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Coração nas mãos
O coração dela bate, bate, bate. O batimento é regrado, muito regular…pumpum, pumpum…
Aumenta quando o aparelho se aproxima. É um cone que tem na ponta uma esfera. É-me familiar desde que aquela pequenita nasceu e se tornou o ser mais importante da minha vida. Adoro-a tanto que nem eu mesma sei explicar e medir o quanto. Adoro-a desde que a vi…desde que a senti na barriga ondulante da minha mãe (desde aquela vez em que levantou a camisola que sujava sempre durante o almoço e vi uma onda, imaginei um bebé a pontapear as paredes do útero, a refilar connosco por não lhe darmos atenção)…desde que a imaginei.
Basta imaginá-la para sorrir, para sentir tudo de todas as maneiras. Saudades quando estou longe, alegria quando me faz rir, tristeza quando penso, ainda que num segundo, em perdê-la.
Esta distância que tento manter quando falo de alguém talvez seja apenas uma defesa para estes textos não parecerem apenas cartas dirigidas a um alguém determinado à partida.
Mas hoje é a ti, minha queridinha, que quero dedicar este humilde e sentido texto. Gostava de poder estar contigo aqui, ali, não interessa, num sítio qualquer. Gostava que te aninhasses como só tu sabes e me aquecesses a cama dez minutos antes de me deitar. Que me abraçasses e sentisse o teu coração, a tua pequena-grande coragem (porque és a mais corajosa que conheço) junto a mim.
Mas tu não estás aqui. E sinto o medo que te faz ter tiques. Porque és pequenina. Tens medo do escuro, medo de ficar sozinha, medo que te esqueçam, que não se lembrem, que não te dêem a atenção e o mimo que sei que (apesar de ser) nunca é demais.
Hoje estás com a mamã no hospital e a mana está aqui preocupada, a sofrer ao ver-te sofrer, quase a chorar por estares tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Claro que não é só por ti. Porque tenho a certeza que serás muito bem tratada e que tudo correrá bem. Mas só de pensar que num dia, muito muito longínquo te posso perder, dá-me vontade de correr para ti, dar-te beijos e passar o dia a abraçar-te, não te largar mais, e nunca mas nunca esquecer o cheirinho a bebé que todos aqueles que me conhecem têm conhecimento, só de me ouvir falar dele.
Adoro-te mais que demais…Mia. Não te preocupes (meu bebé para sempre)...a mana promete que vai correr tudo bem.