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quinta-feira, julho 16, 2009

Da planície

Era ermo, aquele monte, quando o conheci. Meia dúzia de calhaus enormes, bicheza que a minha mãe viu primeiro que qualquer outra pessoa, e terra. Muita terra. Seca, árida. Clara. Cortada, rachada. Separada pelo calor do sol. Era assim, monte e vale. Valle. Havia duas casas, uma quase sem telhado, outra nem tanto. Alicerces rijos, naquela terra sacrificada pelas diferenças diárias de temperatura. Ora frio gélido à noite. Ora quente incendiário, de dia. Amplitude térmica que não trespassa para as gentes, sempre tão quentes. Tão calmas. Sempre tão iguais umas às outras. Ermo aquele sítio, no meio do nada. Quente, tão quente que o sol está que queima os ombros de quem por lá passa.
Passam-se ali horas rápidas, dentro da acalmia da casa. Das tardes sem televisão e com conversas. Das noites a tocar guitarra e a cantar. E das madrugadas em que a conversa vence o sono, enquanto a lenha estala na lareira alentejana. Baixa e de tijolo-burro. Um copo de vinho tinto que aquece, um queijo manchego e pão alentejano. Isso, e a eternidade. Quadratura perfeita de fins-de-semana perfeitamente inesquecíveis.