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sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Carnaval um

Enquanto eles se passeiam pela curta avenida - mas a mais comprida cá da terra - cheios de folia carnavalesca e a pedirem atenção constante, os passos que eu dou são a pensar em ti. Quero abraçar-te quando chegar a casa. A música leva as ancas a balancear, para lá e para cá. Os chapéus coloridos lembram as pessoas de que o tempo é de festejos. Todos se vestem de maneira diferente. Querem ser alguma coisa que sonham, ou então que nunca sonharam. Ou simplesmente, querem ser diferentes de todos os dias. As colunas altas invadem as ruas com canções cantadas em brasileiro - o maior dos foliões. Os miúdos correm por entre a gravilha do separador da avenida, e quase atropelam aqueles que, como eu, têm o pensamento longe. E a hora de te abraçar nunca mais chega. Caminho em procissão. À minha frente, outros miúdos da idade do teu irmão mandam serpentinas aos que observam a passagem do cortejo. E eu ando automaticamente, e páro sempre que eles param. Não olho para trás nem reparo na guerra de balões de água, que disputam a atenção das miúdas penduradas à varanda do prédio do cruzamento. E nem a luz do dia aquece o meu estômago - porque o sol não reflecte no preto -, nem sequer a música me entra nos ouvidos. O amarelo, o azul e o resto da paleta transformaram-se em cinza há muito. Varia apenas o grau desta cor fria - ora mais escuro, ora mais claro - aos meus olhos. Não consigo sequer bater o pé nas paragens, a acompanhar o compasso. Porque simplesmente não o oiço. E quem me olha sabe que as minhas roupas pretas escondem o meu medo diário.
Medo não. Certeza.
Sei que vou chegar a casa, procurar-te no teu quarto e ver que tudo está intocado. Como desde o dia em que não voltaste. Sei que, mais uma vez, quando chegar a casa e for à tua procura para te abraçar, tu não vais estar.

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