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segunda-feira, setembro 29, 2008

Se eles falassem

Saberiam que, por mais que tente disfarçar, por mais que negue, por mais que tente manter-te longe, por mais que teime em dar-te beijos na testa e pancadinhas nas costas. Por mais que te fale friamente. E que deixe a mente divagar por caminhos que tento afastar da memória. Por mais que tente dizer que já não gosto tanto, que não desejo tanto. Que não quero tanto. Por mais que diga a mim próprio que já passou o tempo...

...a tua cabeça encostada ao meu ombro naquele banco naquela noite foi só a confirmação de que o teu cheiro não me é indiferente. De que os teus olhos me dizem mais do que todas as cartas que me possas escrever. De que mais tarde ou mais cedo, nos vamos encontrar impreterivelmente. Se eles falassem, iam citar-me com uma palavra apenas. 'Quero-te'.

domingo, setembro 28, 2008

Teriam histórias que contar


Há qualquer coisa encantadora nos bancos de jardim. Sozinhos com eles, sentimos a solidão no estado puro. Observamos cuidadosamente quem passa. Passos rápidos, no quotidiano citadino. Sentados, de repente o tempo pára. Fazem companhia, são encosto, são presença na ausência de alguém. São poleiro, são mesa de histórias, são ouvidos, são confidentes sem boca nem receios. Escutam e calam, como poucos. Armazenam tristezas, solidão, beijos roubados, histórias de amor. São companhias nas tardes de Outono, por debaixo das árvores de folhas douradas e cor de tijolo. Faça chuva ou faça sol, ou mesmo debaixo da maior tempestade, os bancos de jardim estão lá. Não mexem, não falham. Estão presentes na sua efemeridade. São testemunhas, espectadores, de abraços, de discussões. Se falassem, teriam muitas histórias que contar. Entre amores e desamores, alguns gravados para sempre, em palavras escritas na madeira já sem cor, dos dias de sol picado ou de chuva impertinente, bem em cima deles.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Índice de um ecossistema


Índice* de uma precipitação.
A casa ilumina-se para juntar amigos, todos espectadores atentos de um percurso. São interlocutores, participantes. Opinam, riem, conversam, discutem ideias. A música de fundo confunde-se com os elogios, as gargalhadas, os abraços de orgulho, os sussurros. Palavras breves para uma alegria que não cabe em letras, em sons. Mas que se sente. Comentam-se as linhas, as cores, a música, o espaço. A Índice, por não ser apenas uma encadernação de páginas, enche de luz a sala, enquanto o dia anoitece. Índice é uma 'encadernação' cuidada de amigos espalhados pelo mundo.
Comenta-se o caminho. Percorrido em muitas horas. Em muitos dias. Em muitos sonhos. Índice não é uma revista. É um ecossistema.

*A nova revista dedicada aos textos e à cultura dos textos.
Dedicada aos livros, autores, editores, livreiros e leitores de todas as espécies.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Carta aberta ao meu amor I

Meu amor,
O nosso amor é perfeito. O problema, é que ainda não acreditamos.
Sempre que te vejo, fraquejam os pés e as pernas tremem. Antes, já o coração bate acelerado. Os olhos piscam mais rapidamente e, às vezes até a garganta me seca com medo de não ter tempo de te dizer, mais uma vez, que te amo.
As palavras, a mim, parecem-me sempre pouco quando posso beijar-te. Quando estás por perto, é fácil fazer-te feliz. Sofro aquando das despedidas, quando olhamos demoradamente e repetidamente para trás, a ver se prolongamos o momento. Não que queiramos prolongar a despedida, mas queremos prolongar a presença.
Para mim, meu amor, a perfeição és tu. Cheiras a ti, falas como tu, questionas, andas, sorris, corres, refilas. Como só tu sabes. Para mim, o amor tem o teu nome. Olhado por mim és perfeito. Sempre o foste só que ainda não sabias. Sempre soube que eras o tal. "És a luz da minha vida", disse-te um dia. E tu acreditaste. Porque acreditar é amar e confiar. É ser destemido. Enquanto se ama, não há espaço para cansaço nem para desistência. Não há tempo para tempos separados. Quem ama quer, deseja, está, acredita. Quem ama fica. Quem ama não foge (já te tinha dito?). Quem ama sussurra para ser ouvido, abraça para dizer que está, beija para existir.
Por minha vontade, o nosso mundo teria apenas uma peça. Tu e Eu.

'Talvez'...ou mais uma 'não-resposta-tua'

Talvez não haja razão nenhuma e toda eu seja demência, ou urgência, não sei...
Talvez não sejas tu, nem seja eu, nem tenhamos nós que existir
Talvez devesse simplesmente deixar fugir o momento, em que dentro de ti navego e sonho e acordo a rir

Talvez tu não sejas mais do que tudo aquilo que a minha imaginação quis criar
E não sejas bom nem mau, não sejas forte nem fraco, não tenhas por dentro tanto além daquilo que eu vejo por fora (e que, aqui entre nós, é pouco...)
Talvez a razão não me acompanhe nesta viagem e eu percorra a estrada apenas como um louco, sem pequenas questões nem grandes respostas.

E então, poderão perguntar-me:
- Mas afinal, porque gostas?
Talvez eu nesse instante possa responder que é justamente
esse não sei quê, que nasce não sei quando, vem não sei como e dói não sei porquê que me faz acreditar."

Luís Vaz de Camões

Querido Euromilhões...

Desta vez, até te dou a escolher!!!


Da minha parte, também já está escolhido: Nova Iorque (numa primeira paragem, claro!)

quinta-feira, setembro 04, 2008

Ecoa em mim

"She looks like the real thing
She tastes like the real thing
My fake plastic love.
But I can't help the feeling
I could blow through the ceiling
If I just turn and run.
And it wears me out, it wears me out.
It wears me out, it wears me out.

And if I could be who you wanted
If I could be who you wanted
All the time, all the time.
Oh, oh."

quarta-feira, setembro 03, 2008

(...)

- E por que é que não paraste?
- Porque nunca me disseste para parar.
- Pára.
- Não quero.

Desculpa-me, mas...


Não posso adiar o amor para outro século
Não posso
Ainda que o grito sufoque na garganta
Ainda que o ódio estale e crepite e arda
Sob montanhas cinzentas
E montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
Que é uma arma de dois gumes
Amor e ódio

Não posso adiar
Ainda que a noite pese séculos sobre as costas
E a aurora indecisa demore
Não posso adiar para outro século a minha vida
Nem o meu amor
Nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.
António Ramos Rosa