É feito de um ar pesado, o ambiente que se respira no aeroporto. Seja a que hora for, de partida ou de chegada, a entrada é feita de expectativa. Há no ar um tom pesado de apreensão. Há receio e curiosidade quando se olham os grandes ecrãs que listam os balcões do check-in ou a hora de chegada. Delay a vermelho intermitente. Landed a verde, letras gordas - e que parece - respiram de alívio. Há gente que se abraça na passagem pela segurança, lágrimas de saudades ainda nem foi a despedida. Gente que entra apressada com medo de perder um último abraço; confusão na fila por um último café falado em português; palavras a seco que nem a boca precisa de mexer-se para as mãos se tocarem. Recomenda-se juízo, precaução. Boa viagem. Entre abraços e beijos, aterro em mim. Apercebo-me da grandiosidade da decisão. Preparaste as coisas tão criteriosamente que parece que desde sempre ouvi falar desta viagem. Tanto que sempre foi um plano e nunca tinha pensado nela como realidade. E ela aterrou-me no colo sem me aperceber, leve, levezinha, uma verdadeira pena. Arrisco a solidão de ficar, sabendo que parto contigo, eu mesma, por momentos. Parto nas conversas, nos emails, nas confissões. Parto nos sonhos que ficaram por concretizar. Parto sem sair daqui - que alguém tem de ficar - mas indo e voltando também. Da partida, sabemos apenas quando vamos. Antes dela, é apenas uma miragem.
Não fico pela Portela à espera do regresso porque não gosto do barulho dos aviões. É agudo. É ensurdecedor. É dormente. Faz doer a cabeça. Mas confesso que gosto de regressos. É sinal que nas viagens, tudo muda e nada se altera. Dentro do caos do aeroporto, aquece-me a lei de Lavoisier. Nada se perde. Nada se ganha. Tudo se transforma.
*(Ou crónica sobre a partida e chegada; sobre a despedida e o regresso. Ou ainda uma carta à minha querida Meg)
1 comentário:
Minha querida, querida Mary Ann!
Só hoje tive um bocadinho de tempo para me dedicar a Internet!
Muito obrigada por esta carta em jeito de despedida.Ou de "Até já..."
Muito obrigada pelo café na Portela, pela caneta cheia de sorte, pelo sorriso, pelos disparates e pela companhia.
As lágrimas caíram quando vos deixei. Porque não sei ao que venho, mas sei exactamente o que deixo aí.
E há uma certeza que o Oceano guarda como minha: vocês vão estar sempre na minha vida.
Obrigada por vires e por ficares. Por fazeres andar a agenda na rapidez dos dias. Por partilhares comigo tanto.
Obrigada! :)
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