Ele tem os teus olhos, castanhos escuros. Com pestanhas compridas e enroladas nas pontas, nos cantinhos. Os olhos que pestanejam quando estás nervoso, ou quando não acreditas naquilo que estás a ouvir. Aqueles olhos que choram quando andas contra o vento frio. E o vento frio os fere e os gela, e lhes reclama as lágrimas. Tem aqueles olhos, os teus, os que te fitam sem pestanejar quando te tentam perceber.
Ele tem a tua boca rosada. Secam-se-lhe os lábios como a ti quando está frio e ele os humedece com a língua, sem perceber que aí está o segredo para não os secar. Ele tem-nos, como os teus, carnudos, ondulados, frenéticos e calmos ao mesmo tempo. Daqueles que se mexem depressa, como os teus. Daqueles que reagem ao toque com uma expressão poética.
Ele tem a tua pele pintada de pintas pretas. Tem a tua expressão de contentamento, as tuas rugas de desconfiança, o teu ar sisudo de quem não quer acreditar no toque. Ele tem a tua pele macia, a tua pele pouco enrogada ainda. Ele, como tu, reage ao toque das mãos frias e aconchega-se nas mãos quentes.
Ele tem, do lado direito do peito quando o olhas de frente, uma máquina cheia de energia que teima em nunca descansar. Tem-na ali, fechada, capaz de se proteger ao mínimo ataque. Ele, como tu, construiu-lhe uma fortaleza. Ele tem um aconchego. Como tu, ele tem um aconchego. Um olhar como o teu [o teu olhar?], uma boca como a tua [a tua boca?], uma pele como a tua [a tua pele?]. E uma fortaleza. Tal e qual a tua [será a tua?].
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