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quinta-feira, janeiro 29, 2009

Foi sem mais nem menos

Moreno, cabelo às ondas que mais parecia um mar revolto. Sorridente. Amigo. Lembro-me bem de ti, das tuas gargalhadas encostado à entrada da escola. Da maneira como coçavas a cabeça quando querias pensar em alguma coisa. Dos teus dentes alinhados. Marcou-me o teu gosto por ajudar, sempre que podias, os teus amigos. Eras um bom amigo, daqueles verdadeiros. Daqueles que nunca se esquecem, que não se esquecem de nós, que querem o nosso bem.
Tinhas uma paixão por motas. Imensa, verdadeira. Uma paixão daquelas assolapadas, que nos deixa sem fôlego, que nos leva a fazer tudo por ela. Que não deixa espaço no pensamento para mais nada. Há algum tempo que não te via antes de me terem dado a notícia. Lembro-me que pesou no meu dia o teu acidente. E pesou-me, em mim, a partir daí, a tua falta. O semblante carregado dos teus amigos de sempre, à espera que tudo fosse um pesadelo e que pudessemos acordar a qualquer hora. Mas não era. Foste mesmo tu que, a caminho do trabalho, pouco passava das 7 da manhã, ligaste pela última vez a mota sonhada. A mota finalmente vivida. Foste mesmo tu que, assim, sem mais nem menos, tiveste azar de estar no sítio errado à hora errada. E quando os factores se juntam assim, a resistência não chega. Nem a paixão. Foste tu que, nesse dia, não resististe.
Sete anos sem escrever uma linha sobre o assunto. Há dias que nos marcam mais do que podemos sequer imaginar. A paixão pode matar. Literalmente.
E isso não tem nada a ver com justiça. Tinhas 17 anos, caramba.

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