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segunda-feira, maio 17, 2010

O dia do ramo da espiga

"Bom dia", dizia ela do alto do metro e meio, sapatos de verniz altos e bicudos, próprios de uma professora primária. Respondiamos, já de pé e em coro "Bom dia, sra. professora", um hábito criado desde o primeiro dia, sem objecções (que em 1991 não havia quem refilasse com os professores). Anunciava que depois do intervalo grande - onde corríamos por baixo do chorão (que diziam ter escorpiões) e fingíamos ser super-mulheres no meio dos rapazes que não nos ligavam nenhuma nem se deixavam distrair no jogo de futebol - íamos apanhar a espiga. Que era dia da espiga. E nós - que a memória é curta e comprida - não nos lembravamos bem o que isso queria dizer. O intervalo ainda dava margem para mais uma passagem de modelos - e para roubar mais umas flores de maracujá ao jardim da D. Madalena no Casaleiro (que nunca fez queixinhas quando encontrava a minha mãe no supermercado).
Dois a dois - meninas com meninas e meninos com meninos - seguíamos por caminhos de cabras a tentar apanhar as papoilas mais viçosas, e as espigas mais bonitas. Margaridas, e "o teu pai é careca?" e mais outros jogos que envolviam namorados, e amoras, e quantos tens e quantos queres e se queres ou não queres. Não quero não. Do Matão para o bairro Mãe de Água são dez minutos de distância. E um acampamento de ciganos com a roupa lavada e estendida ao sol - que seca com o vento - onde os cães ladravam quando passávamos. E uns caminhos que já nos eram familiares ao passarmos por lá (e que agora, talvez já não reconheça, que há tantos anos não passo lá). E depois, raminhos bem feitos, escrevíamos uma frase bonita para entregar - qual presente que agora poucos dão valor - quando nos fossem buscar para almoçar.

2 comentários:

JPC disse...

:)

Flor de Sal disse...

Que boas, estas memórias! Gostava tanto de ter tido o dia da espiga:)