Falava-te eu das minhas coisas. De como sou perfeccionista, e mal-humorada (às vezes) e antipática à primeira vista. Falava-te de como tive a sorte da tolerância dos que me rodeiam. A sorte de me cruzar com as pessoas certas. A graça de me rir dos meus disparates. De como penso em coisas tão diferentes enquanto conduzo, da rapidez com que entretanto olho para o relógio no tabeliê e mudo instantaneamente a estação de rádio porque me apercebo que é hora das notícias. Ou então da maneira como grito alto pela música que aumento para o máximo na rádio. E sorrio enquanto bamboleio os ombros de um lado para o outro, como se estivesse metida numa pista só minha. Falei-te das coisas tal qual são. E do que nem sempre é o que parece. De como sou tão casmurra e da maneira como num instante peço perdão e corro a emendar erros que detecte. Por mais pequenos que sejam. Porque são meus. Sou sempre tão pragmática que invejo às vezes dos desaustinados, sempre tão despreocupados e tão sem peso nos ombros. Mas decerto não os invejo mais do que invejo os pássaros e a visão que não falha, que podem ter vistas panorâmicas a qualquer momento. Por mim andava sempre a sobrevoar Lisboa que adoro, cidade poema. Apaixonante. E sou imperfeita, bem sei. E gosto. É avassaladora a maneira como o meu coração acelera o "passo" quando falo dela. Só nunca posso comparar esse batimento ao que sinto quando penso em ti, pequena Mi. Que fazes parte de mim. És a minha cabeça, o meu corpo, o meu coração. E se algum dia me faltas, faltar-me-ei eu também, tal como as letras que teimo em escrever todos os dias naquela sala enorme e iluminada que me colora os dias. E onde eu pinto as linhas de realidade. E observo com cuidado as imagens que não sei captar. E analiso com olhos de cirurgiã os espaços vagos naquela folha de agenda demasiado cheia e às vezes tão vazia. Sinto-me como se a vida ainda estivesse toda por viver. E é essa a esperança que me preenche hoje. Na última noite destes 24 anos. Passei-a a escrever, como gosto. E a pensar baixinho para não acordar ninguém. Que gosto pouco de dar nas vistas por estas coisas pequenas. Mas só me calo - que já sabes - sou tagarela que dói - se me prometeres que, como prenda para os 25, me dás uma hora a mais em cada dia. É justo, vá lá. Foram 24 anos da minha vida a (sobre)viver com dias de apenas 24 horas. Dava-me um jeitaço.
2 comentários:
não é por estares zangada comigo, mas olha que acho q nunca gostei tanto de 1 texto teu como deste :)
Mi, diz à Mariana que adorei de morte.
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