Obrigo-me a escrever rápido sobre a falta do meu tempo, sobre a correria dos meus dias, sobre a falta de disponibilidade que tenho para escrever sobre mim. Obrigo-me, por isso, a pensar nisto como uma coisa que devia ser essencial, importante, singular. Obrigo-me a escrever assim meio sem pensar, sem reflectir, sem olhar para o texto anterior para ver se escrevi calinada. Obrigo-me a escrever sobre as semanas passadas, sempre a correr, de um lado para o outro, de táxi em táxi, de metro em metro, de carro em carro, de letra em letra, de frase em frase, história em história, de dia em noite e de noite em dia. Obrigo-me porque se não me exijo isso, não vou fazer mais do que o que me exigem os dias. Parece um drama mas não é. Obrigo-me a escrever sobre as saudades que eu tenho de não vos ver todos os dias e de me parecer que há se passaram anos desde aquele dia no aeroporto. Obrigo-me a escrever sobre o nosso almoço depois de tanto tempo, em que me pareceste quase igual, como se o tempo não tivesse passado. Obrigo-me a escrever sobre a correria até dos fins-de-semana, em que além do calor do mimo tenho o mimo do calor de quem me pede para me contar histórias, que me emociona por se emocionar, que me conta segredos íntimos numa intimidade inédita. Exijo-me contar aqui as saudades que eu tenho de cheiros e de sabores de uma cozinha que agora não tem vida, onde a manteiga nunca sai de cima da mesa e de onde o vapor dos vidros desapareceu há anos, porque ali nunca mais ninguém fez sopa de grão de bico com leve sabor a chouriço. Obrigo-me aqui a escrever sobre a loucura que é viver esta vida, sobre a admiração que os outros gabam de uma organização de tempo que eu nem sempre tenho. Exijo-me a avaliar o tempo que guardo para mim. Obrigo-me a adiar essa avaliação porque agora não tenho tempo. Porque este texto escrevi-o ontem à noite, com a cabeça mais livre. E ele apagou-se, insolente. Obriguei-me hoje a escrevê-lo outra vez. Não está igual. Mas é sobre a minha vida. E obrigo-me - tenho de obrigar-me - a escrever sobre ela.
quinta-feira, outubro 27, 2011
quinta-feira, outubro 06, 2011
do génio e do trabalho.
"Your work is going to fill a large part of your life, and the only way to be truly satisfied is to...love what you do. Your time is limited. Don't waste it living someone else's life.", Steve Jobs
"Para ser grande, sê inteiro: nada/Teu exagera ou exclui./Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/No mínimo que fazes./Assim em cada lago a lua toda/Brilha, porque alta vive.", Ricardo Reis.
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