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sexta-feira, dezembro 28, 2007

Pés saltitantes querem anos novos. Passos pequenos, por mais que a calçada seja irregular e escorregadia, são a melhor maneira de caminhar. Com precaução, é possível que as casas se construam a partir de alicerces fortes. Podem ter cores gritantes, gostar de festa e de alarido, mas não deixam de ser fiáveis e, em última instância, de confiança.
Os pés pequenitos andam devagar, serenamente, incessantemente. Porque os pequenos têm de dar passos mais certeiros, e o tempo de reflexão nunca é tempo perdido. Há que decidir melhor, leve o tempo que levar. Pés pequenos, por terem de procurar as melhores pedras onde saltitar e por terem de planear melhor os próprios saltos, caminham certeiramente ano após ano. Cansam-se muito, porque caminham em dobro. Mas ao mesmo tempo há neles a serenidade de saberem certas as decisões, de tão pensadas e reflectidas. Pés pequenos para grandes passos. Porque são mais certeiros. Porque sim.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

O futuro nos livros
Quando eu era pequena e os dias passavam devagar eu cansava-me das férias. A chegada de dias de férias era mais valorizada, creio que pelas festas na escola no dia antes. Gostava mais das festas de despedida de "Bom Natal" ou "Até para o ano", das recomendações das professoras de "Não se esqueçam de continuar a ler no Verão!" do que propriamento do dia em que não seria obrigatório acordar cedo para ir para as aulas. Gostava mais dos concursos de playback e das festas dos slows da adolescência no refeitório do que do prazer de dormir até mais tarde. E passados uns dias tinha vontade de voltar para a escola. Sempre me cansei das férias e muito especialmente das férias grandes. Sim, porque as férias de Verão eram mesmo grandes, senão enormes férias! Começavam no fim de Junho e só acabavam em meados de Setembro e o tempo rendia tanto que chateava não ter nada para fazer durante dois, quase três, longuíssimos meses de Verão.
Nas minhas férias de Verão, longas e pachorrentas, os meus dias passavam vagarosamente. O tempo, de tão lento, cansava de aborrecido. O tédio era esquecido quando, em meados de Agosto, os novos livros vinham para casa. A partir daí, podia sonhar em planear o novo ano, que aí já fazia sentido. É preciso bases sólidas para começar qualquer coisa. Sem pilares que sutentem, nada vinga nem anda para a frente. Os livros eram os meus pilares fortes num todo de "dolce fare niente", passageiro-permanente das férias de Verão. Os livros vinham, e eu, adorava cheirá-los, folheá-los, ver o que aprenderia logo logo em Setembro (que já estava tão próximo e ao mesmo tempo tão longínquo). Forrava-os com papel de bonecos, primeiro, e depois, transparente, que facilitava a idenificação. Era todo um ritual, este de folhear, cheirar, forrar, voltar a folhear, descobrir o futuro. E as páginas dos livros novos, a cheirar a coisas novas, serviam de base para planear o futuro e exerciam uma espécie de encantamento em mim, que ainda agora eu não consigo negar.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Calçada molhada, botas molhadas, calças molhadas, casaco molhado, cachecol molhado, mãos molhadas, chapéu de chuva molhado, gorro molhado, carteira molhada, telemóvel molhado. Tudo encharcado.
Brghhhhhhhhhhhhhhh...´Tá de chuva, caramba!!

quinta-feira, dezembro 13, 2007

(foto El Pais...Não está bestial??!)

Suspiro Jornalístico em LISBOA

Queria poder ter feito parte da cobertura deste Tratado. Quantas vezes estive durante a manhã de cabeça e coração no Mosteiro dos Jerónimos, a imaginar o ambiente. Preciso de mais do que ser espectadora dos acontecimentos. Quero participar, quero estar, ver, ouvir, quero colaborar. Quero sentir que o mundo sabe mais de si e que eu participo nessa partilha de estórias! Quando é que eu vou poder finalmente deixar de ser uma jornalista de secretária?

quarta-feira, dezembro 12, 2007

LX

(Para ouvir ao ler)

Passear contigo é sentir que quando caminho não estou sozinha. É o descomprometimento de pôr as mãos nos bolsos sem medo de não te dar a mão. É sentir o vento frio na cara, transpirar de calor, sentir o sol a pique no nariz, a iluminar-me o rosto. É compor a gola do casaco e sentir um beijo teu. É o teu cheiro, sempre tão familiar. Saber que estás lá. Saber-te minha. Passear contigo é o misto mais agradável de descontração e apreço. É abraço sem contacto e contacto sem toque. É cumplicidade. Passear contigo é saber-te minha e saber-me tua. De alma, coração, confiança. É sentir que me sabes tantas vezes a tanto, e outras tantas a tão pouco.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

O metro, a cigana e as lágrimas teimosas
Coberta de preto a velha cigana senta-se no banco do metro. Vai nervosa, ansiosa, nota-se-lhe uma instabilidade latente.
As rugas de expressão que acompanham a cara escura, outrora simples e encantadora, carregam a carga emotiva que a transfigura. A velha cigana aperta as mãos devagar. Baixa a cara, vêem-se-lhe as riscas na testa de tanto a engelhar, do sol, da vida. Depois, a cabeça entra quase entre os ombros e começa a gemer muito baixinho. Aperta os dedos contra os olhos num movimento repetido e aflitivo. Desespera, chora baixinho e sem lágrimas. Vida dura, corpo cansado. Mãos marcadas pelo passar dos anos, agora denunciado por não conseguir chorar.
Não chora a velha cigana vestida de negro. Geme de tanto tentar e não conseguir. A velha Lisboa entrega-se-lhe depois, quando sair do metro e vir a luz do dia. Corre e mostra-lhe que o dia é muito mais do que aquela velocidade a que o metro percorre os finos carris debaixo da terra. Se vivesse sempre como topeira nunca poderia sequer supor...tentar por momentos imaginar...adivinhar aquilo que se passa na vida daquela velha cigana de pele bonita. As rugas marcam os caminhos daquela cara viajante. Mas o tormento...sim...o tormento é a evidente dificuldade que as lágrimas têm de lhe percorrer a cara. Uma dificuldade em não saber ou em não conseguir chorar.

"Bentas"

Simplesmente encantadora..