Toda a gente diz que tenho os olhos iguais aos teus. Pode ser verdade, mas não é só isso que interessa. As pestanas compridas, herdei-as com certeza de ti - não restam dúvidas - assim como o cabelo muito escuro que tanta gente insiste ser preto. E que eu insisto ser exactamente da mesma cor que o teu: um castanho escuríssimo. Gostava de te ter conhecido mais quando era pequena, e quando tinha todo o tempo do mundo para falar-te de mim e dos meus segredos minúsculos a que eu dava a maior das importancias. Mas nessa altura tu estavas pouco, trabalhavas fora e o tempo foi passando. Nunca foi difícil lidares comigo, bem sei, que eu sempre te obedeci. Por isso, talvez mesmo só por isso, seja difícil para ti que eu não esteja sempre, como sempre estive, debaixo da tua asa. Como quando me arranjavas o pão com manteiga que ficava com o cheiro do teu after-shave entranhado e parecia que eu estava a beber perfume. Tens as mãos lindas - nunca te tinha dito, certo?. E sei que também sentiste que o passado tinha sido uma perda de tempo quando, naquela viagem para o Alentejo, falámos de uma vida inteira em duas horas e tal. A nossa relação é intuitiva, é compreensível, é simples e meiga e carinhosa. Gosto muito dos teus beijinhos. E gostava ainda mais que se multiplicassem por infinitos. Só que nem tudo é como nós queremos, paps. Mas sabes, há uma coisa que nunca vai mudar. Os meus olhos vão ser sempre iguaizinhos aos teus.
1 comentário:
Que bonitoooo!
After-shave de pai é sempre after-shave de pai!! Eu acordava de manhã com o quarto a cheirar a pai, que todos os dias antes de sair de casa passava pelo meu quarto!
:)
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