sábado, novembro 18, 2006
Fumava uns cigarros atràs dos outros. O fumo, segregado pelos làbios, deixava um doce cheiro no ar. De dia, fumava-os rapidamente, à entrada dos cafés, das livrarias, das lojas de musica. Nas esplanadas, tentava afastar-se de quem nao o fazia. Mas de noite, os cigarros eram a companhia das noites frias, e ela sabia-o. Escrevia poesia enquanto os agarrava entre os dedos da mao esquerda. O s dedos, amarelados pelo vicio, eram testemunho das noites sem dormir e dos dias a correr, passados entre os dois trabalhos que o dividiam.
Mas à noite, era diferente. A luz vaga do candeeiro na mesa ao fundo do quarto, iluminava pouco as caras e deixava a imaginacao trabalhar. Quando batiam à porta, ele sabia quem era so pela maneira como os dedos assentavam na madeira clara e oca. Nem precisava de dizer-lhe que entrasse. A vontade era maior que tudo e apressava-se a perguntar como tinha corrido o dia. Respondia-lhe apressada que, « -Bem ! » e aproximava os labios da testa dele, dava-lhe um beijo e dizia-lhe « Até amanha ».
O jogo comecava. Ela dizia que nao num compasso calculado entre a ficcao e a realidade. Dava razoes mais que plausiveis para serem felizes para sempre. Acreditava e fazia-o crer tambem.
O cigarro dava calor quando ela saia a meio da noite sem avisar e o deixava acordar com a ideia de que tinha sido tudo um sonho. Os làbios rosados nos ombros descobertos sentiam a pele macia e arrepiavam-na sempre. Ela suspirava com vontade de o abracar mas deixava-se embalar por aquele toque carinhoso.
-Amas-me?
-Claro. Sabes que sim.
Pegou no cigarro e deu uma passa profunda. Partilharam o mesmo cigarro e deixaram-se contemplar um pelo outro. Afinal, ela sempre achou que partilhar um cigarro era das coisas mais romanticas.
quarta-feira, novembro 15, 2006
sexta-feira, novembro 10, 2006
Era sempre da mesma maneira. Acordava quando o sol se punha e com ele nascia todos os dias. As piadas nunca eram as mesmas e os pensamentos sobre ela eram recorrentes. Uma vez, cairam os dois à entrada daquela igreja alta e familiar, naquele largo onde tantas vezes se despediram. Sorriram e ficaram imoveis a espera que o momento ficasse para sempre. Ele dizia que tinha a sensacão que era sempre ele que dizia adeus e ela queria dizer-lhe que não mas também o sentia. Ficavam montes de vezes a olhar um para o outro e as conversas eram tão envolventes que conseguiam que se passassem horas sem que nunca um assunto fosse repetido. Sorriam juntos e cada um no seu mundo, quando, no balanco do dia, desejavam estar juntos.
Ele pedia-lhe muitas vezes para dancar no meio da rua. E nessas alturas criavam um mundo so deles e nao davam pelos olhares e sorrisos dos outros que passavam (e passavam mesmo). Quando as cartas comecaram a ser assiduas, ela achou que estava apaixonada. Ai, tudo aquilo que pensava se desvaneceu. A fortaleza edificada dissipava-se a cada abraco, a cada sorriso, a cada beijo, a cada toque de maos. E quando ele desapareceu naquele segundo em que o despertador tocou, ela continuou a sonhar com ele.
Ele pedia-lhe muitas vezes para dancar no meio da rua. E nessas alturas criavam um mundo so deles e nao davam pelos olhares e sorrisos dos outros que passavam (e passavam mesmo). Quando as cartas comecaram a ser assiduas, ela achou que estava apaixonada. Ai, tudo aquilo que pensava se desvaneceu. A fortaleza edificada dissipava-se a cada abraco, a cada sorriso, a cada beijo, a cada toque de maos. E quando ele desapareceu naquele segundo em que o despertador tocou, ela continuou a sonhar com ele.
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