse todos os dias e todas as noites.
Que o meu coração não batesse senão por ti. Seria -então - e apenas assim - atenuado o sofrimento por estares longe de mim.

quarta-feira, março 04, 2009

Colecção

Está arrumada por categorias, por cores, por letras, por texturas. Mais macios, mais densos, mais cheirosos, mais largos, mais simpáticos, mais amigáveis, mais sinceros. É difícil ordenar este género de pertences. Há elementos fáceis de ordenar, só de olhar é possível distingui-los dos outros, atribuir-lhes um nome, criar-les uma regra. Mas há outros que, por mais que se puxe pela cabeça, vão permanecendo na divisória dos indiferenciados. É impossível atribuir nome a qualquer coisa igual a outra, a um mesmo nome, a uma mesma cor. É aquela, esta, a outra. X, Y, Z, N. Não tem existência própria; é tão e somente outra depois da primeira. E isso já torna a primeira irrelevante. E junta as duas numa divisória de conjunto, onde as características comuns não são mais do que elementos que as distinguem das restantes, mas que não as distinguem uma da outra.
A caixa acumula pó nas prateleiras, vai transitando pela mala do carro, porque ele não gosta de a deixar pelos armários poeirentos do escritório, e gosta de a levar para casa, sempre a fazer-lhe companhia. Uma colecção assim, com tantos anos, guarda já elementos antigos, envelhecidos pelo tempo. Guarda gargalhadas, guarda imagens turvas de memórias que foram desaparecendo com o passar dos anos. Mas a perfeição do início não é a mesma de agora. Ninguém disse que coleccionar pessoas é fácil.

terça-feira, março 03, 2009

segunda-feira, março 02, 2009

Não percas tempo com parvoíces. Procura o que te faz feliz

El tiempo corre muy de prisa. Lo único que no te va a gustar de la vida es que te va a parecer demasiado corta.

domingo, março 01, 2009

Madrid me mata, me pone, y me encanta


Porque Madrid no es nada especial,
No tiene un gran rio, ni apenas rascacielos,
No tiene ruinas, ni playa, ni mar.
Pero tiene el rincón inesperado, la animación constante, la variedad.
Vale la pena levantarse temprano por una vez para vivir un dia la vida de Madrid.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

lenga-lenga

Tenho uma paixão. Chama-se rádio.
Tenho uma amiga. Chama-se Meg.
Tenho uma rúbrica. Chama-se Bloco de Notas. É às sextas. Todas. Ou as que nós quisermos. Aqui. (no podcast da minha amiga Meg, que tem uma paixão por rádio, tal como eu)

Carnaval três

Mostra-me a tua máscara. Esfrega a lâmpada e pede três desejos. Hoje, só hoje, podes realizar os teus maiores sonhos. Não te acanhes. Pede. Pede que eu estou aqui para os satisfazer. Não tens de fazer sacrifícios, esfolar a pele dos joelhos com rezas nem preces. Pede apenas, pensa com força e eles realizam-se. Se quiseres voar e ver o mundo, voarás. Por cima das casas é tudo mais pequeno, e mais acessível. E tu, com o mundo a teus pés, podes sentir-te todo-poderoso. E se quiseres descansar, deita-te em qualquer lado e descansa. O tempo vai parar para não perderes pitada. Descansa bastante que o mundo pára só para que não percas nada do que se passa. E se quiseres permanecer, bem. Também se arranja. Sobrepõe máscaras. Guarda-as bem. Não as mostres a ninguém. E não peças nada. Sê apenas. Pleno. Em cada coisa.

Carnaval dois

Podes mascarar-te. Fazer trinta por uma linha. Dizer-me que por um dia és princesa. És super-heroína. És vagabunda. Podes jurar que não és tu mas outra que se me mostra. Que qualquer dia vais ser mesmo assim igual a todas essas coisas que prometes. Podes tentar entrelaçar os teus dedos nos meus de maneira diferente. Jurar a pés juntos que te transformaste com essa roupa. Que hoje fazes todas as loucuras, que gritas a Lisboa que me amas, que vais atacar-me com beijos ao som da sirene que eu nunca consigo ouvir. Podes tentar provar-me que hoje os teus beijos são menos apaixonados, que o teu coração bate menos do que ontem, ou que não é contigo que eu vou ser feliz.
Não me convences. A tua pele é a mesma. As tuas mãos têm a mesma suavidade. Essa máscara já eu conheço. Tens tantas. E eu? Eu podia apaixonar-me por ti outra vez. Convence-te. Qualquer que seja a máscara, já conheço a tua essência.

Carnaval um

Enquanto eles se passeiam pela curta avenida - mas a mais comprida cá da terra - cheios de folia carnavalesca e a pedirem atenção constante, os passos que eu dou são a pensar em ti. Quero abraçar-te quando chegar a casa. A música leva as ancas a balancear, para lá e para cá. Os chapéus coloridos lembram as pessoas de que o tempo é de festejos. Todos se vestem de maneira diferente. Querem ser alguma coisa que sonham, ou então que nunca sonharam. Ou simplesmente, querem ser diferentes de todos os dias. As colunas altas invadem as ruas com canções cantadas em brasileiro - o maior dos foliões. Os miúdos correm por entre a gravilha do separador da avenida, e quase atropelam aqueles que, como eu, têm o pensamento longe. E a hora de te abraçar nunca mais chega. Caminho em procissão. À minha frente, outros miúdos da idade do teu irmão mandam serpentinas aos que observam a passagem do cortejo. E eu ando automaticamente, e páro sempre que eles param. Não olho para trás nem reparo na guerra de balões de água, que disputam a atenção das miúdas penduradas à varanda do prédio do cruzamento. E nem a luz do dia aquece o meu estômago - porque o sol não reflecte no preto -, nem sequer a música me entra nos ouvidos. O amarelo, o azul e o resto da paleta transformaram-se em cinza há muito. Varia apenas o grau desta cor fria - ora mais escuro, ora mais claro - aos meus olhos. Não consigo sequer bater o pé nas paragens, a acompanhar o compasso. Porque simplesmente não o oiço. E quem me olha sabe que as minhas roupas pretas escondem o meu medo diário.
Medo não. Certeza.
Sei que vou chegar a casa, procurar-te no teu quarto e ver que tudo está intocado. Como desde o dia em que não voltaste. Sei que, mais uma vez, quando chegar a casa e for à tua procura para te abraçar, tu não vais estar.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Fim-de-semana


Toca o despertador com regras, a lembrar a semana de trabalho, mas o céu está azul por cima de nós e a calçada pede que partilhemos com ela os nossos passos. Banho apressado, saímos cheias de planos, como se Lisboa fosse um mapa-mundo inteiro por descobrir. Há uma aula de dança a ver, uma conversa, há perguntas e respostas e dúvidas e hesitações, por entre passos barulhentos de sapatos com salto e biqueira forrados a metal. Há uma escada a pique para descer, e um eléctrico que sobe ao mesmo tempo e pelo qual, se não nos desviarmos, seremos atropeladas. Há cafés que nunca vimos, lojas em que nunca reparámos; há conversa sem mais nem porquê e convites para almoços 'no melhor restaurante de Lisboa'. Há expressões cansativas de tão repetidas, e que ficam nos ouvidos de quem nos ouve dizê-las em toda e qualquer circunstância, como um dialecto que se propaga à velocidade da mais contagiosa das doenças. Mas boas. E depois há um passeio pelo Chiado, há mensagens e chamadas a perguntar onde estamos, e nós perdidas naquela luz que tanto nos cega como nos encanta, e que cria em nós um encantamento que não sabemos explicar. Há um almoço-fábula, entre paredes de pedra, galerias de arte e máquinas de costura. E voltamos a dividir comida e bebida, e conversa - que nestes dias parece que a conversa não se esgota entre as palavras ditas e as não-ditas - até dividirmos também opiniões, em relação a vestidos e a casacos e a calças e a chapéus, numa loja da baixa. E depois descemos e passamos pela rua Augusta, tão emblemática e tão cheia nestes dias em que o sol é para todos e se ouvem todas as línguas pela rua. E quando damos por nós, falamos também já todas as línguas numa mistura que entendemos como nossa e que leva os outros a pensar no número de garrafas que teremos bebido durante o almoço. E depois subimos pela Sé e cruzamos a rua por entre os carris do eléctrico, entramos e saímos da galeria num ápice, mas não sem antes lermos todas as quadras apaixonadas de todos aqueles lenços que dantes os namorados mandavam aos donos dos seus corações. E subimos mais, já as pernas pedem por descanso. Sentamo-nos agora, olhos-nos-olhos com o Tejo - Tajo - e falamos com ele, como se fôssemos amigos de longa data (ou não seremos mesmo, depois de tantas conversas em madrugadas, e em noites de lua cheia, e em dias de temporal...que é disso que se fazem as grandes amizades?). E levantamo-nos que o dia já vai longo e ainda temos de subir ao castelo para sermos princesas amanhã, e depois voltar a descer e subir alto ao Bairro, para aconchegar o estômago vazio com um chá de frutos e uma torrada a dividir por duas. E no caminho, há carros que falam com os condutores, há Alexandre que fala espanhol com ingleses, e também connosco, há espanholas perdidas como nós nesta cidade que é nossa. Subimos, descemos e subimos. Voltamos a descer, já nos Restauradores; e há música na rua, balões em forma de coração voam e enfeitam os restaurantes; e voltamos a subir, pela escadinha a pique, com os degraus todos diferentes. Que o carro ficou no alto de uma das colinas. E elas são sete e ainda temos muito que andar, e...além disso, ainda é Sábado. Vamos?

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

|Pause|


Parei para pensar que os dias não são todos iguais. Que a noite não começa quando o sol se põe e a aurora não se acende quando os pássaros de Lisboa inauguram 'seus doces cantos'. Parei para saber o que é a cadência das horas sem precisar de olhar para o relógio. Para perceber que um e um pode ser um e não tem de ser obrigatoriamente dois. Parei para dar valor às vossas piadas, para perceber o papel que cada um ocupa na minha vida, como se as vivências apressadas do quotidiano já não se tivessem encarregue de o fazer. Parei por saber que se um ciclo se fecha, outro começa com mais força, com mais pujança, com outra vontade. Para pensar na velocidade com que o tempo passa. Para saber que sinto a falta, que valorizo, que amo e odeio, com a mesma força. Mas com mais tempo. Parei para dar valor à pressa dos dias, e para apreciar a calma das horas. Para perceber que depois do caos, a redundância encarrega-se de restabelecer a ordem. Parei porque quis. E agora, ando por aí a aproveitar a pausa.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Cheiras a noz moscada

Havia uma cadeira pequena, de pinho claro, onde eu me sentava horas a fio à tua espera. Lembro-me que na véspera, mal conseguia dormir a pensar que vinhas, e logo de manhã, mal me vestisse, sentava-me no telheiro da cozinha a pensar no momento em que veria o teu carro passar o portão. Vivias longe, viamos-te pouco e eu sentia muito a tua falta. E não havia maneira de arredar pé dali, antes que chegasses. Mal via o carro passar o portão, corria à cozinha a avisar toda a gente. Os manos mal reagiam, mas eu não fazia caso. Abria a porta que dá para a garagem e, com todo o cuidado, descia as escadas. Caí lá muitas vezes a descê-las com a pressa, por isso não podia arriscar. O teu cheiro lembrava-me frutos secos ou noz moscada. Não que eu soubesse exactamente a que cheirava a noz moscada, mas sei que o teu cheiro era quente. Familiar. Cheiro em tons pastel, sabes? E cheiravas sempre ao mesmo. A avelãs, a camisolas quentes, a lenha de lareira ainda por acender. Cheiravas a castanho, a Outono, a chocolate negro.
E vejo agora que estes cheiros são bem diferentes. E na altura pareciam-me tão iguais, como nós éramos. Como eu fazia questão que fôssemos. Só que as coisas mudam. E eu apercebi-me que o modelo que eras não era, afinal o modelo que eu pensava que eras. Agora sou eu que te visito, que as tuas pernas já não conseguem acelerar o carro vermelho como dantes. Nem os teus olhos são tão rápidos para acompanhar as velocidades da auto-estrada. Nem sequer os teus braços conseguem mover-se de maneira a manejarem sem dificuldades o volante. Pediste-me de maneira irrecusável e eu fui. E tu disseste-me que ficaste sentada na tua cama - que o quarto tem uma janela enorme que dá para ver a estrada e o parque de estacionamento - a esperar por mim. E eu apercebi-me do quanto as coisas mudam. Só que não sabes a cor do meu carro. Nem o modelo. Nem a matrícula. Como é que conseguirias esperar-me assim, como eu te esperei tantas e tantas vezes. E será que, quando me cumprimentaste, também te cheirei a chocolate negro, e a frutos secos, e a noz moscada?

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Não há quem me bata como eu

No ringue de combate, não há quem me bata como eu. Bato-me com força, sem piedade. E sem me olhar nos olhos.
Embato nos elásticos de protecção e o choque sem dó, sem amparo, sem cuidado, pisa a minha pele. Marca-a. Deixa nela um rasto. Pisadura. Nódoa-negra.

Ninguém me bate como eu. Vou com tudo, aposto até não conseguir mais com a dor. Perco até saber que não posso mais ganhar. Inflinjo-me sofrimento alheio, e alheio-me ao meu. Nego-o. Contra os elásticos do ringue. Com força. Violentamente. A frio. Sem piedade de mim.

Na minha pele, fios vermelhos, depois negros, roxos, amarelados. Uma evolução constante na cor. Uma permanente compensação. Persistente renovação. Reinvenção.

As marcas velhas, gastas, antigas, transformam-se com o tempo. Mas nunca chegam a desaparecer porque se renovam constantemente.

Tenho um corpo marcado pelo jogo de gato-sapato que faço de mim própria. Sem saber desde quando e até quando.

Toda a minha pele é nódoa negra feita por mim. E eu chaga, em mim mesma.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

i want my sun back

Corrente de ar

Fecha-se a porta e estremece o corpo, do estrondo. Há correntes de ar que não conseguem evitar-se, por mais que se encostem as janelas. Nem casacos que valham às vezes, por mais que nos agasalhemos. Frio, é todo de aragem que nos causa dormência nos pés, que nos incomoda o estômago, e que até nos pode chegar a gelar a alma. Chega de mansinho, às vezes calma e pacientemente, na maioria delas sem avisar. Vem rápido e assusta. É como uma surpresa, uma visita inesperada a quem não queríamos mostrar a nossa casa. Ocupa-nos muitas vezes o refúgio, mexe-nos nas memórias, gela-nos o pensamento. Muitas vezes achamos que não passa, que nunca mais passa.
A corrente de ar arrepia, causa transtorno, provoca um batimento acelerado do coração. É atleta de velocidade, passa num ápice. Transforma. Assusta. É consequência. E causa. É razão de ser. Ou não.
Fecha a porta por favor. Não gosto de surpresas. E constipo-me com facilidade.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Te lo dije, Juan António! Te lo dije!


Há amores que nunca chegam a sê-lo. Histórias que nunca se encontram, pelas mais diversas razões. Caminhos que não se chegam a cruzar por mero acaso. Dentro das relações, há algumas verdes demais para conseguirem sobreviver. Há encontros fortuitos que, de tão ocasionais, podiam resultar em bonitas histórias de amor, mas há qualquer coisa que não os deixa evoluir. Há química à primeira-vista. Olhares que se cruzam e envergonham, sorrisos cúmplices mesmo sem passado. Há relações que, à primeira vista nunca resultariam pela incompatibilidade evidente dos próprios intervenientes, mas que acabam por permanecer, seja por insistência, por esforço, por dedicação, empenho, amor ou até por medo de não encontrar melhor. Em Vicky Cristina Barcelona há um amor que, pese o esforço e as infinitas tentativas, nunca resulta apenas por ele mesmo. Numa altura do filme, muito poeticamente - e muito ao jeito de Woody Allen - Juan António (Javier Bardem) afirma que tem a sensação de que ele e Maria Helena (Penelope Cruz) foram 'feitos um para o outro' mas ao mesmo tempo 'não foram feitos um para o outro'. Na verdade, só com o aparecimento de um terceiro interveniente - o elemento que faltava - a relação de ambos resulta. Neste caso a três. E quando esta parte falha, deixa os dois em maus lençóis. A relação a dois, não resulta com eles. Te lo dije, Juan António. Te lo dije!

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

No mundo à parte

Caminharam as três pelas ruas da baixa. O dia esgotante culminou num passeio sobre a calçada portuguesa, tão ao gosto dos turistas, tão pouco ao dos saltos altos. Conversaram, tomaram café, discutiram, interromperam-se. Discutiram ideias e trocaram perspectivas. Havia um trabalho novo, uma possibilidade, uma novidade que ainda era segredo. Decidiram entrar naquela igreja no final da rua, à espera de uma oração cantada. Abriram a porta de madeira, alta, e ela chiou, com o esforço. Sinal do tempo, do calor, do uso. Entraram. Havia umas 15 pessoas, distribuídas pelos bancos da nave principal. Sentaram-se as três, lado a lado, sem falarem. E assim ficaram, à espera que aquele momento fizesse reflectir aquilo que mais desejavam. Ali, entre elas. E no mundo lá fora.

domingo, fevereiro 01, 2009

gostava de nadar fundo. gostava de ir lá abaixo e ver o que lá há.

Acordo com um sussurro. Há uma voz trémula, sem compasso, irregular. Um choro abafado, e palavras, muitas, seguidas. As frases tornam-se difíceis de perceber porque está longe, e fala baixo e depressa. Abro os olhos, inchados. Olho para o relógio, debaixo da almofada. É cedo. E parece que ainda não acordei. E aquela voz cria um ritmo, uma melodia. É fundo à chuva que cai lá fora. E ao sopro enfurecido do vento. Ouço com atenção a ver se percebo. Nada. Nem uma palavra. Não quero interromper a oração. Espero. Queria perceber e agora tento abafar as palavras. Tento fechar os olhos e voltar a dormir. É cedo. Cedo demais.
Trémula, abraça a botija onde a água já está morna. Encosta-se ao cadeirão, no cantinho. Aconchega a manta no colo. É frio. É cansaço.
Ajeita a almofada. Passa a botija para trás. Levanta-se. Vai buscar um copo de água. Senta-se. Levanta-se. Vai buscar um guardanapo. Senta-se. Levanta-se. Vai buscar outra qualquer coisa que já não me lembro. Quebra o silêncio. Frio. Cansaço. Solidão. Passos incertos. Não consegue assinar o nome. Perde a identidade pela incapacidade de se escrever. Sente-se fraca. Diminuída. Fala da doença. É a doença. Não a idade. É a doença que me põe assim. Reduzida a um corpo débil, velho e cansado, dormente a maioria das vezes. Doente. Preciso de dar um jeito em mim mesma, ver se tenho alento. Já lhe dava jeito, já. A ver se consegue nadar bem fundo, a ver o que há no fundo do mar.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

29.01.2001

Toma. Uma prenda para ti.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Foi sem mais nem menos

Moreno, cabelo às ondas que mais parecia um mar revolto. Sorridente. Amigo. Lembro-me bem de ti, das tuas gargalhadas encostado à entrada da escola. Da maneira como coçavas a cabeça quando querias pensar em alguma coisa. Dos teus dentes alinhados. Marcou-me o teu gosto por ajudar, sempre que podias, os teus amigos. Eras um bom amigo, daqueles verdadeiros. Daqueles que nunca se esquecem, que não se esquecem de nós, que querem o nosso bem.
Tinhas uma paixão por motas. Imensa, verdadeira. Uma paixão daquelas assolapadas, que nos deixa sem fôlego, que nos leva a fazer tudo por ela. Que não deixa espaço no pensamento para mais nada. Há algum tempo que não te via antes de me terem dado a notícia. Lembro-me que pesou no meu dia o teu acidente. E pesou-me, em mim, a partir daí, a tua falta. O semblante carregado dos teus amigos de sempre, à espera que tudo fosse um pesadelo e que pudessemos acordar a qualquer hora. Mas não era. Foste mesmo tu que, a caminho do trabalho, pouco passava das 7 da manhã, ligaste pela última vez a mota sonhada. A mota finalmente vivida. Foste mesmo tu que, assim, sem mais nem menos, tiveste azar de estar no sítio errado à hora errada. E quando os factores se juntam assim, a resistência não chega. Nem a paixão. Foste tu que, nesse dia, não resististe.
Sete anos sem escrever uma linha sobre o assunto. Há dias que nos marcam mais do que podemos sequer imaginar. A paixão pode matar. Literalmente.
E isso não tem nada a ver com justiça. Tinhas 17 anos, caramba.

terça-feira, janeiro 27, 2009

O homem do sorriso rasgado

És um homem de ossos salientes no queixo e grandes olhos castanhos. Pouco resta da cara de menino, redonda e de bochechas que apetecia apertar a toda a hora. Cresceste e és assim. Estás feito um homem. És profissional como sempre disseste que serias. Levas cada desafio como fim em si mesmo - enquanto não alcanças, não descansas. Há palavras que te ficam bem na boca, e tu, di-las sem receios. Sabe-las de cor. Há outras que em tempos ouvi saírem-te da boca, disparadas e em total descontrolo. Tantas vezes insististe para que conseguisses guardá-las dentro de ti que, agora por mais que às vezes eu queira recordá-las, não consigo. Deixaste de as dizer e eu deixei de me lembrar delas. A verdade é que ficavam muito mal na tua boca. E agora, deixaram de constar do teu vocabulário. Cheiras a maturidade, a complacência, a ponderação. E continuas a cheirar àquilo que sempre cheiraste. Pelo menos quando te aproximas e me dás um beijo de boa noite. Portanto, confesso-te que acho que ainda há coisas que não mudaram. Continuas a ter um sorriso apaixonante. Eras um miúdo e agora és um homem. O homem do sorriso rasgado. Só que se não fossem os teus olhos a tirar-me as dúvidas, às vezes ia jurar que não és tu que sorris.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

I know you feel me baby

My heart my head my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am to you
My heart my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am
When you're gonna pick up the phone and call me
Some times I wanna give you up
Some times I want to leave you alone
Some times I want to run away
And some times I want you to come back home
Come home to me yeah yeah baby
I know I know you'll be good for me
Come home come home
Yeah baby
I'm right here baby
Come home to me
Yes I'm right here baby
Yeah all I am to you
I know you feel me baby
Yeah yeah
Come on come on
Home to me

Fragmentos


Já te disse que me fizeste. Já te apresentei razões suficientes para acreditares. És carinhoso quando estás, és coerente nas palavras e nos gestos e nem sequer revelas demasiado. Mas falta uma coisa. Fazeres-te meu.


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Sinto-te desde sempre ao meu lado e nem todas as palavras do mundo serviriam para descrever a importância que ocupas na minha vida. És uma importante bússula que me guia os movimentos, um GPS cuja bateria nunca falha aos olhos dos outros, um ídolo pela tenacidade, pela força e pela resistência. Mas sei que às vezes precisas, tu também de um abraço. E eu estou aí. Não te vou falhar.


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Tens a voz mais doce do universo. És sangue que me corre nas veias. Sem ti corroo-me, deixo-me perder. Contigo encontro-me, descubro-me, invento-me. Só de pensar em perder-te desfaleço. Imaginar que não estás, mata-me. És eu.


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Quantos fragmentos de gente cabem em mim?

terça-feira, janeiro 20, 2009

It's 'O' time


Our challenges may be new. (...) This is the meaning of our liberty and our creed - why men and women and children of every race and every faith can join in celebration across this magnificient mall, and why a man whose father less tahn sixty years ago might not have been server at a local restaurant can now stand before you to take a most sacred oath.


Congratulations, Mr. President!

quarta-feira, janeiro 14, 2009

De há 24 anos para cá

Eram 16h50m quando me olharam nos olhos pela primeira vez. Entretanto, tinha estado 9 meses certos na barriga da minha mãe, que diz que logo que me viu me achou o bebé mais lindo de sempre. Tinha o cabelo preto e em pé e parece que logo a partir da primeira semana de vida comecei a dormir a noite toda. Adorava estar na ronha, tanto que era preciso apertarem-me os dedos dos pés para acordar e comer. Foi - desconfio - desta fase que resultou a minha 'hiperactividade' actual. Gosto de conhecer sítios novos, mas gosto de estar também nos antigos, nos de sempre. Gosto de músicas melodiosas em dias tristes e em dias felizes. Tenho de me sentir útil, fazer planos, sair de casa, conversar. Sou impulsiva com os amigos, com o namorado, com a família. Com pessoas que me dizem alguma coisa, que me obrigam a pensar por mim e não se satisfazem com menos do que aquilo que esperam de mim. Adoro chocolates, muito mais desde que a palavra 'dieta' entrou no meu vocabulário quotidiano. Antes, na verdade, os doces em geral diziam-me pouco. Mordo o interior da minha boca, tanto que até o meu dentista já recomendou que pare. (Parece que corro o risco de abrir uma cratera numa das bochechas.) Adoro ir a casa ao fim de semana. Porque...enfim...porque cheira a casa, sabe a casa...porque é casa e isso diz tudo. Gosto de falar ao telefone, mas gosto mais de falar cara-a-cara, a não ser que a cara esteja tão má que um contacto mais directo seja de evitar. Não gosto especialmente de mandar mensagens, de falar pelo 'mensageiro'. Gosto de escrever cartas, adoro datas, detesto bolo-rei e não consigo evitar adormecer a ver filmes, à noite.
Dizem que sou igual ao meu pai e a minha mãe fica aborrecida com isso, principalmente quando sou eu a dizê-lo. Realizo-me a escrever, cresço a perguntar, penso baixinho e às vezes não digo o que acho. Outras vezes falo demais, arrependo-me, peço desculpa e entro em hibernação, com medo que mais ninguém erre tanto como eu. Assumo responsabilidade quando a tenho. Mas recuso-a quando ela não é minha. Prezo a verdade, acredito que os sonhos se podem realizar. Insisto até não ter forças para mais ou até deixar de acreditar. Sei o NIB de cor - assim como muitas datas, e muitos números de telefone, mesmo aqueles que já estão inactivos e dos quais ninguém mais se lembra - e isso assusta muita gente. Sou hipercrítica comigo e adoro que os outros o sejam também. É sinal que me levam a sério e estão atentos, tanto como eu. Decoro toilettes inteiras, e isso surpreende as minhas amigas que riem à gargalhada quando lhes digo aquilo que traziam vestido em tal dia e em tal situação. Gosto de dançar acompanhada, na rua e de pôr o rádio no máximo quando passa uma música de que sei a letra. Sou poeta na escrita, pragmática no pensamento, prática na acção, céptica na vida. E desconfiada.
Sou a primeira filha e a primeira neta, e isso fez com que me tornasse demasiado chata, implicante, e exigente, sobretudo com os meus irmãos e as coisas deles. E também sisuda demais, até para o meu gosto. Procuro constantemente o equilíbrio, e travo duelos sangrentos com o 8 e o 80, que teimam em 'monopolizar' as minhas acções.
Sou vaidosa, mas não o suficiente para me ver ao espelho nas montras. Sou corajosa, mas não o suficiente para tocar em bichos esquisitos. Sou calculista, mas não o suficiente para trair um amigo. Tenho outros tantos defeitos que não posso enumerar agora porque a idade já não me permite lembrar de tudo. Fica para o ano. Gosto do meu espaço. Mas gosto mais quando posso partilhá-lo. Nasci faz hoje 24 anos - "Ai, como o tempo passa", dizia logo de manhã a Titezinha, quando ligou a dar os parabéns - , o que faz de mim um fruto da 'colheita' de 85 que - modéstia à parte - é das melhores de sempre.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Caos no aeroporto*


É feito de um ar pesado, o ambiente que se respira no aeroporto. Seja a que hora for, de partida ou de chegada, a entrada é feita de expectativa. Há no ar um tom pesado de apreensão. Há receio e curiosidade quando se olham os grandes ecrãs que listam os balcões do check-in ou a hora de chegada. Delay a vermelho intermitente. Landed a verde, letras gordas - e que parece - respiram de alívio. Há gente que se abraça na passagem pela segurança, lágrimas de saudades ainda nem foi a despedida. Gente que entra apressada com medo de perder um último abraço; confusão na fila por um último café falado em português; palavras a seco que nem a boca precisa de mexer-se para as mãos se tocarem. Recomenda-se juízo, precaução. Boa viagem. Entre abraços e beijos, aterro em mim. Apercebo-me da grandiosidade da decisão. Preparaste as coisas tão criteriosamente que parece que desde sempre ouvi falar desta viagem. Tanto que sempre foi um plano e nunca tinha pensado nela como realidade. E ela aterrou-me no colo sem me aperceber, leve, levezinha, uma verdadeira pena. Arrisco a solidão de ficar, sabendo que parto contigo, eu mesma, por momentos. Parto nas conversas, nos emails, nas confissões. Parto nos sonhos que ficaram por concretizar. Parto sem sair daqui - que alguém tem de ficar - mas indo e voltando também. Da partida, sabemos apenas quando vamos. Antes dela, é apenas uma miragem.

Não fico pela Portela à espera do regresso porque não gosto do barulho dos aviões. É agudo. É ensurdecedor. É dormente. Faz doer a cabeça. Mas confesso que gosto de regressos. É sinal que nas viagens, tudo muda e nada se altera. Dentro do caos do aeroporto, aquece-me a lei de Lavoisier. Nada se perde. Nada se ganha. Tudo se transforma.


*(Ou crónica sobre a partida e chegada; sobre a despedida e o regresso. Ou ainda uma carta à minha querida Meg)

Agenda em imagens


Por detrás de uma história - acreditamos - há imagens. Rostos que nos marcam, locais que não esquecemos, recordações que ficam guardadas e que, muitas vezes, registamos através de uma objectiva. Para partilhar convosco novos olhares, agora a cada segunda 2ª feira de cada mês, há estórias ilustradas Na Nossa Agenda. A primeira já lá está: é da Susana Marques...Um olhar sobre o Mussulo.


Neste nosso projecto - contamos convosco. A nossa agenda é vossa também! Vejam, comentem, e colaborem!

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Ela

Há um túnel fundo depois da estrada. Há caminhos por percorrer, paralelos, que nunca decidimos escolher e por onde, por isso, nunca passamos. Há sol em alguns locais, noutros há chuva, frio. Tempestade. Há estrada por pisar que nem sequer vemos, ou porque fica muito longe, ou muito alto, ou muito baixo. Não a vemos porque a nossa visão não chega a ela. Há surpresas, há guinadas, mudanças de direcção. Conduzimos carros rápidos, empurrados pelo vento. Acessíveis a muitos, ao dispôr de poucos. Guiamos a velocidades variáveis: às vezes rápidas, outras vezes lentas, tantas outras em velocidade de cruzeiro, que dá para apreciar a vista. Somos flexíveis. Adaptamo-nos. Deixamo-nos possuir. Somos aquilo que fazemos dela. E ela é tantas vezes madrasta como mãe.

Final Cut

Ou um pequeno realejo...:)

sábado, janeiro 03, 2009

Pequenina

Põe-se a água a ferver no fogão, para um café. Depois do jantar sabe bem uma bebida quente. Está frio lá fora, e cá dentro há a lareira que nos aquece e nos faz esquecer por momentos que estamos no pico do Inverno. E quando a água começa a ferver e apago o bico para o pó do café não fazer sair a água da cafeteira, lembro-me de ti. Café feito em casa, cheira e sabe a ti.
Cada vez que entro na tua cozinha, parece-me que estou noutra casa. Era uma casa cheia de vida. Quando chegávamos, havia sacos no hall de entrada. Cheirava sempre a sopa e logo que descíamos o degrau de madeira, à entrada da cozinha nova, a porta estava fechada e o vidro completamente embaciado. Estavas muitas vezes ao fogão, a cozinhar. Os teus cozinhados sabiam ao teu cheiro e fazias o maior arroz branco do mundo.
Ajudavamos-te a pôr a mesa, sempre com o guardanapo de pano para o avô e de papel para todos os outros. Quando íamos passar fins-de-semana, fazias as comidas favoritas de todos. Sopa de grão, rosbife, jardineira. Sabias exactamente daquilo que cada um gostava e não abdicavas de nenhum em detrimento de outro. Tinhas plena noção do conceito de família. Chamavam-te Pequenina. Não por seres baixa, mas por seres a mais nova dos três.
Agora, no hall há cartas por abrir, por pessoas que já não estão. Há uma porta de armário caída, cheira a inércia. Dantes, eras tu que varrias as escadas todas as manhãs. Era o despertar do dia, com um cigarro que nunca travavas no cantinho da boca e o avental já posto. O barulho da vassoura e da pá na alcatifa parece tão familiar como ausente. Há muito tempo que não o oiço. A cinza do cigarro às vezes ficava retida nos óculos, pendurados ao peito. Como quando cozinhavas e a farinha ficava também num mini-depósito nas lentes dos óculos graduados.
É destas tuas recordações que vive a minha memória de ti. Pequenos laivos que me lembram das tuas manias, de esconderes chocolates na gaveta da mesa de cabeceira, de compores o longo cabelo louros - de um louro quase branco - que só descobríamos quando, de manhã, tiravas os ganchos, desmanchavas a 'banana' e voltavas a penteá-lo. Fazias lembrar uma princesa nas fotografias de casamento. Tinhas uma postura real, quase de rainha, um porte sofisticado e uma importância de pilar. De quem tudo decide mas de quem raramente fica com os louros. Achava piada a que tivesses sempre uns sapatos de salto alto, no carro, do lado do pendura, que calçavas sempre que saías do carro. Entretanto, enquanto conduzias, levavas os chinelos que eram muito mais confortáveis para a tua condução. Sempre que íamos às compras, chegávamos a casa e punhas-te na entrada, sentada sobre os teus joelhos. Pegavas no talão e confirmavas com a nossa ajuda se tinha vindo tudo. Tinhas uma energia subtil, uma voz doce, uns olhos azuis-mar. Eras mais do que a pedra-angular daquela casa: eras a alma.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Sobre o abraço #2

Chegaste a boca à minha e deste-me um beijo terno, de saudades. Tentaste lembrar-te há quanto tempo isso não acontecia. Pegaste na minha cara e as tuas mãos percorreram-na sem medos. Sabes-me de cor. E isso não me assusta.
Deste-me um abraço que durou horas e depois foste embora. E eu tive vontade de prolongar o beijo durante anos, e sentir o teu abraço eternamente. Para além do tempo.