Como num combate de boxe, há vezes em que sinto a vida esbofetear-me. Os planos...faço-os com frequência. Quantos mais faço, mais se desfazem. Há um rolo de lã que desenrola e no qual tenho de pegar com regularidade. É ver desenrolar, e enrolar de novo, à espera que os fios não se tenham separado, ou pior, partido. As mãos têm de ser rápidas, astutas, sempre incansáveis. Porque os fios são frágeis. Uma vez, com um cesto de novelos na mão, ofereceram-se para o tapar. Se o tapassse, os fios, e os novelos, continuariam lá, quase imóveis. Poderiam rodar sobre si próprios, rolar no espaço que existia entre uns e outros. Mas o espaço de movimentos seria restrito. Quis que o cesto continuasse aberto, para deixar entrar o ar e a luz. Mas nos cestos abertos também entra a névoa. Também entra o vento. E a chuva.
Por isso, os novelos, às vezes aconchegados, chegam num instante a ficar encharcados. Há tempestades inesperadas que nem deixam tempo para colocar um oleado por cima deles, que os proteja do pior. Ficam molhados, ensopados, e sem reacção. Pesados da tormenta, têm mais dificuldade em deslocar-se dentro do cesto. Quanto às saídas para fora dele, nessas alturas, enfim...é preciso guardá-las para mais tarde. O novelo fica pesado. É preciso fazer dar-lhe o sol primeiro, para que todas as gotas de água sequem.
1 comentário:
A imagem que arranjaste está soberba..=)
Quanto ao texto em si, gostei muito de pegares em algo tão frágil(será mesmo frágil?) como um novelo de lã e transforma-lo em vida..
Bjs e Parabéns
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