Falava-te de como era difícil começar. Falava-te não. Falávamos. De como é difícil o início. Porque antes do início, ninguém consegue saber como vai ser, o que vai ser, quando vai acabar, se vai ter fim. É como um texto, como começar a escrever a primeira palavra na folha branca e vazia, da preocupação de a letra sair perfeita, de o texto sair sem enganos, das palavras não ultrapassarem as margens.
A importância - ou não - de escolher a primeira cor a tocar no papel, o primeiro traço do desenho, o primeiro toque da tinta. Parece-nos sempre que o sucesso de um texto depende do arranque. E que da precisão de um desenho depende a primeira impressão com o papel. Como se o fim fosse decidido pelo início (como se o Benfica só desse goleadas aos adversários quando marca três ou quatro golos nos primeiros minutos). Hoje, é-nos difícil sentir esta tensão do início. Porque é muito fácil apagar e voltar a arrancar com um texto. É simples corrigir um desenho num qualquer programa de computador. Hoje, quase nada de decide a partir do início. De quase nada depende o arranque. Mas nunca as casas resistirão a um tremor de terra se os alicerces não forem suficientemente fortes. Isso nunca.
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