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quarta-feira, maio 19, 2010

Razões, ao ritmo do djambé

Falta-nos por aqui uma grande razão
Como dizia o Cesariny
Uma verdade para qualquer estação


Falta-nos um motivo, um anseio
um desejo fortíssimo,
Um desígnio, uma visão

Falta-nos um punhal brilhantíssimo
Para liquidar esta vida de conformismo
De rotina sem ambição

E falta-nos uma espingarda
Para apontar ao manto da noite
E rasgar estrelas na escuridão

Falta-nos um visionário
Que traga o futuro nos olhos
E a cara pintada de carvão

E falta-nos um gato persa
Que seja tão sábio como os sábios
Quando sustém a respiração

Falta-nos um garfo de aço holandês
Com embutidos de mármore
Que diga poemas em alemão

Falta-nos um Kant, um Locke
Um Aristóteles, um Sócrates,
Um Newton, um Platão

Falta-nos acabar com os burocratas
Fundar uma não igreja
E pôr no altar a imaginação

E falta-nos uma pianista que toque
Bach, Mozart, Chopin
De forma perfeita com uma só mão

Falta-nos brilho, noite, lantejoulas
E uma inesperada mulher-palhaço
Que nos faça rir até à exaustão

E falta-nos um jardim humanológico
Repleto de corruptos e assassinos
Comidos dia a dia por um leão

Falta-nos um relógio que não nos dê ordens
Um barco que seja um jardim
E um zeppellin que só ande no chão

Falta-nos dedos para tocar o invisível
Todas as palavras ainda por dizer
E uma imensa coragem no coração

E falta-nos ter o peito muito aberto
A tudo o que seja talento, novidade,
Diferença, inovação

Falta-nos fazer o exercício diário
De andar de bicicleta num arame esticado
Entre dois prédios em construção

Falta-nos sobreviver sem telemóveis
Automóveis, sacos de plástico,
Ipods, twitter e sobretudo a televisão

Falta-nos fazer filhos aos magotes
Mas não para garantir a segurança social
nem os educadores do ministério da educação

Falta-nos esquecer todas as fronteiras
Instalar alarmes, os barcos da marinha
Sossegar o nosso medo da imigração

Falta-nos filosofar socraticamente
Sobre negros, amarelos, mulatos
E os benefícios da miscigenação

Falta-nos uma bússola, um sextante
Um astrolábio, a rosa dos ventos
para nos ajudar na navegação

Falta-nos uma mesa de pé de galo
Que se levante no ar e voe
Quando o debate se transforma em discussão

Falta-nos discursos de jazz no parlamento
De Coltrane, Milles Davis, Thelonius Monk
Em vez de Governo e oposição

E falta-nos fazer algo verdadeiramente original:
eleger um sonho para nos governar
Em vez de uma desilusão

Até lá, como dizia o Cesariny
Falta por aqui uma grande razão!
Nicolau Santos

1 comentário:

Susana disse...

Falta nada disso não...
Está é em hibernação

(bjo)