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segunda-feira, outubro 03, 2005


Praxes...porque sim?


Todos os anos, por esta altura, há uma grande confusão na Faculdade. À parte das dúvidas do local do bar, das casas de banho e das salas de aula (porque nos primeiros dia, nenhum caloiro quer chegar atrasado), reina a alegria em todo o lado.
Ao contrário do que se pode pensar, os caloiros não andam perdidos...os olhares são antes de curiosidade, de encantamento, por um dia tão importante ter chegado (ainda que parecesse devagar há uns meses) tão depressa.
Antes de vir para a Universidade nunca praxei. Achava uma estupidez as "judiarias" que algumas pessoas eram capazes de fazer a outros alunos que chegavam a uma escola nova e só queriam sentir-se em casa. Há brincadeiras que mais vale não se fazerem, ou corre-se o risco de fazer com que um novo colega deseje voltar à antiga escola, esconder-se de todos e impossibilite a sua integração num lugar em que era suposto sentir-se bem e onde se pretende que cresça.

Só que as praxes na FCSH não são assim e por isso mudei de táctica e participo. Participo porque é importante que os novos colegas sintam que o esforço que fizeram é recompensado e que entendam a Universidade como uma nova escola onde irão fazer grandes amigos e onde se vão sentir quase em casa.

Num dos dias da praxe, que dura uma semana, é costume ir-se a uma casa onde vivem pessoas com vários tipos de deficiência. E é impressionante dizer aquilo que vê quando se lá entra pela primeira vez.

Quando eu era caloira, fomos todos em fila indiana, cada um a tapar os olhos do colega da frente, em direcção à tal casa. Quando chegámos, mandaram-nos sentar e continuar com os olhos tapados (expectantes pela surpresa). Ao som de um podem abrir que mais parece um apito que dá início a uma corrida, vemos várias pessoas a aproximarem-se de nós com um fascínio de quem vê algo maravilhoso pela primeira vez...é engraçado perceber como coisas tão pequenas para nós, como deixarmo-nos pintar com batons, sombras e brilhos podem significar tanto para outras pessoas e perceber que nessa manhã ou nessa tarde (nesses ínfimos minutos que nos deixamos encher de cores e brilhos), não são eles, mas nós que ganhámos o dia.

Este ano, mais uma vez, revivi este momento; e é com um certo receio que o descrevo aqui, já que é impossível contar por palavras aquilo que enche o ar naquela casa: é alegria, paixão, dedicação, esforço, sabedoria e ingenuidade. É um misto de sentimentos que nos é segredado ao ouvido e cuja presença só se percebe através dos sorrisos que enchem o dia de sol. Para o ano irei outra vez desfrutar deste momento (possivelmente pela última vez) mas com a certeza de que nunca irá desaparecer a sensação de plenitude (apesar da estranheza de alguns, num primeiro contacto). Essa ficará para sempre na memória de todos os que já foram ou serão caloiros de Ciências da Comunicação na Nova.

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