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terça-feira, junho 30, 2009

Quem te disse

Os teus olhos são como os meus, mas mais claros. E sempre que me olham, dizem-me coisas que eu não entendo. Preferia ter um pensómetro e ler-te o pensamento, assim, de imediato, quando te chegasses a mim com toda a pompa e circunstância e a tua boca se calasse. Como sempre.
Deixei de estranhar a tua inércia e passei a encará-la como uma ligeira amnésia. Que escondo de mim e tento afastar do pensamento. Só que de cada vez que insistes em convidar-me a sentar à tua mesa, comer da tua comida e beber das tuas palavras suadas e mastigadas, percebo que essa minha amnésia [essa tua inércia] sempre lá esteve. Não importa crermos que as coisas dos outros mudam por nós. Não adianta pensar que as coisas se alteram assim, momentanea e instantaneamente. Os outros mudam, se quiserem. Nós também.

sexta-feira, junho 26, 2009

More than words


Foste banda sonora de muitas vidas.
Mesmo daquelas que nunca conheceste.

segunda-feira, junho 22, 2009

Recesso

Disse-te tantas vezes que gostava de ti e não ligaste. Pensaste que fosse durar para sempre.
Também eu, ora. Também eu acreditei que o teu sorriso me fosse encantar para sempre. Também eu te prometi que ia adorar-te até ao fim. Acreditei que a tua maneira de falar me seduzisse sem deixar dúvidas e que ias ser para mim, e para sempre, perfeito. Aturei-te as birras - e tu as minhas. Duras e muitas. Permiti que me magoasses e me espetasses espinhos bem fundo, no coração. E aí magoavas-me. Mas tudo o que tínhamos de bom compensava os momentos maus. Esquecia-me de tudo quando me abraçavas. Sentia-me protegida nos teus braços, mesmo que estivessem frios. Porque contigo, era como se fossemos um. Pensei mesmo que a dor de te perder nunca fosse passar. Que o buraco que senti no peito fosse para sempre. Que as lágrimas se prendessem aos olhos numa eternidade dura e numa dor miudinha e sem parança. Pensei que a cura fosse tardar, que as mãos nunca mais encontrassem calor noutras que não as tuas. E que o sol fosse perder-se para sempre, mesmo quando o verão chegasse. E agora que te (re)vejo, te cumprimento e te toco. E falamos sem pensar, vejo o quanto as coisas mudaram sem me aperceber. E sem te aperceberes. Aquilo que eu pensava para sempre, afinal tinha um prazo de validade. E parece que - se ainda não acabou - está muito perto de ficar recesso.

quinta-feira, junho 11, 2009

Santos

Veste uma coisa leve para não te pesar o corpo. Já chegam os dias em que te custa subir as escadas depois do dia de trabalho, quando chegas já é noite escura. Hoje vais ser livre. Vais dançar até cair, braços no ar, como se fosses voar. Está calor na rua e é difícil passar por entre as pessoas e reconhecer caras no amontoado de gente que invade Lisboa. Passam-te ao lado conhecidos, que não reconheces porque a noite e a sangria não perdoam. Ou porque não te (re)conheces neles. Explica-me quando foi que subimos pela última vez aquela calçada íngreme e suja. Mostra-me aquela fonte sem te pedir. Dá-me um beijo na testa e agarra-me a mão antes de eu tropeçar, sem querer, naquele ladrilho mais feito. Sabes quantas vezes suspirei por ti? Há qualquer coisa que me fascina. Nesta cidade nossa, é fácil reconhecer-te as curvas pelas caminhadas familiares nas ruas por onde passámos. É fácil recordar-te sempre assim longe. Nunca estiveste aqui e reconheço-te bem. Mesmo que não estejas. Porque na cidade, por estes dias, tens o encanto da coisa essencial. A magia de um entardecer à beira-mar. E o cheiro que o manjerico deixa na minha mão e se entranha, porque nestes dias o calor vem da tua voz gravada. E a Lisboa cinzenta não é feia. Ganha uma tonalidade branca. E uma luz bonita. E encantadora.

sábado, junho 06, 2009

O jogo


Bem baralhadas as cartas, pouco há a fazer. Quando o jogo começa, as ideias têm de organizar-se depressa - acção/reacção - mas a estratégia já tem de estar traçada. O tempo pode ser curto para decidir ponderadamente. Há que prever todas as possibilidades e saber reagir rápida e friamente. As cartas todas na mão, os dedos da outra balançam, tocam-nas nas pontas. Dobram-lhes os cantos. Mas o jogo não amacia com falinhas mansas. Nem com festinhas. É do calculismo do jogo. Esfria o que de humano há em nós. E mesmo que acariciemos as cartas que temos na mão, os adversários observam constantemente os nossos olhos. Qualquer falha. Qualquer passo em falso pode denunciar-nos. É preciso rapidez. E poder de decisão. Amadureci a minha estratégia. Tirei apontamentos (e sabes que escrevo rápido e sem abreviaturas). Tracei um plano. Vários planos. Contingência. Prepara-te porque as cartas estão dadas e eu vou começar a jogar.