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quinta-feira, novembro 10, 2005


Agora...Adeus.


Não sei se conseguirei dizer tão bem aquilo que Eugénio de Andrade diz melhor...
Foi Adeus...
Agora...
Hoje...
Aqui...
Ali...
Depois...
De sempre...
Para sempre...
Adeus.

Racionalizar tudo aquilo que se sente termina assim. Num adeus. Mais profundo. Mais intenso. Mais melancólico. Mais livre. Mais certo. Mais fulminante. Mais ADEUS...
Eras (tu). Foi (assim). Vai passar.

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisa fossem minhas:
quanto mais te dava, mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: "meu amor"
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Aqui e agora penso em ti. Adeus.

1 comentário:

Deb disse...

Sei que não tenho legitimidade para ocupar este espaço, mas não quis deixar de mostrar que te entendo. Ou imagino.
Lembra-te: custa, mas compensa.
Como dizíamos no café da aroeira... "não tem como não ser enriquecedor". Tem sempre um lado positivo.
Força