Muito falamos nós das festas a que vamos, do que comemos ontem naquele jantar para que fomos convidados ou das caipirinhas que bebemos na noite de Carnaval. Muito vamos nós à missa, muito nos queixamos da vida regrada, sempre igual. Muito praguejamos nós que os anos passam e nos sentimos envelhecer sem que nada façamos para poder evitar a passagem inexorável do tempo. Sem dizer até amanhã ao namorado com quem estamos chateados. Ou sem ligar à avó, que já não vemos há meses, porque saímos demasiado tarde do trabalho. Ou demasiado moídos do ginásio. Ou demasiado ocupados da vida. Dos problemas que vemos em cada esquina. Das dificuldades que se nos atravessam no caminho. Permanentemente. Sem avisar nem dar descanso. Muito nos queixamos nós da vida calma, da chuvinha irritante que nos dificulta as gargalhadas – muito mais fáceis quando o sol quentinho nos aquece a cara por mais que sejam oito da manhã e esteja frio. Pouco agradecemos por estarmos assim. Só com a chuvinha. Só com o frio suportável. Só com uma barriguinha cheia. Só com um trabalho que nos preenche. Só com o que comer. Só com uma conta bancária que nos deixa ir ao cinema. E ao teatro. E jantar com amigos. E almoçar fora de vez em quando. E comprar umas sandálias da colecção de verão (mesmo sem a chuva ainda ter dado descanso). “Só”. Só que aqui ao lado, não. É diferente. Mesmo aqui ao lado. Só isso.
*Na Nossa Agenda
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