Havia lá um calor bom, daqueles que aquece a pele só do contacto, mal se sai do avião e o ar condicionado desaparece. Era assim calmo como a infância, de uma calma que se torna hábito tão rapidamente como nos habituamos a qualquer coisa boa e de que sentimos que sempre estivemos à espera. Havia lá muito verde, entre montanhas, florestas, t-shirts e havaianas, com a bandeira do Brasil. Havia obras em Copacabana, e no Leblon, e no caminho para o aeroporto Tom Jobim - e como me encantou o nome do aeroporto - que preparam o país para o que aí vem e para tudo o resto. É um povo virado para o futuro, pessoas preparadas para receber. Contaram-se histórias de produção de ostras na casa-trabalho da dona Gioconda, e do Niemeyer e de uma cidade que ele não construiu. Contou-nos a Helena, que nos recebeu entre doces e chás quentes e frios. Numa pasta, entre capas de plástico, contou-nos a história de um projecto feito e desenhado ao pormenor, e que só o pai dela cumpriu. E disse-nos que a pele pendurada na lareira da pousada dos Chás fora trocada, em tempos, por uma garrafa de chachaça brasileira, numa caçada em que o negócio foi feito entre o tio dela e índios. E depois metemo-nos mais uma vez na carrinha do seu Octávio - nem sei quantas vezes nos metemos naquela carrinha - e seguimos um caminho que parecia que não acabava nunca mais. E foi um amor que senti à primeira vista, uma familiaridade com o desconhecido que nunca imaginei. Foi sentir-me em casa e querer voltar rápido e cedo, que já tenho saudades do "nossa, minina" da Carla Paulista, ou das reflexões com selo "banana reflexiva" do Richard que desenhava tudo quanto via e ouvia. Há histórias que vou resgatar com o tempo. Outras que vão ficar comigo para sempre. Foi bom, tão bom, que tenho mesmo de voltar.
1 comentário:
Que lindo, miúda!
E que vontade de lá ir!
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