Sim?
O bater do pe repetido no chao da calcada branca manchada pelos pes dos que passavam, denunciava a ansiedade. E talvez tambem a falta de maturidade que algumas vezes acusavam de ter. -Devo ter desculpa-, pensava...afinal os dias nao eram todos iguais e sentia sempre o friozinho na barriga em horas como aquelas.
O telefonema veio sem avisar. Nao e que nem todos avisem que vem, mas naquela manha, ainda a dormir, sentiu o toque do telefone. Como nada fazia prever reaccoes como aquelas, levantou-se com sobressalto e pousou o auscultador na mesinha de cabeceira. O sinal de impedido do outro lado denunciava a chamada curta e avassaladora.
(-Sera mesmo isso que queres?)
De joelhos no chao, flashes de imagens abatem-se num pensamento filmico, regrado e rapido. Imagens, imagens, imagens. Momentos, lembrancas, emocoes. Volta sentar-se na cama e escuta o relogio.
-E preciso pensar coerente e rapido. - reflecte.
(-Isto e mesmo verdade?)
Agora um calor avassalador passa por todos os membros e parece que a cabeca explode de dor. O coracao dispara qual revolver accionado por um simples pulsar de dedo. A voz volta a cabeca e, agora vem um frio assustador gelar-lhe tudo aquilo que faz do seu corpo, humano.
(-Para que sentir?)
Encosta as costas a cama desfeita e pousa os cotovelos nos joelhos e a cabeca nas maos, que tremem sem parar. E preciso pensar. Pensar rapido e agir. Profunda(mente). Telefonar nao vai resolver. Nao restitui. Nao resolve. Nem sequer da comodidade. Mas fazer o que? Esperar? Pensar? Dizer tudo ou nao dizer nada? Insultos? Devaneios? Sentimentos de si e de outro que parece o mesmo? Confusao avassaladora. Branco. Quebra.
A calcada suja denuncia tambem os passos de quem tem estorias para contar.
- Sera que passamos por ela alguma vez em silencio? Ler-nos-ia ela os pensamentos, agora?
O tempo atrasa o encontro. A ansiedade aumenta a cada segundo. E neste impasse, nesta instabilidade e nesta incerteza, e dificil identificar o bom e o mau, o que partilhar e o que guardar, o que fazer...
Esquecer?
-Parar de bater o pe. Talvez assim acalme este instinto de querer mais e pedir impossiveis. Isso...maturidade.
1 comentário:
Adoro as tuas metáforas.
E tal como à cabeça apetece escrever quando a faculdade mais pede os nossos neurónios, também agora há q contrariar a tendência da hesitação, da perna a tremer, e seguir em frente - como quem faz 1 directo pra sic e n pode mostrar insegurança.
(ja nem temos balança pro nosso "crescimento", miuda ;))
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