A luz ténue do candeeiro, na mesa de cabeceira, constrói um ambiente com média-luz. Um lusco-fusco que não revela. Mas também não esconde. A luz de cima, com mais watts e mais verdade, já foi apagada. Afastas a colcha macia e abres a cama com as mãos cada vez maiores, a aproximarem-se das minhas. Comparamos os tamanhos dos dedos e enroscas-te a mim. Ternura esta que me preenche o pouco tempo livre. Pedes-me um abraço. Dou-to sempre sem pestanejar. Hoje quebramos o hábito. Finjo trocar contigo o lado da cama. Apetece-me ser eu a enroscar-me em ti. Quero hoje ser eu a abraçada, a apertada, a muito-amada. Trata de mim como eu quero, só hoje. Que o tempo que me sobra para ti é pouco para o passarmos a discutir papéis. Não quero que questiones as minhas razões. Deixa-me só encostar-me ao teu ombro como te encostas ao meu. Hoje sou eu que tomo a iniciativa e digo primeiro que te adoro. E quero que me respondas de volta, que também, que adoras, tu a mim, como no primeiro dia em que te vi e te senti. Quero sentir os teus braços crescerem só para me abraçar. E perceber que posso pedir-te que me contes histórias para adormecer à vontade, porque a imaginação nunca te vai faltar. Por isso, só hoje, não me peças uma história. Não me peças um abraço. Conta-ma tu. Abraça-me tu. E estica o braço mais do que o costume. Apaga a luz por mim, por favor.
1 comentário:
Percebo-te. Há dias em que queremos ser crianças. Queremos que todos nos mimem. Poder correr sem preocupações - nem se quer se podemos partir um braço, pois essa fica com as mães.
Sim, tenho saudades que me contem histórias. Daquelas com finais felizes. Daquelas com que sonhávamos. E ainda sonhamos.
Tenho saudades da ingenuidade. De não saber.
De ser criança e ouvir histórias.
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