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quinta-feira, novembro 25, 2010

oito e oito

É capicua, o número que fizeste um destes dias, como se a vida fosse um jogo de adivinhas. Tu serias uma das palavras mais complicadas e mais difíceis de dizer, pelo menos naquete tempo em que me ofereceste a BMX cor-de-rosa e preta cujos pneus eu por pouco não destruía de tanto os massacrar nas poças de água do caminho entre a tua casa e a nossa. Isto quando éramos vizinhos. Tão perto em distância, tão longe em afectos. Vocês - nem eu sonhava na altura - são os que mimam. Os que nos estragam fazendo todas as vontades, que passam os chocolates que os pais proibiram por baixo da mesa. Os que enrolam uma nota e a metem no nosso bolso das calças, mesmo que não precisemos. Os que nos contam as histórias dos disparates dos nossos pais quando eram pequenos. Todos os segredos guardados numa memória a longo prazo que quase nunca se apaga. Só que tu - nem eu sonhava - não eras isso quando moravas ali ao lado, quando podíamos ver-te todos os dias. É curioso como eu nunca percebi que tu não eras assim até ao momento em que tu passaste, de facto, a ser assim. Ninguém te ensinou a ser, e tu demoraste a perceber que os beijos e os abraços e as perguntas esquisitas não eram mais do que vontade de te sentir mais perto. Dizer-te 'olá', por estes dias, é um prazer. Porque te queixas que os anos pesam (e isso, desculpa, mas vê-se nos teus pés, que o teu corpo já não acompanha o ritmo da tua cabeça), mas não se percebe falando contigo. Percebe-se sim, a vontade que tens de inverter as coisas. Mas sei-te ainda muito pouco daquilo que quereria descobrir. Precisamos de mais horas, de mais tempo, de tantas conversas, de recuperar o caminho das poças de água e os pêssegos roubados ainda verdes. Precisamos de conversas demoradas, e de trocar ideias um com o outro. Que eu acredito que isso de trocar ideias é tão bom para quem as diz como para quem as ouve.
E que o inconformismo que escrevias no jornal quando metias as letras na máquina de escrever, tem-lo agora nas palavras. Isto de ser velho é aborrecido. Um dia explico-te porquê. Querias ser novo outra vez. E isso, aos 88, não é nenhum milagre. É de quem gosta de viver à séria.

2 comentários:

Zoka disse...

88 bem vividos, e que os 89 sejam ainda melhores!O avô mais corajoso e com mais necessidade de viver que eu já conheci! E é tão bom aprender que a vida vale realmente a pena...

Deb disse...

:)