É pena que não tenha estado igual ontem...é pena não poder haver dois dias com lua cheia, que nos encha a alma.
Ontem precisava mesmo da lua cheia. Cheguei e estavam quase todos à minha espera..qual regresso desejado. Acredita que também eu o desejava. Também eu sonhei com o momento eu que poderia abraçar-te outra vez e reconhecer os cheiros e as cores e a luz da cidade. O brilho é inconfundível. A maresia, o aroma doce do rio no ar. E o cheiro de casa? Quando voltei a entrar pareceu-me o que senti pareceu-me tão familiar como desconhecido. Afinal a minha ausência não se resume à costumeira "meia-dúzia" de dias que costumava sair todos os anos...não é?
Nunca uma decisão foi tão pensada, tão temida e tão desejada, ainda que esta caracterização seja tão docemente certeira como redondamente paradoxal.
O medo era tanto que hesitei até na hora de entregar os papéis, ainda que a sentença não fosse imediata. A experiência que - todos falavam - não devia perder; o medo de sair e nada voltar a ser o mesmo; o desafio de ouvir aquela língua que me fascinava; a vontade de receber "na minha casa" visitas que em tempos ocupavam o segundo a seguir ao despertar.
As vozes, depois da despedida, rapidamente se tornaram longínquas e menos nítidas, codificadas pela velocidade de trasferência de dados, no computador que me fez infinita companhia.
Passei a ser "eu aqui" e "vocês aí": e o aqui agora é noutro sítio...incomparavelmente...diferente.
O tempo passa num ápice...penso agora que tudo termina. E custa pensar que, além da rapidez...há também a "ausência do regresso"...
Porque por mais que se peça, com música ou sem, o tempo não volta para trás.
Mas não, não vou ficar triste. Aquilo a que me propus foi o meu melhor plano...aquele que foi traçado com a precisão de um "x-ato". E acima de tudo, aquele que passou além das palavras, dos sonhos, das iniciativas, dos pensamentos...aquele que consegui realizar depois de tantas conversas e confissões e sorrisos nervosos e cúmplices em tardes com este e aquele, em sonhos de noites de verão numa rede de pano qualquer, numa casa, num quarto, num carro. Porque deixei pura e simplesmente de tentar prever o que ia acontecer para passar a sentir o que acontecia. A pedalar ao ritmo da bicicleta em vez de fazer com que ela ande à velocidade que eu lhe imponho. Porque percebi que às vezes também importa fazer o que sinto e não, sentir o que quero.
Se a lua estivesse ontem como igual a hoje -penso agora com mais clareza - talvez as gargalhadas à luz ténue das velas compradas com todo o carinho do mundo, tivessem sido absorvidas por uma nostalgia incontrolável. Espero que não se repitam os dias..nem as noites...
A beleza e a preciosidade destas coisas que agora carrego dentro de mim..não têm o peso de um fardo...mas de um crescimento que preciso de mostrar aos outros. Porque eles vão concerteza querer saber se concretizei o sonho de muitas noites de lua cheia, de conversas cúmplices, de cafés apressados.
Ainda bem que não há noites iguais. E que cada uma guarda sempre alguma coisa especial.
Hoje a lua cheia...Amanhã?! Não faço ideia...
Como disseste uma vez:
"Eh miúda...já não temos palavras para o nosso crescimento!!"...
Isso mesmo. Sê bem-vinda!