Páginas

Redes Sociais

.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Sonho...Poesia.

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

Sinto muitas, demasiadas vezes que tenho em mim todos os sonhos do mundo. Crio em mim a ilusão de que é possível sonhar o todo como sendo totalmente acessível, fazendo recurso apenas ao pensamento. Pensar sem agir é, mais do que um desespero de quem o percepciona, de quem se apercebe de que é mesmo assim, pura poesia.
Outra vez, mais uma vez, para sempre…Fernando Pessoa.

“Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.

O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.”

sábado, dezembro 10, 2005


Brincar aos jornalistas

De início era um sonho. Dar notícias, escrever, intervir socialmente, proclamar os ideais de liberdade e justiça indiscriminadamente, mudar o mundo...
Estava no décimo ano e toda a força deste sonho fez com que, apesar de outros sonhos que teimei ignorar, seguisse este caminho que pensava mais fácil e muito menos sinuoso.
Não porque goste de caminhos fáceis – de todo! – mas porque o julgava, efectivamente menos difícil e sofrido do que, por exemplo, seguir o sonho da dança.
A entrada na universidade marca uma nova fase na minha vida, mas leva-me a questionar muito rapidamente a escolha feita: a vocação que julguei ter e me parece agora duvidosa, os idealismos que desaparecem num ápice, o medo do mercado de trabalho caótico que se aproxima a passos largos e sem avisar.
Este ano, apesar do número imenso de trabalhos a entregar em muito pouco tempo, tem sido muito mais interessante. Reportagens, gravações, fotografias, entrevistas, apresentações, revistas. É o renascer de um sonho que parecia, há bem pouco tempo, quase destroçado por tantas chamadas de atenção, notas baixas e faltas de interesse e reconhecimento de um trabalho dedicado.

Ontem fomos à SIC. Foi óptimo sentir o ambiente (como diz a Deb), sentir a frescura de cada notícia, o brilho do jornalismo no seu expoente máximo, a paixão por dar notícias. Talvez esse brilho esteja efectivamente mais nos meus olhos e nos de quem esteve comigo e se espelhasse nos olhos do jornalista Paulo Nogueira (afável, disponível, jornalista há 22 anos) e nos de tantos outros que se cruzaram connosco na régie (não sei se se escreve assim).
Sei no entanto, apesar das dúvidas que permanecem ainda (e ainda bem) que foi, uma manhã incrível. Para mim, para a Débora, a Catarina, a Raquel e para todas aquelas amigas a quem vamos contar todos os pormenores da visita: como nos sentámos na cadeira da pivot da SIC Notícias, como nos gozaram por estarmos a tirar fotografias, como nos acolheram, como nos encantou olhar para os computadores e ver "montar" o alinhamento do jornal das 11, como falaram connosco e nos explicaram o quão stressante é a vida de um jornalista, como nos ouviram nas nossas angústias de faltas de respostas, de tempo e de interesse, como lanchámos no bar, entrámos na SIC, saímos da SIC, "pequenalmoçámos" no bar da SIC, como vimos a Clara de Sousa, como o vimos, o sentimos, o amámos.
Mais ainda: que marcou o (re)nascer na minha esperança de me tornar, um dia, uma grande jornalista.

segunda-feira, novembro 28, 2005

O Trinta e Um


Acabei de tomar banho. Uma chuveirada não planeada mas que veio mesmo a calhar. Antes disso vi a minha osga de estimação, minha vizinha. Passo a explicar: dei por ela há dois ou três dias. Não mede mais que quatro centímetros, a minha osguinha. Vive de um lado para o outro do terceiro degrau do segundo lance de escadas do prédio onde moro, a contar de cima. Podem encontrá-la lá, a tentar fugir dos pés que, muito maiores que ela, teimam em passar – cima, baixo, cima, baixo, cima, baixo. Quando me vê a aproximar, insiste em passar do lado do degrau que está, para o outro lado, não vá eu deixar de a ver. É uma provocadora.

Mas passemos à história propriamente dita.
Desde que vim para Lisboa que não gosto muito de andar de autocarro. A antipatia não tem a ver com os autocarros propriamente ditos – o mal que poupam ao meio ambiente (penso eu) compensa o estado em que alguns desses belos exemplares se encontram – são praticamente relíquias, quase peças de museu…alguns até elementos constituintes de um qualquer ferro-velho.
Pois bem…não gosto de andar de autocarro sobretudo por causa dos condutores, senhores motoristas de autocarro (esta observação vem a propósito de outros condutores com os quais ainda simpatizo menos – houve um, uma vez, que me obrigou a tratá-lo por senhor motorista de táxi).
Só que hoje alterei a minha visão acerca destes senhores e percebi, mais uma vez, que não devo, nunca, generalizar e pensar que por dez ou vinte "exemplares" serem de uma determinada maneira, isso não quer dizer que sejam todos assim. Acredito que não há regra sem excepção.
Jantei fora, sozinha. Sopa e salada de frutas. A mando da minha nutricionista que disse que acha que eu assim vou “emagrecer imenso”…quanto a isso, vamos esperar para ver.
Desde manhã cedo que o céu estava negro mas eu não ia adivinhar que ia pôr-se a chover torrencialmente logo na altura em que eu saí do El Corte Inglês para ir para casa… a pé.
Não que seja longe…não é. Mas também não são só dois ou três minutos. São dez, doze ou treze, a andar depressa. Pois. Foi na altura em que eu passei a Gulbenkian que começou a chover mais. Mesmo muito. Comecei a sentir a chuva na cara, no cabelo, no casaco, nas botas, nas calças, a sentir os pés primeiro húmidos, depois frios, molhados, encharcados.
Atravessei a primeira passadeira sem esperar porque o sinal já estava verde. Senti a chuva mais perto enquanto esperava pelo segundo. Mais ainda na espera pelo terceiro. Corri depois em direcção a casa. O 31 estava parado na Praça de Espanha. Parei na paragem para me abrigar. O condutor estava sozinho. Olhei. Entrei. Disse boa noite. O cumprimento foi-me devolvido. Paguei. Sentei-me. Comentei a grande molha que tinha apanhado. Estava toda molhada, o cabelo a escorrer água, a sensação de liberdade à flor da pele, a vontade de sair do autocarro e continuar o caminho a pé. Perguntou-me se não tinha chapéu e à minha resposta negativa disse que só precisava de por detergente na roupa, já que a água, essa era dispensável. Comentou que se a chuva continuasse assim, os bombeiros da Baixa entrariam em serviço passados dez minutos. Enumerou uma séria de zonas de Lisboa que fariam escorrer as águas directamente para a Baixa da cidade, com a agravante da proximidade do rio.
Seguiu por Sete Rios. Em frente ao Jardim Zoológico entraram 5 pessoas. Duas mulheres comentavam a importância da chuva (“Há pessoas que não gostam mas ela é importante para tudo”, dizia uma). Outras duas riam por uma delas não encontrar o passe na carteira e por outra conseguir que o passe passasse através da carteira, sendo esta tão grossa. Já todos conheciam o motorista.

Eu não. Nem ele a mim.

Entrámos na rua das Laranjeiras. À entrada da minha rua perguntou-me em que número ficava. Achei de uma enorme amabilidade, agradeci mas recusei a oferta. Perguntou-me se era antes ou depois do viaduto. Disse-lhe que depois, mas que era tão perto da paragem que não havia problema de ir a pé. Insistiu. Parou mesmo em frente ao 43. As portas abriram-se e senti-me uma princesa. É incrível como existem pessoas tão especiais neste mundo às vezes tão cruel, que nos fazem sentir princesas nos mesmos dias em que sentimos as gotas de chuva a cair-nos na cara.

quinta-feira, novembro 10, 2005


Agora...Adeus.


Não sei se conseguirei dizer tão bem aquilo que Eugénio de Andrade diz melhor...
Foi Adeus...
Agora...
Hoje...
Aqui...
Ali...
Depois...
De sempre...
Para sempre...
Adeus.

Racionalizar tudo aquilo que se sente termina assim. Num adeus. Mais profundo. Mais intenso. Mais melancólico. Mais livre. Mais certo. Mais fulminante. Mais ADEUS...
Eras (tu). Foi (assim). Vai passar.

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisa fossem minhas:
quanto mais te dava, mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: "meu amor"
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Aqui e agora penso em ti. Adeus.

sexta-feira, outubro 28, 2005

A cabeça e o Universo
Pessoa disse "Dói-me a cabeça e o Universo". Adoro a frase. Acho Pessoa o poeta perfeito. Tudo é lindo nos versos, sublime na sonoridade, sombrio e iluminado nos sentimentos.

A vontade de fazer, a obrigação de cumprir, a urgência dos prazos, o stress das horas, tudo me faz pensar no caos que Fernando Pessoa vivia quando falava nas duras dores de cabeça e de Universo. O misto de sensações experienciadas todos os dias revelam a fragilidade e a urgência da vida. De a viver.
A pressa com que os dias passam, a quantidade de coisas a fazer, a organização quase infalível do tempo fazem com que o nosso Universo sucumba ao cansaço e nos faça pensar naquilo que nos é essencial. Naquilo que nos faz acordar de manhã. Naquilo que nos preenche. Nos completa. Nos constrói. Nos liberta ou nos prende. No que é realmente importante. No que nos faz pensar. Naquilo que provoca dores intensas de universo.
E os dias passam...

Há dias em que acordamos, pensamos, comemos, falamos, estamos, rimos, choramos e não fazemos rigorosamente nada. As preocupações desaparecem, o dia passa a correr e a noite aparece sem avisar.
Esta semana tive um dia assim...
Acordei tarde. Bastante tarde para aquilo que é costume. Fiz coisas normais. Normalíssimas. Coisas que toda a gente faz, todos os dias, sem dar a mínima importância nem se aperceber. São feitas na correria dos dias, na urgência das horas, na pressão dos momentos. Mas houve sempre no ar uma sensação de completude, uma consciência de que tudo aquilo que não fiz foi muito mais do que tudo o que estou habituada a fazer.

Há pessoas que nos fazem sentir que os dias mais normais são ao mesmo tempo os mais especiais de todos. E fazem-nos crer que mesmo que não façamos nada, um dia assim pode ser do mais completo que há. Do mais compensador que existe. Do mais forte que se possa sequer imaginar.

segunda-feira, outubro 03, 2005


Praxes...porque sim?


Todos os anos, por esta altura, há uma grande confusão na Faculdade. À parte das dúvidas do local do bar, das casas de banho e das salas de aula (porque nos primeiros dia, nenhum caloiro quer chegar atrasado), reina a alegria em todo o lado.
Ao contrário do que se pode pensar, os caloiros não andam perdidos...os olhares são antes de curiosidade, de encantamento, por um dia tão importante ter chegado (ainda que parecesse devagar há uns meses) tão depressa.
Antes de vir para a Universidade nunca praxei. Achava uma estupidez as "judiarias" que algumas pessoas eram capazes de fazer a outros alunos que chegavam a uma escola nova e só queriam sentir-se em casa. Há brincadeiras que mais vale não se fazerem, ou corre-se o risco de fazer com que um novo colega deseje voltar à antiga escola, esconder-se de todos e impossibilite a sua integração num lugar em que era suposto sentir-se bem e onde se pretende que cresça.

Só que as praxes na FCSH não são assim e por isso mudei de táctica e participo. Participo porque é importante que os novos colegas sintam que o esforço que fizeram é recompensado e que entendam a Universidade como uma nova escola onde irão fazer grandes amigos e onde se vão sentir quase em casa.

Num dos dias da praxe, que dura uma semana, é costume ir-se a uma casa onde vivem pessoas com vários tipos de deficiência. E é impressionante dizer aquilo que vê quando se lá entra pela primeira vez.

Quando eu era caloira, fomos todos em fila indiana, cada um a tapar os olhos do colega da frente, em direcção à tal casa. Quando chegámos, mandaram-nos sentar e continuar com os olhos tapados (expectantes pela surpresa). Ao som de um podem abrir que mais parece um apito que dá início a uma corrida, vemos várias pessoas a aproximarem-se de nós com um fascínio de quem vê algo maravilhoso pela primeira vez...é engraçado perceber como coisas tão pequenas para nós, como deixarmo-nos pintar com batons, sombras e brilhos podem significar tanto para outras pessoas e perceber que nessa manhã ou nessa tarde (nesses ínfimos minutos que nos deixamos encher de cores e brilhos), não são eles, mas nós que ganhámos o dia.

Este ano, mais uma vez, revivi este momento; e é com um certo receio que o descrevo aqui, já que é impossível contar por palavras aquilo que enche o ar naquela casa: é alegria, paixão, dedicação, esforço, sabedoria e ingenuidade. É um misto de sentimentos que nos é segredado ao ouvido e cuja presença só se percebe através dos sorrisos que enchem o dia de sol. Para o ano irei outra vez desfrutar deste momento (possivelmente pela última vez) mas com a certeza de que nunca irá desaparecer a sensação de plenitude (apesar da estranheza de alguns, num primeiro contacto). Essa ficará para sempre na memória de todos os que já foram ou serão caloiros de Ciências da Comunicação na Nova.

domingo, outubro 02, 2005

:)Espiar...

Perguntaram-me o que queria dizer "miamespia". À parte de todas as especulações, de uns e de outros, em relação à junção das duas palavras (que se desfazem quando vêem o "subtítulo" do blog - este, já com as palavras devidamente separadas - passo a explicar, "tintim por tintim" aquilo que me levou a escrever segundo este "nome"). Mas antes quero recordar a tentativa frustrada de um amigo que leu da seguinte maneira "Miam espia": "Mia me espia"!!!???Será que pensou que eu o andava a espiar???!!

Ao primeiro contacto com o site dos blogues, depois de ler um post de uma amiga muito amiga, pediram-me que me fizesse identificar com um username. Como não percebo nada de tecnologias, não havia meio de conseguir introduzir um nome correcto, uma vez que (como mais tarde vim a saber) era necessário que os caracteres que fossem utilizados fossem letras e números!!! Quando tempo mais eu demoraria a decifrar esta charada?? Tantam!! Para meu bem tinha o Poisson ao meu lado, que me sugeriu que pusesse "Mariana007" como username. Se ele não estivesse comigo, provavelmente não teria este blog.
Mas adiante...

A parte da espia já se percebeu, veio do 007 e também, numa generosa analogia, relacionada com o facto de observar, descrever, ESPIAR o mundo!

Quanto à parte da "Miam" é apenas (e sobretudo) um nome que o meu tio-avô me chamava quando eu era pequena (e ele ainda cá estava) e que me faz sentir, de cada vez que a leio ou que alguém a pronuncia, uma imensa saudade dele e de todos aqueles que me conheceram e continuam a espiar-me, do lugar onde estão (ou como diz a Susana Tamaro, "de um país para lá do azul do Céu").

segunda-feira, setembro 05, 2005

Inicio...


Nao e de hoje que tenho pensado criar um blogue. Acho que desde sempre tenho vontade de escrever sobre qualquer coisa: existem imensas coisas que acontecem (e que nos acontecem) que merecem a nossa reflexao e sempre tive vontade de partilha-las com todos aqueles que me rodeiam...
Nem sei bem para quem escrevo e isso e a parte mais interessante dos blogues...o"publico" sem cara...
Destes textos (do meu "bloguezito"), espero que sejam cada vez mais lucidos e cada vez mais criticos! Nao e que pretenda mudar o Mundo (de todo)...mas pelo menos provocar no "meu mundo" um abanao nas minhas e nas ideias de quem os le. Que estes mexam com sentimentos, com angustias, com alegrias, com mudancas, com duvidas...mas que facam mexer qualquer coisa!!!

ATENCAO: Estava a fazer-me muita impressao escrever sem acentos (esta foi uma das coisas que sempre me fez imensa impressao: a falta de acentos nas palavras. Quando via uma em qualquer folha...toca de por la o acentozito, o mais depressa possivel) mas desta vez nao pude evitar!!!. Por sorte ou por azar, estou no computador do meu tio Pedro (de Anadia) - convem distinguir, porque tambem ha o de Rio Maior -cujo teclado e americano, e por isso, tal como Bush (e grande parte dos seus conterraneos) nao tem nem poe acentos! Desculpem!!!