Sentia a fragilidade humana, e não conseguia com a cabeça. Estava pesada como nunca, e possuída por uma dor miudinha que até então desconhecia. Encostada ao sofá, sentia espasmos de tempos a tempos. Então o corpo entrava em dormência, como se o tempo parasse por instantes e voltasse a acordar com um novo movimento desritmado, incontrolável. Não conseguia agir, reagir, sequer pensar. Sentia a cabeça pesada e sem controlo, sem rumo. Doía-lhe a alma, o corpo. As articulações. Tentou levantar-se mas a dor empurrou-a, projectou-a novamente. Sentiu o coração tremer, parar, e retomar o batimento. Enroscou-se mas as mãos gelaram num mero instante, não conseguia articular uma palavra, pedir encosto, gritar por ajuda. Da boca, apenas ar, e já isso - percebia agora - era quase um milagre. Deu-se conta de que o seu corpo estava coberto de feridas, de crostas, de buracos por cicatrizar. Lembrou-se das quedas em tantos dias que não conseguia recordar exactamente quantos. Quedas sucessivas que impediam a cicatrização das feridas, quedas que a certa altura impediram que se levantasse e retomasse a marcha. Agora, prostrada, frágil, dormente, dorida, sentiu que por mais que tentasse, que quisesse, que insistisse, nunca poderia voltar a levantar-se sozinha.
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