Não tinha mais de metro e meio. Uns cinco, talvez seis anos. Estava agitado, não foi preciso muito para perceber que estava nervoso, ansioso. Estava com uma mulher morena e muito magra, com as unhas impecavelmente pintadas e o cabelo impecavelmente esticado, pintado de preto. Chamou-lhe mãe, enquanto apressava a pintura de um papel quadriculado, com letras desenhadas. Olhei por cima do jornal a tentar disfarçar a minha curiosidade de quem espreita sem autorização, só por mera cuscuvilhice. Amo-te muito, pai, lia-se em letras gordas, que pintava apressado antes de ele chegar. E ele chegou mais cedo do que se esperava, camisola com capuz verde e mochila às costas, como quem parece vindo de uma aventura. Abraço apertado que exigiu baixar a cabeça debaixo do corrimão de metal, e um olhar curioso sobre o que se passava ali, enquanto ela pintava depressa o que faltava, com a ajuda dele, que sentia o tempo a passar e tentava disfarçar o papel ali estendido e sob o meu olhar atento, cada vez mais curioso. Cada vez mais evidente. Fechei o jornal, li a contracapa. E eles a colorirem o desenho com lápis de cor. Letras gordas pintadas e folha dobrada, o miúdo entrega ao pai o papel quadriculado com a mensagem de boas-vindas. Ela tira do saco de papel um boneco de gesso pintado - uma miniatura de jogador de futebol - e esconde-o para que ele não o veja até ele lho mostrar. Um trofeu de orgulho por um campeonato infantil ganho. E ele dá-lhe um abraço. A seguir, um diploma da escola de futebol do Benfica. E outro abraço. Finalmente, um pacote de leite simples ainda com a palhinha colada. Outro abraço. É bom tê-los aqui. Pequeno-almoço dividido no aeroporto.
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