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segunda-feira, dezembro 18, 2006


Alimentar passaros


As maos, envelhecidas e amareladas pelo tempo, eram testumunho dos anos idos em que trabalhava na fabrica de tijolos, nos arredores da grande cidade. Foram tempos dificeis esses. A mulher e os tres filhos pequenos recebiam-no de bracos abertos, mesmo que o dinheiro tardasse para pagar as contas acumuladas na mercearia da rua.
A saida, fazia-a ainda de noite, quando todos dormiam. E as maos, aquecidas no caminho, uma contra a outra, eram a sua companhia, bem como os pensamentos. Pensava no momento em que voltaria para casa para os abracar e saber do que tinham feito durante o dia. A sua princesa, acendia o fogao de sala improvisado que aquecia os pequenitos. Mas eram, sem duvida as conversas sobre os dias que aqueciam os coracoes. O poder dos olhares era tanto que nada o igualava. E trocavam ideias, pensamentos, segredos que mais ninguem sabia. Eram pessoais e exclusivos do nucleo familiar.
Depois de parar de trabalhar, os dias encheram-se mais desses pequenos momentos, ainda que os pequenos se tenham convertido em grandes e abandonado temporariamnete a casa paterna. As dificuldades nao sao agora tanto as economicas mas as de encontro. Agora quando chega ja nao tem princesa e tres principezinhos a espera. A princesa esta, efectivamente, agora mais velha e casmurra, mas preserva o sorriso que o fascinou e as preocupacoes que sempre a caracterizaram. E continua a acender a lareira para que as maos dadas se aquecam depressa.
Quanto aos pequenotes seguiram a sua vida (como tem de ser). Alem das frequentes visitas (ja que, por sorte, vivem perto), conservam a alegria e a forca da juventude, que ajuda a encarar cada dia como algo totalmente novo.

Ele, caminha pelo parque. Solitario, pisa as folhas caidas e amareladas do Outono. Sao esses os seus dias. Alimentar passaros. Encontrei-o ontem com a alegria que, creio, foi sempre sua. Queriamos tirar uma fotografia a retratar o seu "oficio". Disse, como quem esta convencido de que tem razao, que a "fotografia perfeita" seria comigo a alimenta-los, eu mesma.
Como sempre, temi pela impressao que o pequenitos pudessem provocar na minha mao; qualquer movimento repentino da minha parte poderia ser fatal.
Por outro lado, nao queria perder a oportunidade. Aproximei-me. Pareceu-me um momento eterno, aquele. Daqueles que nunca mais se repetem e, no entanto, prevalecem.

Eu tambem ja alimentei passaros.

sábado, novembro 18, 2006


Fumava uns cigarros atràs dos outros. O fumo, segregado pelos làbios, deixava um doce cheiro no ar. De dia, fumava-os rapidamente, à entrada dos cafés, das livrarias, das lojas de musica. Nas esplanadas, tentava afastar-se de quem nao o fazia. Mas de noite, os cigarros eram a companhia das noites frias, e ela sabia-o. Escrevia poesia enquanto os agarrava entre os dedos da mao esquerda. O s dedos, amarelados pelo vicio, eram testemunho das noites sem dormir e dos dias a correr, passados entre os dois trabalhos que o dividiam.
Mas à noite, era diferente. A luz vaga do candeeiro na mesa ao fundo do quarto, iluminava pouco as caras e deixava a imaginacao trabalhar. Quando batiam à porta, ele sabia quem era so pela maneira como os dedos assentavam na madeira clara e oca. Nem precisava de dizer-lhe que entrasse. A vontade era maior que tudo e apressava-se a perguntar como tinha corrido o dia. Respondia-lhe apressada que, « -Bem ! » e aproximava os labios da testa dele, dava-lhe um beijo e dizia-lhe « Até amanha ».
O jogo comecava. Ela dizia que nao num compasso calculado entre a ficcao e a realidade. Dava razoes mais que plausiveis para serem felizes para sempre. Acreditava e fazia-o crer tambem.
O cigarro dava calor quando ela saia a meio da noite sem avisar e o deixava acordar com a ideia de que tinha sido tudo um sonho. Os làbios rosados nos ombros descobertos sentiam a pele macia e arrepiavam-na sempre. Ela suspirava com vontade de o abracar mas deixava-se embalar por aquele toque carinhoso.
-Amas-me?
-Claro. Sabes que sim.
Pegou no cigarro e deu uma passa profunda. Partilharam o mesmo cigarro e deixaram-se contemplar um pelo outro. Afinal, ela sempre achou que partilhar um cigarro era das coisas mais romanticas.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Num milesimo de segundo
E quando ela, la ao longe, o viu dizer Adeus, pegou nas forcas que lhe restavam e gritou:
-Quero que toda a gente saiba que te amo!

Depois caiu exausta no chao frio da rua e sentiu-se morrer.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Era sempre da mesma maneira. Acordava quando o sol se punha e com ele nascia todos os dias. As piadas nunca eram as mesmas e os pensamentos sobre ela eram recorrentes. Uma vez, cairam os dois à entrada daquela igreja alta e familiar, naquele largo onde tantas vezes se despediram. Sorriram e ficaram imoveis a espera que o momento ficasse para sempre. Ele dizia que tinha a sensacão que era sempre ele que dizia adeus e ela queria dizer-lhe que não mas também o sentia. Ficavam montes de vezes a olhar um para o outro e as conversas eram tão envolventes que conseguiam que se passassem horas sem que nunca um assunto fosse repetido. Sorriam juntos e cada um no seu mundo, quando, no balanco do dia, desejavam estar juntos.
Ele pedia-lhe muitas vezes para dancar no meio da rua. E nessas alturas criavam um mundo so deles e nao davam pelos olhares e sorrisos dos outros que passavam (e passavam mesmo). Quando as cartas comecaram a ser assiduas, ela achou que estava apaixonada. Ai, tudo aquilo que pensava se desvaneceu. A fortaleza edificada dissipava-se a cada abraco, a cada sorriso, a cada beijo, a cada toque de maos. E quando ele desapareceu naquele segundo em que o despertador tocou, ela continuou a sonhar com ele.

terça-feira, outubro 31, 2006


As nossas cores


Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodovar
Cores de Frida Kalo
Cores

Passeio pelo escuro
Eu presto muito atenção no que o meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um carro
Uma casca
Uma cápsula protectora

Ai eu quero chegar antes
Para finalizar
O estado de cada coisa
Filtrar seus graus

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Dos meninos que têm fome

Pela janela do carro
Pela janela do quarto
Pela tela
Pela janela
Quem é ela
Quem é ela
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Escolho meu modo
Me mostro
Eu canto:
Para quem?

Pela janela do carro
Pela janela do quarto
Pela tela
Pela janela
Quem é ela
Quem é ela
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E meus amigos? Cadê?
Minha alegria?
Meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado!
Pela janela do carro
Pela janela do quarto
Pela tela
Pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
nãnãnã...nãrãnãnã...

Adriana Calcanhoto



("Nem sei ao certo se a letra está certa"...só sinto muito as saudades destas noites em que ficamos, com toda a serenidade e alegria do mundo, a conhecer-nos melhor. E é nestas noites que o mundo parece estar aos nossos pés e todas as cores têm o sabor da amizade mais forte e mais pura do Mundo.)

quinta-feira, outubro 26, 2006


Que me dizes a um Erasmus a copo?
(irresistìvel...)

terça-feira, outubro 24, 2006

Pessoa: do Lat. persona, s. f., ser ou criatura da espécie humana; ser moral ou jurídico; personagem; individualidade.

Pessoas lindas
Pessoas estranhas
Pessoas simpàticas
Pessoas tìmidas
Pessoas que nos dizem muito
Pessoas a quem nao somos nada
Pessoas especiais
Pessoas desafinadas
Pessoas desajeitadas
Pessoas que gritam
Pessoas que choram
Pessoas que se defendem
Pessoas inteiras
Pessoas em construcao
Pessoas crescidas
Pessoas pequeninas
Projectos de pessoas
Pessoas boas
Pessoas màs
Pessoas alegres
Pessoas sem vergonha na cara
Pessoas corajosas
Pessoas destemidas
Pessoas aventureiras
Pessoas que sabem
Pessoas que nao fazem ideia
Pessoas presentes
E pessoas que nunca estao
Pessoas fortes
Pessoas friorentas
Pessoas caladas
Pessoas altas
Pessoas baixas
Pessoas que pensam alto
Pessoas que nao chegam aos calcanhares
Pessoas futuristas
Pessoas tal qual sao
Pessoas assim.
Tudo Pessoas.

domingo, outubro 22, 2006

Imagens Reais

O horror, o drama, a tragédia!!!
Madrid, a movida e a aventura Erasmus...tudo junto...agora em imagens!!!

(é isso mesmo...criei o meu proprio fotolog...durante Erasmus hà mais uma oportunidade para saberem da minha vida...agora com ilustracao!!!)

www.fotolog.com/mianocas

Visitem e comentem!!!

sexta-feira, outubro 20, 2006

Inverno

Custa-me abrir os olhos de manha...olho pela janela e vejo tudo escuro. E é impossivel perceber o que se passa na rua através da janela, impossivel saber o que vestir, se esta frio, se esta calor, se chove...

Os olhos ardem-me e depreendo que seja pela impossibilidade de adaptacao à luz...ardem-me tanto...
Hà vida nesta cidade pela quantidade infindàvel de vezes que consigo ouvir a sirene de ambulancias ou bombeiros na enorme avenida onde moro; fica mesmo junto a uma grande rotunda que faz a ligacao entre quatro caminhos...é assim que se chama: Quatro Caminhos. Alguma vez tive quatro caminhos a escolher? Normalmente, creio, sao apenas dois...nem sei se seria mais fàcil escolher entre quatro...seriam...este, aquele, o outro e o outro...nem poderia estar perante um dilema..senao um grande dilema...melhor...um quadrilema.

Pois é, para sorte ou azar calhou logo viver em Quatro Caminhos...para o melhor e para o pior...como estes textos que escrevo.

Desde que aqui estou que nao me surgem grandes temas para alem da propria da experiencia que ando a viver. Tudo o que vem a cabeca esta relacionado com ERASMUS; é inevitàvel que se fale disto e nao consigo evitar pensà-lo em palavras. O pior é que dessa pasagem para a escrita sobra muito pouco e parece-me tudo tao limitado...tao sem sumo?!!

Acordo. Destapo-me. Ponho os pés mornos no chao branco e frio. Espreito pela janela e nao vejo nada. Olho, tento ver para além do vidro e para alem dos sons que ja me invadiram os ouvidos desde o primeiro momento. E de repente é hora de despachar. Hora de correr, de apanhar o metro. De pensamentos matinais. De observacoes a olho nu de uma realidade com a qual tantas vezes jà me identifico e outras tantas me causa repulsa, desalento e tristeza. E tento perceber as palavras. E corro para apanhar o semàforo verde quando jà pisca.
Respiro este ar. Bebo palavras, atitudes, caras e expressoes quotidianas de tanta gente com que me cruzo diariamente. Volto a casa e espero ansiosamente. E sinto-me, às vezes, tao mais vazia do que gostaria...

terça-feira, outubro 03, 2006

Já te tinha visto antes sem dar por ti.
Tinha-te imaginado sem te conhecer.
Sonhei contigo. Noites e noites. E noites.
E sorri tantas vezes a lembrar-me das tuas graças.
E no mais íntimo do meu ser, sinto-te dentro das entranhas da minha alma. Em cada bocadinho do que sou eu.
E é sempre tudo tao especial. Tao quente. Tao solarengo. Tao mágico. Tao nosso, nao é?

E depois colaste-te. Colei-te. Deixei-te ficar. Quis sempre que ficasses.
Gosto. Gosto muito. Adoro. Adoro mesmo. Gosto de adorar gostar de ti.
AQUI


Aqui nunca fica de noite.
Aqui o metro é caótico, o ar pesado, todos se atropelam e falam ao mesmo tempo. E sempre alto.
Aqui faz muito calor...e dizem...também muito frio.
Aqui as pessoas sao diferentes umas das outras. Há pessoas de muitas nacionalidades que falam muitas línguas e riem e choram e gritam de maneiras distintas.
Aqui quase todas as "chicas" têm piercings na boca.
Aqui todas se pintam, de noite e de dia.
Aqui todos os dias, ao fim da tarde, as ruas enchem.
Aqui há barulho na rua e feiras ao Domingo e velhinhos à conversa sentados nos bancos das praças e tapas caras e miúdos a correr pelos jardins quando o calor de Verao amaina.
Aqui o movimento é intenso.
Aqui os cheiros misturam-se, ouvem-se gargalhadas e vêem-se sorrisos e amigos aos abraços e namorados de maos dadas,
Beijos apaixonados e sorrisos cúplices.
Aqui os prédios sao altos e escuros e nao se percebe., da janela, o tempo que está.
Aqui as praças sao amplas e o sol ilumina as caras e os corpos.
Aqui tudo é novo.
Aqui por isso, tudo é estranho.
Apesar de já ter cheirado, sentido, ouvido, visto e imaginado.
Aqui. Isto aqui.
Aqui.

segunda-feira, outubro 02, 2006


Quando?

sábado, setembro 09, 2006

Lo importante es volver


O calor aperta. Num Verao qualquer eu nao estaria aqui. As marcas brancas da estrada passam por mim a toda a velocidade e o desconhecido aproxima-se a um ritmo galopante. Alucinante. Desesperadamente assustador. O vidro aberto balança os cabelos mas nao refresca. O ar está quente, seco. Tenho as maos quentes. A garganta seca. A cabeça cheia. Gosto de memórias. Gosto de recordaçoes. Do passado. Gosto de saudades. E já as tenho. Elas nao me largam.
Um placard luminoso na autoestrada. Lo importante es volver. Sei que faz parte de uma campanha publicitária qualquer. Para se ter cuidado. Para se conduzir com prudência.
Para mim é muito mais. É um pedido. Uma lembrança. Um sinal.

Um desejo.
Desejo rever-vos o mais rápido possível. Quero Erasmus. Quero ainda mais voltar. Quero sentir-vos. Quero ter-vos. Quero saber-vos aqui, ali, lá comigo. Onde for. "Para o Infinito e mais além". Como no Toy Story. Tenho Saudades.
Isso mesmo. Permito-me alterar o sentido do sinal. Do aviso. Do desejo. Da brincadeira. Lo importante es ir. Y despuès volver.

sábado, julho 22, 2006

Para o Avo Jú, com todo o carinho e saudade que sinto dele.
É impossível passar indiferente pelos momentos, pelas memórias, pelas fotografias.
As lembranças percorrem-nos a cada palavra, a cada lágrima, a cada pensamento.
É impossível não lamentar a situação,
Impossível não sofrer.
É impossível esquecer o Avo Jú,
Impossível pensar que é o fim porque, acredito,
É impossível o avo caber apenas no caixão onde o corpo descansa,
Impossível descreve-lo, caracterizá-lo tal qual ele é.
Porque é muito mais do que o corpo que pereceu.
É o amigo de todas as horas,
O marido, o pai e avo exemplar.
Além disso, é o Homem,
Humilde, sério, correcto
Sempre tão dedicado e tão orgulhoso,
Tão carinhoso e sincero.
Impossível é que fique para sempre longe;
Porque agora está mais perto de todos,
Bem dentro de cada um de nós, onde vai ficar para sempre.
19.06.2006

quinta-feira, julho 06, 2006


Treinadora de Bancada

O que eu gostava mesmo era...

...que o Ricardo Carvalho não tivesse posto o pé;
...que o Nuno Gomes tivesse entrado em vez do Postiga ou que houvesse 4 substituições;
...que o tempo pudesse voltar atrás e pudessemos marcar uns e evitar outros.

A inevitabilidade do tempo é uma coisa tramada...quase sempre. E às vezes são os melhores que perdem! E o melhor foste tu, Portugal! Parabéns!

quarta-feira, junho 21, 2006

A.M.O.T.E.

O meu sol não é o que ilumina o teu dia.
Nem a tua lua é a mesma que transfigura a minha noite.
Buscamos complementaridades de maneiras tão diferentes que não as encontramos.
A subtileza e a evidência contrastam tão intimamente que se substituem em simultâneo sem darmos por isso.
A urgência de to mostrar motiva o que te digo sempre. Para ver se um dia tu paras de pensar que não...
E acreditas

segunda-feira, maio 29, 2006

Fui

Queria guardar tudo. O reencontro, os momentos, os sorrisos, os passos, os abraços. Queria ter na minha cabeça imagens, fotografias, sons, inspirações e expirações.
Queria recordar tudo sem ter de pensar, as ideias deviam vir simpes e espontaneamente à minha cabeça e dançar num compasso livre e disperso, como ela quisessem, sem constrangimentos e sem segundas intenções.
Queria ter coragem de embarcar nessa aventura, voar, pousar, sentir, aderir, compreender, perceber, ver, reflectir, pensar, concluir.
Imaginava tudo tão difuso, tão nebulado. Queria atitude, coragem, dedicação. Eliminei o conformismo, cedi à vontade, à grande vontade. Respirei, ganhei coragem, acreditei e fui.
Adorei.
Pode não ser grande passo para todos os que não o vêem assim. Para mim foi desafiar-me a mim mesma e à minha coragem, tantas vezes de garganta...acho que me fiz crescer.

terça-feira, abril 25, 2006

Inspira(-me)

Aqui, neste frio de fim de tarde/princípio de noite, falta-me a inspiração. Falta-me a memória daquelas coisas que me lembro enquanto ando na rua, do que penso quando me cruzo com quem quer que seja, ou daquilo que gostaria de escrever se tivesse papel quando vejo aquelas coisas que me comovem ou que me chocam ou que pedem de mim uma intervenção (aquela que penso feita à minha maneira).
E vivo assim nesta incostância minada, umas vezes pela vontade de escrever e outras pela frustração de não me lembrar o quê.
A substância é muitas vezes aquilo que me falta nestes dias que me perseguem como se o amanhã nunca mais chegasse. E por mais que me deite e teime em deixar a portada entreaberta para acordar sem despertador, parece que o novo dia que chega é sempre igual. As pessoas as mesmas, as acções automatizadas e as obrigações mais do que instituídas.
E penso que já não me lembro bem daquilo que pensei ontem precisar de escrever. Parece um paradoxo. Não sei precisar aquilo que preciso de escrever.
E o passar dos dias só é uma confirmação disto que sinto.

quinta-feira, abril 20, 2006

Num Meio de Minuto...

Tenho tantas saudades tuas.

terça-feira, março 14, 2006

Dias Exemplares

São três histórias. Sempre três personagens. Uma Mulher. Um Homem. E uma Criança. As vidas cruzam-se como na vida real. Em três tempos diferentes. Passado. Presente. Futuro. Nesses três tempos, sem nos darmos conta, somos transportados como se quiséssemos ir, como se a eles pertencessemos. Em comum têm apenas uma tigela. E mais importante que isso, a poesia de Walt Whitman. Um poema, "Folhas de Erva", que se torna, sem darmos conta, o mote destas histórias. Como o poema é enorme, deixo um excerto. Espero que aguce o apetite.

"Já disse que a alma não é mais do que o corpo,
E já disse que o corpo não é mais do que a alma,
E, para cada um, nada, nem Deus, é maior que se próprio,
E quem caminha duzentos metros sem amar caminha para o seu próprio funeral, envolto na sua mortalha,
E eu ou tu, que não temos tostão, podemos comprar o melhor que há na terra,
E olhar de relance ou mostrar um feijão na sua vagem obscurece o saber de todos os tempos,
E não há ofício nem trabalho em que um jovem não possa tornar-se um herói,
E não há objecto tão frágil que não possa servir de eixo às rodas do Universo,
E digo a cada homem ou mulher: Que a tua alma permaneça serena e plácida perante um milhão de universos."

domingo, março 05, 2006

Apetecia-me...

Às vezes apetecia-me parar, no caminho para casa. Parar naquela ponte, que permite passar a linha do comboio. Apetecia que ela não tivesse aquela cor, aquela textura, aquela frequência às vezes aflitiva durante o dia e aquele silêncio arrepiante durante a noite. Às vezes apetecia-me sentar, naquela ponte que (apetecia-me) não tivesse aquele metal à volta a proteger das quedas. Apetecia-me sentar, deixar cair as pernas e ficar com elas a abanar...para trás e para a frente, para a frente e para trás. E depois ouvir o vento. Apetecia-me que nesses momentos os meus pensamentos não fossem interrompidos pelo barulho que me ensurdece, sempre que lá passo. A petecia-me ficar a ouvi-lo. Porque os pensamentos estão sempre em mim, quando passo naquela ponte. E apetecia-me sentar, baloiçar os pés e parar por momentos, num segundo. Assim, o momento iria parecer algum escondido num daqueles filmes em que os pés balançam e em que muitas palavras ficam por dizer porque a velocidade a que circulam na cabeça não o permite.
Apetecia-me depois ficar a olhar para Lisboa. Aquela que tenho vindo a conhecer, pouco a pouco, mas loucamente, como qualquer paixão em início de namoro. Eu namoro-a desde o primeiro dia. E apetecia-me ficar com ela, senti-la, enquanto baloiçava os pés. E apetecia-me ficar a pensar naqueles que fazem parte dos meus dias, naqueles que não têm estado cá, naqueles que estão, naqueles que riem e choram e gritam e refilam e brincam e fazem parte de mim. Daqueles que vejo todos os dias e daqueles que desde a véspera da partida deixaram saudades. Apetecia-me, quando me sentasse, lembrá-los todos e senti-los, no sopro do vento, todos lado a lado, ao meu lado, nessa ponte onde passo todos os dias. Apetecia-me que não houvesse combóio nem rede nem arame nem barulho. Apetecia-me que às vezes, Lisboa fosse só esta paixão, com silêncio e onde eu pudesse ouvir, quando me apetecesse, apenas o sopro do vento.

domingo, fevereiro 12, 2006

Histórias...

Debaixo duma cama existe uma caixa de cartão azul. O azul é parecido com o chamado "azul petróleo", aquele azul forte. A caixa foi montada de acordo com um pequenito livro de instruções. A unir os seus vértices e arestas estão umas pequeninas molas pretas que encaixam, uma por dentro, outra por fora. Estas duas partes são "almas gémeas", feitas à medida para que encaixem perfeita e totalmente, uma na outra. O cartão, as molas e a cor fazem com que a caixa se distinga das outras que guarda debaixo da cama.
Dentro duma caixa azul petróleo de cartão, debaixo de uma cama, estão outras caixas, umas mais pequenas, outras maiores. Quando se abre a caixa azul, entra nas narinas um cheiro de recordações. Como quando se espreita uma gaveta que já não se abre há muito tempo ou quando se vai a um sótão onde os velhos livros ou as roupas antigas se amontoam.
Aquilo que está dentro daquela caixa azul debaixo da cama não é intrigante, surpreendente, nem tão pouco suspeito. Reservado apenas a quem a conhece, a caixa azul encerra em si várias preciosidades: cartas, bilhetes, papel de embrulho já utilizado, pequenos presentes.
Se falasse, aquela caixa azul petróleo poderia ser uma bela contadora de histórias. Porque dentro de si há muito mais do que um amontoado de papéis.
Numa breve vista de olhos pelo seu conteúdo, seria possível ficar a par de segredos, sonhos, decepções, gostos, ódios, anseios, desapontamentos.
É possível que só através das palavras escritas e das coisas materiais se possa fazer a história? Não se conhece nenhum poeta que não tenha deixado nenhum poema escrito, nem nenhum músico sem alguma melodia editada, nem pensadores, nem escultores, nem ninguém que seja conhecido apenas porque alguém o conheceu. Será preciso encerrar aquilo que se sente numa materialidade para que possa efectivamente existir, reunir tudo o que se sonha numa "colectânea de sonhos" para que se tornem passíveis de realizar? Porque não basta sentir, dizer, comunicar, transmitir? Porque tudo tem de ser escrito para existir? Afinal a História é mesmo feita de uma sucessão de acontecimentos que foram vistos, interpretados, narrados e transmitidos e ficaram para a posteridade, para que alguém os pudesse sentir de determinada forma. Não da maneira que aconteceram, porque por mais perfeito que seja o escritor, historiador ou romancista, aquilo que relata já tem a sua subjectividade; mas de uma maneira que tentasse recriar o que aconteceu na realidade, para que o leitor possa entendê-la.

Serão os amores impossíveis aqueles que realmente existem por serem aqueles que fazem a história? Afinal todos conhecemos histórias que contam sagas de amores proibidos nas quais dois apaixonados lutam por um amor difícil de concretizar e acabam por cair inevitavelmente nas malhas de um destino cruel.

A caixa azul, debaixo da cama, conta-me uma história de amor. Ela não se lembra bem como começou...conhece-a apenas, ainda que como a palma da sua mão. Sabe-a com um começo, muitas quedas, abraços e recomeços. Sabe-a forte, diferente do início e simultaneamente quase inalterada. Conhece-a pequenina, com bilhetes, sorrisos tímidos, mãos tímidas, olhares tímidos e todas as timidezes características de um início de uma história de amor que se preze. Conhece a sua evolução, as zangas, os tropeções, as lágrimas. Não se pense que a pequena caixa - tão pequena ao lado de tão grande história - apenas conhece tristezas. Deixem-me contar que conhece muitos sorrisos cúmplices, gargalhadas de manhã, à tarde e à noite, sonolentas, com preguiça ou animadas, meios-sorrisos e sorrisos-inteiros. Conhece caminhos, pegadas, corridas. Conhece muitos, imensos beijos, abraços, festinhas. Conhece canções, filmes, trabalhos. Jantares, almoços, lanches e ceias.
- "Conhece-te. Conhece-me." E nós a ela.
Alguém pôs uma história dentro de uma caixa. Afinal as histórias são as interpretações que restam de vivências não pacíficas. De coisas que nos acontecem e nos marcam. Sonho um dia poder contar esta história num livro. Não para que faça História mas para nunca me esquecer que assisti a ela da primeira fila, desde o primeiro dia.
Das histórias que se contam ficam breves memórias de grandiosos sentimentos e emoções que quase não couberam no corpo de tão grandes e fortes. O que interessa, sem sombra de dúvidas, não é relembrá-las, mas vivê-las.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Impotências

Quando vi o médico sair da sala do exame, temi as notícias. É incrível como, perante tão grandes emoções nos apercebemos tão fácil e rapidamente da nossa pequenez. Impotência.
Senti-a chorar, asssustada. Eu, preocupada, não podia fazer nada senão esperar que acordasse efectivamente. Os gritos. O choro. O gemido. As lágrimas. Tudo me fez crer o quanto sou pequena, mesmo para parar o sofrimento de uma pessoa da qual tanto gosto.
A espera pelo fim da anestesia foi longa e demasiado silenciosa. Chorei no corredor, nas escadas, num abraço ao meu pai, sentada na cadeira do quarto, encostada à Zoca enquanto subíamos as escadas. Sofri. Passou. Felizmente tudo correu bem. A minha Mi já está em casa. Não quero é usar a expressão "Pronta para outra!". Não a desejo mesmo. Causa-me repulsa.
Deixei-a quase em casa e dei comigo a fazer uma surpresa. Carro. Uma hora e meia. Comboio. Uma hora. Taxi. 15 minutos. A pé. 25.
A esperar não desesperei. Afinal, quem corre por gosto não cansa e decidi, apesar das oposições, vir despedir-me dele ao aeroporto.
Partiu para Paris cerca das 7e40 da manhã. Levou uma mala muito bem feita, uma mochila a abarrotar, um coração cheio de expectativas, ainda que visivelmente apertadinho pelo medo.
Vi-o sem pestanejar.
Estás em Paris e eu em Lisboa. Foste há cerca de doze horas e desejo que voltes a cada momento. Espero sinceramente que passe depressa.
Check-in, portas 21-23; embarque, porta 16. Excitação, medo, ansiedade, expectativa. Tudo aquilo que vi nos teus olhos deve ter-se reflectido também nos meus. Afinal partilhamos os mesmos anseios já lá vai muito tempo.
Estou a sofrer. Telefonaste desiludido. Triste. Não quero confessar que tinha pensado nisso. Afinal, quero que tenhas em mim uma fonte de confiança e de optimismo. Mas sofro, porque a distância acentua todos os medos que temos em comum. E daqui, não posso abraçar-te como faço sempre que te sinto triste, nervoso, angustiado. Ou simplesmente quando me apetece.
Não gostas da residência. Queria dizer-te que não é o fim do mundo. Que tens de ser forte. Que daqui a uns dias nem vais lembrar-te. Com isto não quero que sintas que não dou importância ao que sentes. Gostava que me sentisses sempre ao teu lado. Foi isso que te quis transmitir, sempre. Podes contar sempre comigo. Não reclamo para mim compreensão, calor, arrependimento. Quero que saibas que estou aí. Não aqui como de costume, mas aí, contigo. Sofro por não poder ligar, mandar mensagem, falar contigo na Internet nem poder ver-te. Sei que não sou a única. Por isso te digo aqui lindo...porque as alternativas que tenho são poucas e a única esperança que me resta é que te lembres de ler o meu blog. Neste momento é o máximo que posso fazer. Quero falar contigo, quero sentir em ti que acreditas que amanhã, no segundo dia, vai de certeza ser melhor. Anima-te... não te deixes ir abaixo. Sei que precisas...eu estou aqui. Não tenhas medo.

(Desculpa ter exposto tudo isto a quem quiser ler mas não aguentava mais. Beijo só para ti* DTDQSPT). Volta depressa.

terça-feira, janeiro 31, 2006



Coração nas mãos

O coração dela bate, bate, bate. O batimento é regrado, muito regular…pumpum, pumpum…
Aumenta quando o aparelho se aproxima. É um cone que tem na ponta uma esfera. É-me familiar desde que aquela pequenita nasceu e se tornou o ser mais importante da minha vida. Adoro-a tanto que nem eu mesma sei explicar e medir o quanto. Adoro-a desde que a vi…desde que a senti na barriga ondulante da minha mãe (desde aquela vez em que levantou a camisola que sujava sempre durante o almoço e vi uma onda, imaginei um bebé a pontapear as paredes do útero, a refilar connosco por não lhe darmos atenção)…desde que a imaginei.
Basta imaginá-la para sorrir, para sentir tudo de todas as maneiras. Saudades quando estou longe, alegria quando me faz rir, tristeza quando penso, ainda que num segundo, em perdê-la.
Esta distância que tento manter quando falo de alguém talvez seja apenas uma defesa para estes textos não parecerem apenas cartas dirigidas a um alguém determinado à partida.
Mas hoje é a ti, minha queridinha, que quero dedicar este humilde e sentido texto. Gostava de poder estar contigo aqui, ali, não interessa, num sítio qualquer. Gostava que te aninhasses como só tu sabes e me aquecesses a cama dez minutos antes de me deitar. Que me abraçasses e sentisse o teu coração, a tua pequena-grande coragem (porque és a mais corajosa que conheço) junto a mim.
Mas tu não estás aqui. E sinto o medo que te faz ter tiques. Porque és pequenina. Tens medo do escuro, medo de ficar sozinha, medo que te esqueçam, que não se lembrem, que não te dêem a atenção e o mimo que sei que (apesar de ser) nunca é demais.
Hoje estás com a mamã no hospital e a mana está aqui preocupada, a sofrer ao ver-te sofrer, quase a chorar por estares tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Claro que não é só por ti. Porque tenho a certeza que serás muito bem tratada e que tudo correrá bem. Mas só de pensar que num dia, muito muito longínquo te posso perder, dá-me vontade de correr para ti, dar-te beijos e passar o dia a abraçar-te, não te largar mais, e nunca mas nunca esquecer o cheirinho a bebé que todos aqueles que me conhecem têm conhecimento, só de me ouvir falar dele.
Adoro-te mais que demais…Mia. Não te preocupes (meu bebé para sempre)...a mana promete que vai correr tudo bem.

segunda-feira, janeiro 30, 2006



Mais um...

Este blog já me parece - o que dirão os meus leitores... - um cantinho publicitário. Mas a minha irmã Zoca não gostou da publicidade que dei ao blog do João e reclamou a promoção do seu espaço nestes modernos cantinhos de escrita. Quem quiser ler os textos que escreve, aceda ao seguinte blog: www.mitete.blogspot.com. (Agora um comentário à parte...ela ainda vive na ilusão de pensar que o meu blog-cujo-nome-ninguém-consegue-pronunciar-correctamente, é famoso!!Santa ingenuidade!!).

domingo, janeiro 22, 2006


Novo Blog...

Só para avisar todos os que acedem a este meu humilde e singelo blog, que o meu melhor irmão - e este elogio não é só por ele ser efectivamente o único - também aderiu a esta modita e criou o seu próprio espaço de escrita, divagação e crítica. Para aqueles que estiverem interessados em dar uma espreitadela, comentar ou simplesmente passar por lá e ver como é, aqui fica o endereço: www.chaimeoniu.blogspot.com

Costa Nova...a minha Velha Praia

Hoje fui à Costa Nova do Prado, a minha praia de eleição e onde volto sempre que posso. As casas às riscas, o cheiro a mar, o som das gaivotas, das ondas, as tripas com chocolate...tudo me é familiar. Muito.
Sempre que posso, sonho com uma casa, nessa praia, à beira-mar. Sempre que posso vou à praia, ver o mar, sentir a areia debaixo dos pés, ouvir o vento soprar baixinho e as ondas bater na areia e nas rochas do paredão.
Quando volto para casa, sonho com o regresso, com tudo aquilo que a Costa Nova já me trouxe, com todas as recordações que tenho desta praia, com tudo aquilo que penso vir ainda a viver nela.
Hoje na Costa Nova, tentei agarrar o sol...com o desejo de que possa aquecer os meus dias quando os sinto mais frios e mais cinzentos. Isto enquanto Agosto não chegar.

quarta-feira, janeiro 18, 2006


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Agora que tudo acabou posso finalmente escrever, sentar-me, pensar, esclarecer-me, passar o lápis no papel...e escrever. Estou oficial e finalmente de férias!
Milhares de ideias passaram na minha cabeça e a única coisa que ficou (apercebo-me agora) foi essa sensação. Tudo o resto se foi com a vontade que tinha de o fazer. Refuto a minha "famosa" frase "Fechada para Balanço (porque não tenho tempo)". Não é disso que se trata (ou será que é?). A emergência dos pensamentos no cérebro, que me ligam directamente ao meu coração, afligem-me cada vez mais. Como os tremores de terra (do coração, quando te vejo).
Balança a minha alma. Ao longe caminhas na minha direcção, tudo pensado, duvidado e repensado, dissecado, como só tu sabes fazer.
Atravesso o corredor. Avalio. Tremor. Balanço: incerto. Turvam os olhos, o batimento acelera. Músculo que nunca se cansa.
É difícil, impossível recordar tudo aquilo que faz parte dos meus dias, aquilo que marcou os meus anos. É importante lembrar os grandes momentos, aqueles que ninguém esquece, mas também aqueles que teimam em aparecer nos mais íntimo dos pensamentos, por mais pequenos que sejam. Aparecem porque significaram muito mais do que aquilo que poderia suspeitar.
O último ano foi cheio de tudo. Há para todos os gostos. Quando estou bem disposta, triste, nervosa, totó, apaixonada, derretida, enciumada, impaciente, mal educada, simpática, má, egoísta, (in)flexível. Cada um é um misto de tudo e de coisa nenhuma.
Queria falar de tudo. Descrever com a mesma frescura, os mesmos pormenores, a mesma nitidez, tudo aquilo que me fizeram ver, sentir, experimentar. A frescura de uma brisa à beira-mar, o calor do fim de um dia de Verão, a suavidade de um “edredon” numa madrugada de Dezembro, o disparo de uma máquina que capta o momento e faz o tempo parar, o toque de uma chamada ansiada, o murmúrio de um “Adoro-te” dito-não-dito, o silêncio de um abraço, o bater de um coração. Tremor. Vejo o teu peito tremer. Aquilo que mais ninguém vê porque insisto em esconder com medo que desapareça. Sinto-o tão plenamente como se fosse agora.
Preciso viver para recordar aquilo que está nas entranhas, o que não vi, o que não quis ver, aquilo a que fechei os olhos. As histórias devem ser contadas como as notícias, no momento. Porque o tempo passa e o sentimento, por mais perene que seja, altera-se. Pensa-se e altera-se. Repensa-se e altera-se. E depois as histórias nunca são o reflexo exacto daquilo que foram realmente, o relato nunca é igual àquilo que se sentiu.
Os 21 atraiçoam-me. Os dias confundem a memória que se dissemina, se difunde e se perde em todas as palavras ditas e em todos os olhares lançados.
Temo não me lembrar já de todos os sentimentos – claro que não – que me invadiram durante este ano. Durante o mês que passou. Nem mesmo os do dia de ontem. Lembro-me que todas as experiências são coisas irrepetíveis e intransmissíveis e por isso não vale a pena tentar fazer perceber aquilo que sinto. Vê-se nos olhos. Nas palavras. Naquilo que sussurras e que pensas que de tão baixo, eu não ouvi. Nos 21 que me atraiçoam. Nos tremores de terra.
A terra tremeu outra vez. Várias vezes. Disseram-me. Ao que parece em dias diferentes mas horas iguais. É sempre à mesma hora. Uma. A primeira hora do dia. Parece que o dia começa quando a terra treme.
Legítimo?Como só tu sabes...sinto falta...e mais não digo.

sexta-feira, janeiro 13, 2006


Tempo voa...

Não tenho tido tempo.
Não tenho mesmo.
Aconteceram tantas coisas, a vontade de escrever é tanta e não tenho tempo. Pode parecer mentira mas não tenho mesmo. "O tempo urge e o círculo não é redondo". Grande máxima para quem o tempo é tão importante e para quem se preocupa tanto em aproveitá-lo ao máximo. Planos, horas, momentos, sonhos. Os dias sucedem-se e o tempo não pára... Não pára mesmo."Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.". Milésimos, segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos. 21 anos. (Que depressão!!). Que faço eu aqui? A urgência de ter que fazer arrepia-me quando penso no pouco tempo que tenho. Dia, noite, dia, noite, passam, como o tique-taque do relógio que não me deixa adormecer."Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes."Lembro os momentos, os instantes, tudo aquilo que senti. Flashes de recordações que aparecem sem pensar, sem querer, sem tempo para mais. Respiro. Apago a luz. Fecho os olhos. Penso. O tempo pára para mim. Adormeço. Toca, toca, toca, toca-me. Acordo.
Mas o tempo não parou. "Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive". Nunca pára.