Olho para ele de baixo. Ele do alto dos seus 40 e tais, e do alto dos meus dez. Separam-nos centímentros, mas não são essas as diferenças que mais me preocupam hoje. Deixa-me nervosa o à vontade com que fala aos olhos atentos e expectantes. Fascina-me a fluência das palavras, a cadência da voz, e a simplicidade das frases. Límpidas como as dos livros infantis que já leio sem dificuldades, com as letras bem gordas e sem piadas que exijam grandes raciocínios. Embora conheça os cantos à casa, parece-me hoje que não sou de cá. Há uns meses, esta parte era-me interdita. Não podia passar da porta de metal com vidros pequenos. Agora, de repente, mudou o hábito, sem sequer me dar conta. E elas dizem que o tempo passou rápido, lembram-se da fotografia do primeiro dos primeiros dias. Pouso a cabeça na mão, pesa-me a pressão do cotovelo em cima da mesa. De soslaio, lá as vejo, sempre atentas a mim. E no espaço entre este pensamento e o sorriso seguinte, houve regras de conduta a respeitar, planos de contingência, regras de funcionamento. E este bocadinho passou rápido. Vou num instante arrumar a mochila e dormir.
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