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sexta-feira, dezembro 05, 2008

Cru

Há restos pelo chão. Coisas que não consigo decifrar, que não tenho capacidade para descodificar, palavras que não reconheço. Caíu-me no esquecimento a vontade de fazer mais e melhor, e só ela me permitiria fazê-lo. Perdi a noção da realidade e vejo agora as coisas em tons cinza, sem reconhecer as cores verdadeiras, sem compreender o belo e o feio, a verdade e a mentira, sem distinguir o meu e o teu. Tudo se confunde nos pedaços espalhados pelo chão. Tudo se tornou uma marcha fúnebre que se arrasta por uma enorme avenida e dá voltas sem fim. Caminho circular que não conheço, não domino, e tão pouco me apercebo da sua existência. Sou o corpo da alma desfeita. Aquele triturado, torturado, açoitado, dormente. E quando entro em casa, naquele que devia ser o refúgio, vejo restos que nem sequer sei se são os meus. São pedaços de uma matéria viscosa, que cheira já a môfo por ter estado tanto tempo fechada. Peças de um puzzle que foram durante anos 'protegidas' por uma redoma de vidro. Agora que o fogo fez quebrar o revestimento, é hora de decidir o que fazer. E servir o prato. Cru.

2 comentários:

Margarida Amaral disse...

Adorei o texto! revejo-me nele :)
Gosto da mneira como escreves!

QT disse...

óptimo "prato"..CRU.

Gosto da maneira como escreves.Este texto não é excepção..mas está excepcional..=)

Continuação de boas escritas.

Bj